O RIACHO DO BALDO E A VILA



O Riacho do Baldo e a Vila

 

Ah, se me lembro

Daqueles meus oito anos...

Nas tardes de domingo,

Meu pai andando na frente,

Levando o menor pela mão,

Atrás os outros irmãos e o cachorro,

Correndo pro riachão

 

A gente morava na Vila,

Lustosa, se não me engano,

Na casa número um.

Casa pequena, quatro pirralhos, um cão,

A mãe exausta resmungava:

Ah! Leva eles pra brincar, leva pro riacho,

O calor está de rachar!

 

Em volta do riacho,

Na areia fria e branquinha,

Entre os pés de capim santo

A meninada se espalhava.

Das águas limpas, quase geladas,

Unido ao som das cigarras,

Lentamente um canto soava: oooaaa...oooaaa...

 

A tarde escurecia

E voltava a meninada,

O pai e o cachorro. Na escadaria

Da calçada, de longe a gente sentia

O cheiro do pão torrado, do café passado,

E da tapioca com côco

Que mamãe fez pra nós.

 

Como me lembro daquela vila!

De “seu” Pasteur, que criava galinhas...

Se alguém o chamasse de “seu Pastel”,

Ele se danava!

Da dona Margarida, que tinha cem anos,

Era filha de escravos, vivia no escuro

Porque não gostava de luz elétrica.

A casa dela não tinha luz.

 

Mas tudo passou, o horto já não existe,

Acabou. O riacho..., que riacho?

Tá lá, coitado, feio, resignado, um filete d`água.

Fazer o quê? A fonte não secou...

Arrasta-se tristemente

Embaixo de um viaduto.

Não vê mais o céu,

Não vê mais o sol,

Não canta mais.

Tudo passou...

 

 

Junia – Dez/2008


Autor: JUNIA PIRES FALCAO


Artigos Relacionados


Amiga Raquel

Feliz Anivers�rio

Me Leva...

A Qu�mica Do Olhar

Amarras

Enquanto H� Tempo.

About Me