Transtorno Do Déficit De Atenção E Hiperatividade Na Educação Infantil



RESUMO 

Este artigo tem por objetivo alertar os professores sobre o TDA-H que é considerado um distúrbio infantil muito comum e, com bastante freqüência, prejudica o rendimento escolar, mesmo que em alguns momentos a criança demonstre ser capaz de aprender, e pareça ser inteligente. Evidentemente, existem diversas outras razões para que uma criança mostre baixo rendimento escolar, como dificuldades emocionais, baixo nível intelectual, dificuldades de leitura, dificuldades auditivas ou visuais etc., mas o TDA/H é tido como uma causa importante de fracasso nos estudos. Os diversos estudos realizados têm demonstrado que esse transtorno ocorre em cerca de 5% das crianças, em um índice semelhante foi encontrado em pesquisas realizadas em países diferentes por autores independentes uns dos outros. Não parece então ser uma característica de comportamento apenas dessa ou daquela cultura, desse ou daquele modo de vida. Alguns estudos afirmam que esse transtorno é mais freqüentes em meninos que em meninas, mas o que se sabe também é que nas meninas a hiperatividade geralmente não é tão acentuada quanto nos meninos, e por isso elas perturbam menos em casa e na escola, sendo menos facilmente identificadas como apresentadoras desse problema. Imaginamos que a professora vai ter sua atenção despertada facilmente pelo menino inquieto, falador, que perturba sempre as aulas, que não faz seus deveres de casa, e essa mesma professora não vai se sentir tão mobilizada pela menina quietinha, tímida, educada, que nunca faz perguntas, mas que vive nas nuvens durante as aulas. 

Palavras-Chave: Transtorno, hiperatividade e atenção. 
 

1. INTRODUÇÃO 

Tendo em vista que o TDA/H foi descrito pela primeira em 1902 por um pediatra inglês (George Still), que observou alterações de comportamentos em crianças, que, segundo esse médico não podiam ser atribuídas à falhas educacionais, mas pareciam ter determinante biológico incapaz de ser demonstrado. Desde que foi cientificamente descrito por Still até os dias de hoje, esse problema já recebeu diversas denominações. As denominações que foram mais conhecidas são: síndrome da criança hiperativa, lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, transtorno hipercinético.

Em 1980, a Associação Americana de Psiquiatra adotou oficialmente o termo Transtorno do Déficit de Atenção que, mais tarde (em 1994), foi atualizado para Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, significando o acréscimo da barra inclinada que o problema pode ocorrer com ou sem componentes de hiperatividade, inicialmente considerado o sintoma mais importante e definidor do quadro.

Podemos notar que algumas dessas designações anteriores (síndrome da criança hiperativa, transtorno hipercinético) priorizavam o fator hiperatividade, e outras (lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima) preocupavam-se com a possível causa biológica que deveria existir incapaz de ser detectada pelos exames complementares existentes. Atualmente, com a classificação atual da DSM-IV, empregam-se os termos Predominantemente Desatentos, Predominantemente Hiperativo-Impulsivo e Combinado, para descrever as três possibilidades (formas) de TDA/H.

Ainda nos dias de hoje, costuma-se falar de modo informal em “hiperatividade”, mas convém deixar claro que hiperatividade, inquietação, ou seja, o aumento da atividade motora, nem sempre está presente no TDA/H. Existem casos de crianças exclusivamente desatentas, desconcentradas, aquelas que vivem no mundo da lua, perdidas nos seus próprios pensamentos, e que não são muito inquietas. Algumas são até quietas demais. Mesmo sem terem nenhum sinal de inquietação, essas crianças também são consideradas portadoras do Transtorno do Déficit de Atenção. Por outro lado, a hiperatividade pode acontecer em muitos outros distúrbios psíquicos, não sendo, portando, uma marca característica da pessoa portadora do TDA/H. Só para exemplificar, uma criança ansiosa, sentindo uma expectativa por algo que está vivendo, digamos, a aproximação do nascimento de um irmão, pode ficar inquieta, desassossegada na sala de aula por alguns dias.

Uma outra criança pode chegar ao colégio mais agitada sempre que faz uso de seus remédios para asma. E nessas situações, como em muitas outras, a criança se mostra inquieta, hiperativa, mas não quer dizer de forma alguma que ela sofra do TDA/H. Diante desses simples e importantes exemplos, podemos concluir que o portador do TDAH tem todo o direito à educação, como forma de exercício de sua cidadania, eis que se trata de um indivíduo como outro qualquer, e que aos olhos da lei não pode ser excluído, estando ele na rede pública de ensino ou na iniciativa privada.

Aos olhos da sociedade, quem sofre do TDAH deve ser visto como um portador de necessidades especiais, entendidas estas simplesmente como meios alternativos que conduzem todos ao lugar comum, às mesmas coisas, ou seja, à cidadania. Caso haja algum empecilho na forma pedagógica ou até mesmo do meio utilizado para lecionar, entendemos que cabe ao educador proporcionar as adaptações necessárias para o normal desempenho dos alunos que necessitem de tratamento específico. 

2. CONCEITO 

O TDA/H é um distúrbio habitualmente de longa duração (frequentemente se estendendo até a idade adulta), e manifesta por três grupos de sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. É evidente que esses sintomas não são específico, que dizer, pode ser encontrado numa grande variedade de outros transtornos como também fazem parte da vida psíquica normal, em alguns momentos. Apenas para exemplificar, citamos o caso da criança que fica ansiosa com o nascimento de um irmão e passa a se mostrar inquieto, falante, descuidada com os deveres e desatenta na sala de aula, bem como aquela outra criança que, quando piora a sua asma, e faz uso de medicamentos antiasmáticos, fica inquieta e não rende bem nos estudos.

O que vai caracterizar uma criança com TDA/H é que ela, com freqüência, e não só uma vez ou outra, apresenta essas características de inquietação, desconcentração e dificuldade de segurar os impulsos. É preciso cuidado para não taxar de hiperativa qualquer criança que se mostra inquieta, sem antes procurarmos saber o que está acontecendo com ela o mais detalhadamente possível. Na verdade, o pensamento mais moderno é que o TDA/H não é simplesmente uma deficiência de atenção, como a denominação pode fazer pensar. Para ser mais preciso, a questão reside num comprometimento do desenvolvimento adequado da inibição e modulação das respostas, melhor dizendo, do autocontrole. 

“A tendência natural da criança pequena é dar respostas imediatas a um estímulo. Por exemplo, se um bebê vê algo que lhe atrai ele quer pega-lo. Só gradativamente a criança aprende, com a ajuda dos pais, a inibir a resposta imediata e ter uma reação mais adequada, por exemplo, pedir a coisa desejada, e assim evitar um atrito, com suas conseqüências negativas. A aquisição do autocontrole é algo que se processa lentamente ao longo do crescimento. Algumas crianças são mais rápidas para adquirir um bom autocontrole e outras são mais lentas, mas, de maneira geral, acredita-se que a maioria vai conseguir um razoável autocontrole” (ANDRADE, 2002, p. 38). 

A tendência natural da criança pequena é dar respostas imediatas a um estímulo. Por exemplo, se um bebê vê algo que lhe atrai ele quer pega-lo. Só gradativamente a criança aprende, com a ajuda dos pais, a inibir a resposta imediata e ter uma reação mais adequada, por exemplo, pedir a coisa desejada, e assim evitar um atrito, com suas conseqüências negativas. A aquisição do autocontrole é algo que se processa lentamente ao longo do crescimento. Algumas crianças são mais rápidas para adquirir um bom autocontrole e outras são mais lentas, mas, de maneira geral, acredita-se que a maioria vai conseguir um razoável autocontrole. O autocontrole implica também na capacidade da criança se dedicar a algo que pode não ser o mais atraente no presente, mas que promete uma recompensa melhor no futuro.

E estudar, convenhamos, não é, na maioria das vezes uma coisa que seja do maior interesse e prazer para uma criança. Mas podem se gratificantes para ela a aprovação dos pais, a nota alta e o reconhecimento dos professores, além da promessa de uma vida melhor num futuro distante. Essa capacidade de autocontrole é também denominada, em neuropsicologia de funções executivas, pois lembra as funções que um executivo desempenha numa empresa comercial ou industrial. Nas empresas, é importante que os diferentes trabalhadores saibam exercer bem os ofícios, mas isso não basta. Além da eficiência dos funcionários, é necessário que outro profissional coordene e promova a articulação, o trabalho de todas as partes (departamentos) da empresa, para que ele funcione com um todo harmônico e eficiente.

Atualmente, sabe-se que as funções executivas dependem principalmente do funcionamento de certas áreas cerebrais, em especial da parte mais anterior do cérebro, chamada de região frontal e suas conexões com algumas outras regiões. Alguns autores compraram o trabalho dessa área, e as funções executivas, com o papel do maestro de uma orquestra.

Os componentes da orquestra podem ser exímos músicos e seus instrumentos podem estar bem afinados, mas se faltar um componente, o conjunto não vai funcionar de forma coordenada a ponto de produzir um som adequado. Um elemento básico das funções executivas é a capacidade de inibição. Quer dizer, o primeiro passo é ser possível inibir a reação imediata para que se possa desenvolver um outro tipo de resposta mais adequada e amadurecida. Quando essa inibição é precária, a pessoa torna-se, então, anormalmente desinibida, um fato observado no TDA/H. 

3. Características da desatenção na criança.

A criança tem pouca capacidade de concentração, e com freqüência comete erros em trabalhos escolares e provas por puro descuido, não por desconhecer a matéria. Examinando a prova que ela fez, a própria criança por vezes é a capaz de apontar os seus erros e até se aborrece por ter cometido erros tão tolos. Ou a professora pode se espantar com os erros cometidos em matérias que a criança mostrava já ter aprendido. A mãe pode ficar irritada, pois no dia anterior a criança respondeu acertadamente questões parecidas junto com ela, ao fazer os deveres de casa, mas lá na hora da prova a criança não se atém exatamente ao que sendo pedido.

Todas as pessoas já tiveram a experiências de tentar ler ou estudar, quando estão se sentindo muito cansados ou sob uma tensão nervosa. Aí a atenção não funciona de forma alguma, a impressão que temos é que as coisas que a gente está lendo ficam confusas ou embaralhadas na nossa cabeça, até que a gente desiste e vai dormir ou fazer outra coisa. É exatamente isso que ocorre com quem sofre de TDA/H. O problema está no fato de que com essas pessoas isso é um acontecimento freqüente, do dia a dia, e com a gente isso só acontece quando tentamos ter concentração numa situação de cansaço, ou então de muito estresse.

É comum a criança com TDA/H perder a atenção no que o professor está falando, e ficar pensando em coisas bem distantes das aulas. Diz-se que “voa” ou “viaja” nesses momentos. Parece que vive nas nuvens ou na lua. Essa mesma perda constante de concentração é que dificulta a leitura de um livro recomendado pela escola. Com freqüência, ela precisa voltar a ler do inicio da página, pois é como se tivesse dado um branco no momento em que estava lendo um trecho.

Essa perda de atenção pode ser ocasionada por alguma coisa que desviou sua atenção, como a conversa de algum colega, ou então um estímulo mínimo, como uma borboleta que passou. Outras vezes, a perda da atenção pode ocorrer mesmo sem a contribuição de outros estímulos. Uma mãe disse de seu filho:  “ ele se distrai com os próprios pensamentos”.

A criança tem grande dificuldade de fazer os deveres de casa sozinha, porque se distrai a todo instante, interrompe, demora muito tempo, fazendo desses momentos verdadeiras batalhas entre mãe e filho. É natural que queira adiar essas tarefas, ou até chegar a ponto de esconder dos pais que existem deveres a serem feitos. Isso porque a criança sabe que para fazer os deveres vai despender um esforço muito grande, quase sempre com pouco êxito. 

“Os pais sabem que a criança só funciona sob pressão, no que diz respeito a deveres de casa ou estudar para provas. Essa pressão pode ser a pressão de um dos pais ou a pressão do tempo, quer dizer, quando percebe que não tem mais quase tempo suficiente para fazer determinada atividade que vai redumdar em prejuízo, como numa prova. Aí é capaz de estudar até tarde, na véspera do exame. E isso acontece em conseqüência do habito que ela tem de adiar as tarefas que exigem concentração”. (MATTOS, 2001, p. 28). 

Outras vezes, quando a criança está fazendo algo que é do seu interesse, como ver TV, jogar videogame etc., ela é capaz de ficar tão concentrada que parece não escutar se for chamada. Isso quer dizer que a criança com TDA/H é capaz de ficar hiper-concentrada (se estiver interessada) ou então ficar bastante desconcentrada (quando não se sentir atraída pela tarefa). Para muitos pais e professores, isso cheira a malandragem, ou capricho. Costuma-se dizer; “ela só faz o que quer”, ou “só faz aquilo que gosta”. É verdade, só que não é exatamente por capricho:

Até certo ponto, todas as pessoas funcionam dessa forma. A diferença é que as pessoas que não sofrem de TDA/H podem voluntariamente forçar a atenção e conseguir algum grau de atenção quando precisam fazer alguma coisa que é dever e não prazer.

É facilmente distraída daquilo que está fazendo. Por exemplo, basta que alguém chame seu nome ou que ocorra um ruído diferente para que se perca quase completamente da tarefa que estava realizando, em especial se era uma leitura ou aula.

É em geral muito desorganizada com seus pertences e na maneira com que tenta fazer as coisas. É verdade que para crianças e adolescentes a organização não é o ponto forte delas, mas as crianças e jovens com TDA/H são bem mais bagunceiros e desorganizados. Costumam deixar um rastro dos seus pertences por onde vão passando, e logicamente quando precisam de um desses objetos não se lembram onde os deixaram.    Perdem objetos escolares, óculos, e ás vezes até sapatos que foram tirados para uma pelada no recreio. Não raro chegam a casa sem alguma parte do vestuário. A desorganização da criança com TDA/H é uma fonte de aborrecimento para os pais e professores. Ela é capaz de escrever a matéria de matemática no caderno de ciências guardar a roupa suja no meio da roupa limpa, ou coisas parecidas.

Algumas crianças com TDH/A têm grande dificuldade em dar a partida para realizar qualquer coisa, parecem lentas, sem energia. Demoram a acordar e até parecem sonolentas. Já outras começam as coisas rapidamente, mas também logo abandonam o que começaram para fazer uma segunda atividade, que por sua vez dificilmente será completada. 

4. Características da hiperatividade na criança 

A criança é muito ativa, inquieta, tem dificuldade de ficar sentada na sala de aula, ou numa missa. Quando é forçada a ficar sentada, como acontece na escola, se revirando na cadeira o tempo todo, ou então adormece. Crianças pequenas não andam, vivem correndo, sobem nas cadeiras e nos móveis da casa. As mães nos contam que quando aprenderam a andar elas já começaram a correr, e não andaram mais. Dão cansaço nas babás e nos pais, pois parece que sua energia é inesgotável. São elétricas vivem a mil como afirma Cabral; 

“Algumas continuam com essa inquietação até mesmo durante o sono, pois quase todos os dias o travesseiro e as cobertas amanhecem no chão. Outras parecem que apagam subitamente, “é como se tivessem morrido”, tão profundo é o sono. Não raro, demoram a pegar no sono, porque a pilha não se esgota cedo, e também por vezes demoram a despertar pela manhã, indo para a escola sonolentas e permanecendo assim nas primeiras aulas”.(2003, p. 54). 

A criança fala muito, muitas vezes não sabe falar em tom de voz baixo, é barulhenta, e a ponto de perturbar a classe e ser frequentemente advertida pelas professoras. Mas, incompreensivelmente, não se corrige, apesar de ser até carinhosa e demonstrar arrependimento pelo mau comportamento. Essa é uma causa freqüente de frustração e desespero para os professores que, no íntimo, consideram-se falhando como educadores, ou então buscam nas dificuldades emocionais dos pais a explicação para esse comportamento tão difícil de ser modificado.

Dificilmente consegue brincar sossegadamente. Suas brincadeiras preferidas envolvem movimento, atividade. Curiosamente, videogames e jogos eletrônicos em geral atraem bastante essas crianças, pois na verdade esses jogos implicam um bom grau de atividade, para elas que jogam. Ao mesmo tempo, esses joguinhos proporcionam sempre um ganho imediato, a pessoa vence ou não vence rapidamente, o que se encaixa bem para o perfil de quem tem TDA/H. 

5. Características da impulsividade na criança 

A criança não consegue esperar com paciência sua vez, seja em jogos, filas etc. Costumamos dizer que esperar é um verbo desconhecido para a criança que tem TDA/H. Uma criança mal entrou no carro para uma viagem perguntou aos pais se ainda faltava muito tempo para chegarem ao local onde iam passar as férias.

Ela falta quando deve, interrompe as pessoas, responde sem ouvir a pergunta por inteiro. Muitas vezes revela falta de tato, dizendo coisas inadequadas, que saem de supetão. Ao encontrar sua mãe conversando com uma vizinha, uma criança disparou essa pergunta: “Não é ela que a senhora diz que é cafona para se vestir?”. Por vezes até se dá conta da mancada que deu, e pede desculpas, mas outras vezes é a mãe que adverte a criança do que ela não deveria ter falado. Alguém já comparou essas crianças a um carro ou uma bicicleta sem freio.

Como não pensam antes de agir, podem ter pouca noção de perigo, e por isso sobem em locais perigosos, machucam-se com freqüência. Para se julgar que uma situação envolve perigo, a mente da criança precisa parar por um instante e imaginar as possibilidades futuras de um ato qualquer. A criança impulsiva age antes de pensar, como também fale sem pensar, e só depois do ato feito é que perceberá o que fez.

Algumas dessas crianças são freguesas dos serviços de urgência, de tanto que sofrem fraturas ou todos os tipos de acidentes, da escada, da bicicleta, dos patins, e ás vezes até mesmo por ingestão inadvertida de um medicamento pertencente à outra pessoa da casa.

Têm baixa tolerância à frustração, não suportam uma resposta negativa. Insistem tanto quando desejam algo que lhes foi negado, que muitas vezes os pais se sentem vencidos pelo cansaço. O que, aliás, é péssimo do ponto de vista do aprendizado de comportamento, pois quando os pais cedem diante da insistência da criança, depois de terem inicialmente negado alguma coisa se desejado, e da próxima vez que a criança desejar algo ela já vai sabendo, conscientemente ou não, que é uma questão de um pouco mais de insistência que ela tem de fazer antes de conseguir o seu objetivo.

A criança impulsiva pode apresentar reações de curto-circuito. Faz parte do quadro clínico do transtorno uma regulação não muito adequada das suas reações emocionais. Essas crianças explodem com facilidade, é como se tivessem o pavio curto. Algumas parecem nem ter pavio. Mas uma característica dessas reações emocionais da criança com TDA/H é que essa reação desaparece com a mesma facilidade com que apareceu (ANDRADE, 2002). 

6. Evolução 

Até poucos anos, suspeitava-se que no final da adolescência os sintomas do TDA/H iriam regredindo com ou sem tratamento, e que o adulto ficaria livre das características que apresentava quando criança. Mas diversos estudos recentes comprovaram exatamente o contrário:  

A questão é que as características do distúrbio vão revelando aparências diferentes, de acordo com as diversas faixas de idade. É fácil entender que uma criança hiperativa corre de um lado para outro, sobe nos móveis, está constantemente pulando, mais do que as outras crianças da mesma idade. Já o adolescente e o adulto hiperativos irão exteriorizar a hiperatividade de uma forma diferente, mais de acordo com as suas respectivas idades. Não podemos esperar que um adolescente ou um adulto hiperativo vá continuar correndo, subindo, pulando, como ele fazia quando era criança. Nos jovens e nos adultos, costuma predominar uma sensação interna de inquietação, mais do que um excesso de atividade facilmente percebida exteriormente.  

7. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO 

O diagnóstico do TDA/H é eminentemente clínico. Nesse ponto concordam os renomados especialistas sobre o tema. Por diagnóstico clínico entende-se que não dependemos de nenhum exame complementar para fazer a avaliação e responder à questão se a pessoa apresenta ou não o transtorno (MATTOS, 2002, P. 52).

Segundo (MATTOS, 2002) as pesquisas científicas utilizam muitos exames para explorar o cérebro das pessoas com o TDA/H, mas de forma alguma se pode pensar em utilizar esses exames quando estamos fazendo uma avaliação diagnóstica na prática clínica. Até os dias de hoje nenhum exame é capaz de afirmar, ou descartar, a presença do TDA/H. Até mesmo os testes psicológicos não são mais fidedignos do que a observação clínica. Algumas pessoas se sentem inseguras diante dessa afirmação, mas é importante lembrar que é da mesma forma que são feitos quase todos os diagnósticos de transtornos psíquicos. Só para exemplificar, não recorremos a exames complementares para diagnosticar um transtorno do pânico, uma fobia social, ou um transtorno bipolar.

Quando se fala em diagnóstico clínico, pensamos numa avaliação que engloba um relato minucioso colhido com uma ou mais pessoas próximas, uma entrevista com a pessoa avaliada, e a observação dela em situações da sua vida normal. Para ajudar as entrevistas, podemos usar questionários ou escalas de avaliação, que nada mais são do que perguntas sobre determinadas características que a pessoa que avalia confere uma pontuação maior ou menor para cada característica pesquisada. No caso de crianças e adolescentes, as informações dos professores são de inestimável valor,

As agendas de anotações escolares são de grande utilidade, porque muitas vezes retratam fielmente as características do TDA/H. Quando se trata de avaliar adultos, os parentes próximos e os conjugues ajudam muito com suas informações, e sempre precisam ser ouvidos. Uma história familiar deve apontar a existência de casos similares em outros membros da família, muitas vezes em um dos pais. Não é raro um dos pais dizer que o filho é exatamente como ele era na infância sem, contudo, o pai se dar conta de que ele então é ou era portador do mesmo transtorno. Exames complementares são importantes, quando o profissional está investigando a possibilidade de a criança apresentar um outro problema associado ou alternativo em relação ao TDA/H. Testes neuropsicológicos são úteis para esclarecer se a criança apresenta dificuldades especificas de aprendizado, se apresenta problemas com o nível intelectual, ou também para avaliar outros transtornos psiquiátricos. 

8. Critérios diagnósticos 

Para se fazer o diagnóstico de qualquer transtorno é obrigatório para uso de critérios oficialmente aceitos pelos organismos científicos. Duas são as entidades que estabelecem critérios diagnósticos em psiquiatria, a organização Mundial de Saúde e a Associação Americana de Psiquiatria. Considerando que a grande maioria dos trabalhos com TDA/H tem sido realizada nos EUA, os critérios diagnósticos mais frequentemente empregados têm sido os que a associação Americana da Psiquiatria preconiza, através de uma publicação intitulada Manual de Diagnóstico. Os critérios gerais do DSM-IV são os seguintes:

A pessoa deve apresentar essas características constantemente, como um padrão de comportamento e não como uma ocorrência eventual em algum momento da vida. Quem convive com essas pessoas costuma dizer que elas sempre forma assim.

Quer dizer, se alguém passou a apresentar essas características depois de adolescente ou adulto, não se trata de TDA/H, mas provavelmente de algum outro transtorno. Além disso, é necessário que esses sintomas tenham uma intensidade e constância tal que passa a existir um comprometimento do funcionamento da pessoa sem mais de uma área de atuação, como na casa, na escola, no trabalho, ou na vida social. Por ultimo, para se fazer o diagnóstico de TDA/H exige-se que sejam excluídas outras causas que bem justificariam a presença daquelas características. 

9. CONSEQÜÊNCIAS DO TDA/H 

As conseqüências do TDA/H pode ser gravidez precoce, abuso de álcool e drogas, reprovação escolar, acidentes, problemas com a lei, dentre outro. Podemos compreender que uma pessoa que vive com os sintomas do TDA/H sem ser identificado como possuindo um transtorno que merece um tratamento é um forte candidato a sofrer de conseqüências desfavoráveis na sua vida, que irão se modificando de acordo com a etapa da vida. 

10. Conseqüências na infância problemas na escola e no aprendizado 

A criança com TDA/H Apresenta um mau rendimento escolar, embora tenha capacidade de aprender.

“... O aprendizado é prejudicado pela pouca dedicação ou pela má qualidade da dedicação ao estudo, e não por um problema propriamente de aprendizado, que é outro problema distinto, mas também pode coincidir com o TDA/H EM 20-25% dos casos” (ANDRADE, 2002: 65). 

Outras vezes uma criança pode ir mal aos estudos escolares, mas quando se trata de um outro tipo de aprendizado, por um assunto que lhe atraia, por exemplo, computador, mecânica, ou artes, é capaz de mostrar todo seu potencial capacidade de aprender. Essa situação deixa os pais perplexos, pois se ela é capaz de aprender tão bem nessa outra área, como é possível que demonstre um rendimento tão baixo na escola, os pais se perguntam. A realização das tarefas escolares de casa é uma fonte de grande estresse para os pais e para s crianças.

A criança para a todo instante, desvia-se do trabalho, levanta-se para fazer outra coisa qualquer, ou se perde no meio da tarefa, e fala um outro assunto que não tem nada a ver com o estudo. Quando os pais não têm tempo de acompanhar a criança nessa tarefa, o mais comum é que ela não faça ou faça pela metade essa atribuição de casa. Quando a criança entra na adolescência, os pais se preocupam que ela seja muito “dependente”, porque só consegue fazer a tarefa de casa sob a supervisão ou mesmo sob pressão deles. Mas podemos entender agora que não se trata de uma questão de dependência psicológica, mas sim de uma dificuldade de concentração, aliada quase sempre a dificuldade de parar.

Os problemas escolares aumentam no curso secundário à medida que mais se exige capacidade de auto-organização. Adolescentes costumam escamotear as tarefas domésticas ou simplesmente copiar dos colegas na hora que antecede as aulas.

Uma das mais importantes áreas de prejuízo diz respeito às habilidades sociais e ao relacionamento com os seus pares. A intrusão e por vezes a agressividade resultante da hiperatividade e da impulsividade, junto com a falta de atenção às regras sociais, geram dificuldades de se socializar adequadamente.

Crianças com TDA/H sofrem um alto índice de rejeição de seus colegas, em conseqüências dos prejuízos nas habilidades sociais. Uma vez que os colegas percebem que ela perturba as atividades em grupo, seja nos trabalhos de equipe, seja nos esportes, ela deixa de ser convidada, quando não deixada propositadamente de lado nessas ocasiões. A rejeição social é um fator que nos permite predizer a ocorrência da delinqüência, abandono dos estudos, e má adaptação na vida adulta.

Desde o inicio, os pais costumam se sentir sobrecarregados pela hiperatividade e pela impulsividade da criança pré-escolar. Em seguida, surgem os atritos ligados à realização das tarefas de casa, descritas acima. Pais estressados geram relações familiares estressadas, que deixam as crianças mais estressadas ainda. Frequentemente, os pais entram em conflito entre si quanto aos meios de lidar com a criança.

A separação acentua o estresse submetido tanto aos pais quanto à criança. Como qualquer distúrbio, inclusive o TDA/H, é agravado pelo estresse, gera-se um ciclo vicioso, no qual os sintomas da criança aumentam o estresse familiar e o estresse familiar agrava os sintomas da criança.


Autor: Edson Alves Bezerra


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