Escola e Blogs de Professores: do que depende o sucesso dessa parceria?



INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

SUL-RIO-GRANDENSE/CAMPUS PELOTAS

GERÊNCIA DE ENSINO SUPERIOR

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS INTEGRADAS À EDUCAÇÃO

NICOLE IMFELD PEREIRA

ESCOLA E BLOGS DE PROFESSORES: DO QUE DEPENDE O SUCESSO DESSA PARCERIA?

Artigo apresentado ao curso de Pós-graduação em Mídias na Educação, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Mídias Integradas à Educação.

Orientador: Tales Costa Amorim

IBIRAMA

DEZEMBRO, 2009

Resumo:

Duas realidades presentes nas escolas brasileiras chamam bastante a atenção e devem ser alvo de reflexão e ação por parte dos agenteseducativos: a) na maioria das escolas, os alunos têm mais conhecimento no uso de novas tecnologias que os professores; b) muitos educadores resistem a aprender a usar as novas tecnologias.

Este artigo é decorrente de um projeto da pesquisa, realizado na Escola de Educação Básica "Gertrud Aichinger", município de Ibirama, estado de Santa Catarina, cujo objetivo foi estimular o uso de tecnologias, em especial dos blogs, pelos professores, como recurso pedagógico em prol de um ensino voltado para a construção do conhecimento. Como resultados desta tentativa, houve pouca adesão dos professores envolvidos na continuidade do uso dos Blogs, o que aponta para a necessidade de reflexão sobre estratégias adequadas para que os educadores se sintam motivados a aprender e continuar em busca de aperfeiçoamento profissional, tendo nas novas tecnologias, um forte aliado, assim como de se conquistar mais espaços de formação. A proposta aqui apresentada é a de se pensar sobre como capacitar os profissionais da educação criando condições para que possam recontextualizar o aprendizado, as experiências e os objetivos pedagógicos a que se dispõe atingir futuramente. Dominar a tecnologia é um processo que exige profundas mudanças na maneira de pensar. Para diminuir a distância tecnológica entre professores e alunos e passar a estabelecer uma comunicação mais eficiente é preciso estabelecer pontes, como dispor-se a aprender, querer apropriar-se de mais este conhecimento tecnológico disponível.

Palavras-chave: tecnologia, blog, educação, professores, capacitação.

Abstract:

This paper describer an action-research project speaking about the difficulty by using technology, specially "blogs" by teachers as pedagogic resource in Ibirama city, at State College "Gertrud Aichinger"- Santa Catarina, Brazil. This practice was complemented by theoretical and practical activities in July and August months/2009, during pedagogic meeting, with the same teachers. The aim was to provide conditions so that they can apply it in the classroom with their students.

Keywords: technology, blog, education, teachers, to render capable.

Introdução:

Muito tem se falado sobre as tecnologias, seus impactos na sociedade, seus grandes benefícios e também malefícios. Naturalmente, essa realidade tem se refletido na escola, revelando uma grande diferença no modo de pensar e agir, tanto de professores quanto de alunos. Há um divisor entre os nascidos antes e depois do computador pessoal (anos 80) e, principalmente, da internet gratuita e "hyperlincável" (anos 90). Segundo o educador americano Marc Prensky em sua obra Nativos digitais, imigrantes digitais (2001) "nossos alunos são nativos nesse mundo tecnológico e, nós, imigrantes". Na escola, não é raro perceber que os alunos têm muito mais facilidade em lidar com as tecnologias do que os professores, o que é muito potencializado pelo fato de muitos educadores resistirem em se apropriar das novas ferramentas.

Para Barbosa e Serrano (2005)

"O desafio para a educação da nova era é desenvolver novos contextos de interação que denotem a utilização, sobretudo, de alternativas criativas e estimulantes ao aprendizado. As ferramentas disponíveis hoje na Internet, desde que com as devidas adaptações e com seu uso resultando de uma estratégia de aplicação, oferecem um universo de possibilidades a ser explorado pelo educador que se propuser a sobrepor a fronteira da tecnologia para descobrir meios para o enriquecimento de sua atuação".

Para que isso aconteça, faz-se necessário que o professor esteja familiarizado com os recursos pedagógicos disponíveis, promovendo assim, a ligação entre o humano e o tecnológico, entre o real e o virtual.

Este artigo relata a atividade realizada com professores da Escola de Educação Básica "Gertrud Aichinger" pertencente à rede pública estadual, no município de Ibirama, estado de Santa Catarina, durante os meses de julho e agosto de 2009. A pesquisa tem como objetivo estimular os professores a utilizarem tecnologias educacionais, mas especificamente o Blog, nas diversas disciplinas curriculares, como forma de inovar o cotidiano escolar, buscar novas estratégias e métodos pedagógicos voltados às necessidades dos alunos, desenvolver novas habilidades e propiciar a formação de alunos cidadãos, críticos e participativos no processo de ensino-aprendizagem.

A decisão pelo uso do Blog deu-se pelo ângulo da sua funcionalidade, justamente pela sua dinamicidade e interação possibilitadas pela facilidade de acesso e de atualização. O uso do blog educacional como ferramenta de ensino em ambiente escolar pode promover a troca de experiências e de conhecimento entre educadores e alunos, permitindo assim, a criação de um local de encontro, em busca da construção de saberes e de interação entre todos. Com poucos cliques, pode-se criar seu diário virtual, mesmo que não tenha conhecimentos de programação. A manutenção também é simples - como o sistema organiza automaticamente as mensagens (posts) do usuário, é bem mais fácil acrescentar textos, imagens e vídeos a um blog do que a um site tradicional.

De acordo com o especialista em educação Pedro Demo (2009), "o professor que estuda tem como resultado um aluno que aprende melhor". É preciso preparar os professores para que vençam seus próprios medos de usar as ferramentas que estão a sua disposição. A capacitação constante prepara os professores para as possibilidades que as tecnologias educacionais oferecem. Só a tecnologia, os equipamentos e recursos não resolvem.

Os recursos tecnológicos complementam as ações que realizamos na escola. O reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica deve ser acompanhado da conscientização da necessidade de incluir as habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias. O professor que planejar suas aulas utilizando novas técnicas estará experimentando novas propostas pedagógicas e qualificando o processo de ensino-aprendizagem.

O Blog

A reportagem de abertura da revista VEJA (Edição especial – Tecnologia, setembro, 2008) registra um recorde: a cada três segundos, um novo computador é vendido no Brasil. Enquanto o número de máquinas aumenta, difunde-se o uso da banda larga, que cresceu 50% somente em um ano no Brasil. Mais de 10 milhões de brasileiros estão ligados à Internet por meio de conexões rápidas.

Segundo a revista ÉPOCA (agosto, 2006), o número de blogs em todos os idiomas é hoje 60 vezes maior do que era há três anos e já ultrapassou a marca de 40 milhões de páginas. De acordo com o site Technorati, que cataloga e faz buscas em blogs no mundo inteiro, são criados 75 mil blogs por dia. Isso dá uma média de um novo blog por segundo. Há um blog para cada 25 pessoas on-line. Segundo o Pew Internet & American Life Project, instituição americana que estuda o impacto da internet, 57 milhões de internautas dos Estados Unidos lêem blogs diariamente. Eles são abastecidos por cerca de 1,2 milhão de novos conteúdos por dia, ou uma média de 50 mil por hora. No Brasil, dos quase 20 milhões de internautas, estima-se que algo como 25% vasculhem blogs todo dia, em busca de informação ou entretenimento.

Mas, o que é um blog? A definição clássica afirma que é um diário mantido por qualquer um na internet. A palavra parece ter surgido pela primeira vez em 1997, quando o internauta John Barger chamou seu diário pessoal na rede de "weblog", algo como "registro na web". Em 1999, outro navegante resolveu fazer uma brincadeira. Quebrou o termo em dois, para gerar o trocadilho "we blog", ou "nós 'blogamos'". Aí a palavra "blog" pegou. Segundo os colunistas da revista EPOCA (Agosto, 2006), blog é sinônimo de qualquer diário ou registro mantido na internet. Você vai lá, escreve um texto, publica uma foto, um filme, põe links para o que mais julgar interessante na rede e pronto. Tradicionalmente, os diários eram escritos em pequenos cadernos por quem queria manter as coisas em segredo. Pois na internet eles se transformaram em manifestações públicas e coletivas. Um faz referência ao outro. Um comenta o outro. Um se inspira no outro. E essa multidão de blogs que se entrecruzam e se relacionam ficou conhecida como "blogosfera".

Para iniciar é necessário escolher um site que ofereça o serviço de publicação na web. A maioria dos serviços é gratuita e oferece recursos para escrever como se estivesse usando um editor de textos. Ao cadastrar-se em um desses serviços, cria-se um endereço para o blog e para o layout. Os próprios serviços oferecem alguns modelos (templates) pré-configurados que podem ser alterados posteriormente.

Através do serviço gratuito Blogger, criado em 1999, é possível criar blogs facilmente em diversos idiomas. Em 2002, o Blogger foi vendido para a Google, desta forma, é necessário ter uma conta no Google para criar um blog nesse serviço.

Por meio de pesquisas no Google e outros sites de busca, é possível encontrar uma quantidade considerável de blogs mantidos por professores, cada qual com suas particularidades, mas com o conteúdo voltado para a educação. São dicas de atividades, planos de aula, materiais didáticos, links educacionais e sugestões de sites interessantes para professores que buscam na Internet novas formas de ensinar..

Os Blogs na Educação:

A Internet tem revolucionado o mundo dos computadores e das comunicações como nenhuma invenção foi capaz de fazer antes. Atualmente, a rede mundial congrega 1,5 bilhões de computadores de todos os tipos e tamanhos.

Para Moran (1995), "(...) as tecnologias estão provocando profundas mudanças em todas as dimensões da nossa vida. Elas vêm colaborando, sem dúvida, para modificar o mundo". É possível criar usos diferenciados para as tecnologias. Nisso está o seu encantamento, o seu poder de sedução, e o seu diferencial em sala de aula, uma vez que muitos alunos já têm contato com computadores e com a Internet fora da escola.

No que diz respeito à educação, segundo Almeida (2005) "a análise sobre o papel das novas tecnologias no processo de ensino aprendizagem é de extremo interesse para discutir os rumos que a educação vai tomar com a inserção das mesmas". As tecnologias educacionais precisam ser desbravadas pelos professores para que, dotados de conhecimentos, atitudes e posturas possam assegurar a efetiva utilização destas em suas aulas.

A escola referenciada neste artigo é equipada com uma Sala Informatiza, com 19 computadores com acesso à Internet e um profissional que acompanha as atividades realizadas no laboratório. Com base numa pesquisa feita com 17 professores da escola, que atuam em sala de aula, 5 professores nunca utilizaram a Sala Informatizada para realizar trabalhos com os alunos. Dos professores que utilizam, 5 informaram que tem dificuldade em realizar atividades com os alunos. A falta de experiência, o receio, a falta de conhecimento e falta de treinamento foram os principais motivos apontados.

Para Dimenstein (2004), "tanto nos países pobres quanto nos ricos, há o consenso de que o principal obstáculo não é o acesso as máquinas, mas a formação do professor, capaz de transformar a rede em material pedagógico". O autor utiliza o termo "inconformáticos" para denominar aqueles que buscam transpor os obstáculos da exclusão digital.

Um meio para se conectar no mundo das tecnologias é através dos diários virtuais, conhecidos como blogs. "Os blogs são o primeiro passo para que todas as pessoas alfabetizadas tenham sua plataforma no mundo" disse em entrevista a ÉPOCA (Agosto, 2006), o jornalista e blogueiro americano John Batelle. Produção de textos, narrativas, poemas, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de estudo, publicação de fotos, desenhos e vídeos produzidos pelos professores ou alunos – tudo é possível por meio do blog.

Cresce a cada dia a utilização dos blogs nas mais diversas áreas, inclusive na educação. Ele pode ser utilizado como um recurso em todas as áreas do conhecimento e permite a interdisciplinaridade, uma vez que ao adicionar um link abrem-se caminhos que levam a outras páginas e outros conhecimentos.

Segundo Soares e Almeida (2005):

Um ambiente de aprendizagem pode ser concebido de forma a romper com as práticas usuais e tradicionais de ensino-aprendizagem como transmissão e passividade do aluno e possibilitar a construção de uma cultura informatizada e um saber cooperativo, onde a interação e a comunicação são fontes da construção da aprendizagem.

Mas para que o professor possa romper com suas práticas tradicionais ele tem o desafio de não apenas incorporar essas tecnologias, mas também investir na criação de competências, e isto requer um olhar mais abrangente, buscando novas formas de ensinar e de aprender condizentes com a nova sociedade do conhecimento, elaborando, desenvolvendo e avaliando práticas pedagógicas que promovam o desenvolvimento de uma análise reflexiva sobre os conhecimentos e usos tecnológicos.

Diferentes pesquisadores têm se preocupado em analisar e descrever as possibilidades de uso dos blogs na educação. A coordenadora de pesquisa em tecnologia educacional e articulista da divisão de portais da Positivo Informática, Betina von Staa, em seu artigo "Sete motivos para um professor criar um blog", destaca que com este recurso, o educador tem um enorme espaço para explorar uma nova maneira de se comunicar com seus alunos e também conectar-se ao mundo em que vive. É uma forma do professor ampliar sua aula, trocar experiências com colegas e tornar seu trabalho visível. A utilização do blog oferece espaços de diálogo onde os professores são escritores, leitores, pensadores, construtores de novas redes sociais e de saberes, permitindo a expressão e a discussão entre os sujeitos.

"Esses diários eletrônicos são uma ferramenta diferente, com potencial para reinventar o trabalho pedagógico e envolver muito mais os alunos. Têm grande poder de comunicação: oferecem espaços de diálogo onde os alunos são escritores, leitores, pensadores. Blogs ajudam a construir redes sociais e redes de saberes" (Wikipédia)

E o que muda no papel do professor? Segundo Moran (2000), "muda a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas aumenta da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber informações se amplia para qualquer dia da semana". É um papel que combina alguns momentos do professor convencional - às vezes é importante dar uma bela aula expositiva - com mais momentos de gerente de pesquisa, de estimulador de busca, de coordenador dos resultados. É um papel de animação e coordenação muito mais flexível e constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição e domínio tecnológico.

Quando o professor cria um blog, abre espaço para recriar, reinventar e criar novas idéias baseadas no que é tratado em sala de aula. A facilidade na incorporação de vídeos, músicas, slides ao blog, incentiva a criatividade e possibilita que o professor possa desenvolver uma aula rica em conteúdo, interessante e que transcenda o ambiente maçante que por vezes se torna uma sala de aula.

Uma vez que os blogs apresentam uma grande flexibilidade de utilização, podendo ser utilizados como uma simples publicação de material até sua utilização para promover e mediar discussões, temos uma ferramenta extremamente interessante para utilização em contexto educacional.

Assim, os blogs são uma maneira fácil de publicar materiais na Web, que possuem uma natureza aberta e inclusiva, uma ferramenta excelente para promover comunidades de aprendizes - as comunidades que incluem não somente estudantes e professores de uma classe, mas também profissionais, pais, e membros de comunidades locais. Nas palavras de Eric Davis, executivo do Google:

"A instrução não é limitada a tempo e espaço às atividades que ocorrem por três horas uma semana dentro da sala de aula. O Weblog tornou mais fácil para que a instrução ocorra em todos os momentos, enquanto mantém o contato pessoal (mediado pela tecnologia) entre os estudantes e o professor e entre os próprios estudantes."

Capacitação de professores no uso de novas tecnologias:

A tecnologia é um meio e não um fim. São as questões não tecnológicas que fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso. Hoje o educador se encontra diante do que pode ser considerando um grande desafio ou uma grande oportunidade: utilizar os recursos tecnológicos em prol de um ensino voltado para a construção do conhecimento. O professor é o principal elo de ligação entre as tecnologias educacionais e seus alunos.

A inovação é uma mudança deliberada e conscientemente assumida e não uma simples renovação. Senge (1996) chama atenção para uma atitude fundamental em qualquer inovação: abertura para aprender, para alterar conceitos e idéias, para assumir novos comportamentos e atitudes, para repensar a cultura pessoal e organizacional, para mudar crenças, adquirir novos conhecimentos e aderir a novas formas de pensar e agir.

Atitude essa, que muitas vezes não está presente na formação do professor. Os educadores mais jovens costumam ter mais facilidade em lidar com as tecnologias, pois desde cedo estão ambientados com elas e conseguem adaptá-las às práticas educativas. Por outro lado, muitos professores têm dificuldades para lidar com as tecnologias. É preciso preparar estes para que vençam seus próprios medos e utilizem as ferramentas que estão à sua disposição. A escola tem o desafio de superar o analfabetismo tecnológico de seus professores. Tempo é questão premente na educação. Inclusão digital-tecnológica devem ser as palavras de ordens.

Os avanços tecnológicos são tão rápidos que é impossível mensurar se os resultados para o processo de ensino-aprendizagem estão alcançando o que preconiza a Lei que rege a educação nacional quando diz: o ensino terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (LEI 9394/96 Art.32).

Esta formação básica, voltada para a aquisição de conhecimentos e habilidades passa, obrigatoriamente, pela integração do aluno a uma sociedade onde os meios tecnológicos estão diariamente presentes, proporcionando instrumentos que lhe permitam conquistar melhor condições de participação no meio social, cultural e político. E mais, passa pela integração do professor também.

Sampaio e Leite (2003) argumentam sobre a importância da apropriação das tecnologias pela escola, afirmando que:

"Cercados que estamos pelas tecnologias e pelas mudan­ças que elas acarretam no mundo, precisamos pensar em uma escola que forme cidadãos capazes de lidar com o avanço tecnológico, participando dele e de suas conseqüên­cias. Esta capacidade se forja não só através do conheci­mento das tecnologias existentes, mas também, e talvez principalmente, através do contato com elas e da análise crítica de sua utilização e de suas linguagens."

Os professores, quando perguntados quanto ao tempo que eles permanecem conectados diariamente à Internet, responderam que em média, ficam apenas 1 hora navegando na rede. É um tempo relativamente curto, levando-se em consideração a média do brasileiro que é de 66 horas e 24 minutos, segundo estudo divulgado pelo Ibope Nielsen Online em setembro de 2009.

Segundo a professora Ana Costa e Silva, do Curso on-line de capacitação de professores para o uso de novas tecnologias da UCB, para alcançar esse objetivo, procurando cumprir sua responsabilidade social, a escola precisa contar com profes­sores capazes de captar, entender e utilizar na educação as novas linguagens dos meios de comunicação eletrônicos e das tecnologias, que cada vez mais se tornam parte ativa da construção das estruturas de pensamento de seus alunos. O professor, sintonizado com a rapidez desta sociedade tecno­lógica e comprometido com o crescimento e a formação de seu aluno, precisará - além de capacidade de análise crítica da sociedade - de competências técnicas que o ajudem a compreender e organizar a lógica construída pelo aluno mediante sua vivência no meio social. Essa capacidade será necessária para utilizar as tecnologias e suas diferentes linguagens com o objetivo de atingir o aluno e transformá-lo em um cidadão também capaz de entender criticamente as mensagens dos meios de comunicação a que é exposto, além de saber lidar, no dia-a-dia, com os outros avanços tec­nológicos que o rodeiam.

Para tanto, a capacitação do profissional da educação se faz necessária. Morin (2005) pergunta: "Quem educará os educadores?" De quem é essa responsabilidade? Do governo (federal, estadual ou municipal), da Escola ou do próprio professor? Sabe-se que muitos professores trabalham 40 horas semanais, ou mais. Em que momento deve ocorrer esta capacitação?

Estamos diante de uma bela demonstração de que a modernização da educação é séria demais e tem que ser tratada com cautela. Renato (1997) diz que "É um caminho interdisciplinar e a aliança da tecnologia com o humanismo é indispensável para criar uma real transformação". É preciso pensar além da necessidade da formação para que se possa ter títulos e buscar uma inserção nesse mundo tecnológico no qual vivemos hoje e que a cada dia apresenta novas possibilidades.

A formação busca estabelecer novas relações entre a teoria e a prática, entre o convencional e o tecnológico. O professor deve estar consciente de seu potencial e de suas limitações, para que possa selecionar a melhor forma de utilizar estas ferramentas tecnologias e o momento adequado para sua utilização, dominando criticamente as tecnologias para não ser dominado por elas.

Existe, portanto, a necessidade de transformações do papel do professor e do seu modo de atuar no processo educativo. Cada vez mais ele deve levar em conta o ritmo acelerado e a grande quantidade de infor­mações que circulam no mundo de hoje. Com as Novas Tecnologias, novas formas de aprender, novas competências são exigidas, novas formas de se realizar o trabalho pedagógico são necessárias e é necessário formar cotidianamente o professor para atuar nesse ambiente em que a tecnologia serve como mediador do processo de ensino-aprendizagem.

"Não tenho nenhuma dúvida que a educação pode (e deve) se beneficiar da tecnologia para o aprimoramento da relação ensino-aprendizagem. As ferramentas educacionais de auxílio ao docente se aperfeiçoam a cada dia; não temos como ficar atônitos. Há uma verdadeira revolução tecnológica a cada segundo, mas não podemos esquecer que o profissional docente deve estar preparado para esse desafio". Prof. Inácio Feitosa Melo.

A formação deve considerar a realidade que o docente trabalha, suas ansiedades, suas deficiências e dificuldades encontradas no trabalho, para que o professor consiga visualizar a tecnologia como ajuda e vir, realmente, a utilizar-se dela de uma forma consciente.

A escola deve conhecer seus professores para tentar ajudá-los em suas dificuldades. A pesquisa realizada revelou que muitos professores têm dificuldades em utilizar os programas básicos do computador, como o editor de textos (Word), Excel, PowerPoint e a Internet. Ele precisa primeiro apropriar-se destes conhecimentos, para em seguida, poder utilizá-los pedagogicamente com seus alunos.

O professor deve estar consciente não só das reais capacidades da tecnologia, do seu potencial e de suas limitações para que possa selecionar qual é a melhor utilização a ser explorada num determinado conteúdo, contribuindo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, por meio de uma renovação da prática pedagógica do professor e da transformação do aluno em sujeito ativo na construção do conhecimento.

Metodologia e Procedimentos:

Na primeira etapa do trabalho foram distribuídos questionários a 17 professores da escola, efetivos e ACTs, entre 24 e 52 anos. As perguntas estavam relacionadas aos conhecimentos básicos em informática, as dificuldades de utilização, tempo de acesso a Internet, preferências de acesso e quanto a utilização da Sala Informatizada.

Com este questionário buscou-se traçar um perfil do educador da escola. Como esses dados mostraram um profissional com poucos conhecimentos em informática, que utiliza a Sala Informatizada apenas para fazer pesquisas na Internet com seus alunos, ou para apresentação de trabalhos, procurou-se elaborar uma atividade que não exigisse muitos conhecimentos tecnológicos e que pudesse trazer benefícios para o processo de ensino-aprendizagem.

A partir de conversas com a Direção, da preocupação com uma melhor utilização da Sala Informatiza, de leituras e pesquisas, chegou-se a proposta de criação de blogs com os professores, para incentivá-los a utilizar as tecnologias educacionais disponíveis, como forma de melhorar o cotidiano escolar, buscar uma ligação do professor com o mundo, com as tecnologias e a aquisição de novas habilidades.

Diante da proposta de criar blogs para os professores da escola, buscou-se um espaço durante uma reunião pedagógica, para a realização da atividade. Participaram daaplicação do projeto, 9 professores da escola, que atuam em sala de aula (entre eles 6 efetivos e 3 ACTs - admitidos em caráter temporário).

No primeiro momento, foram trabalhadas algumas dicas de utilização dos sites de busca e os professores que não tinham conta no Google, criaram seus e-mails. Textos da Betina Von Staa "Sete motivos para um professor criar um blog" e da Danielle Lourenço "Eu, meu aluno e a Internet: uma história a ser "teclada" com muitas mãos" foram usados como material de apoio. Uma relação de sites e blogs de outros professores também foi entregue, para que pudessem ver o quanto outras escolas e outros professores já estão se beneficiando dessa ferramenta.

Em seguida foram criados os blogs utilizando o serviço gratuito do Blogger. Os professores não tiveram dificuldades para criar seus blogs. Todos conseguiram seguir as orientações do serviço, escolher o layout e fazer a primeira postagem.

Como a escola possui um site, todos os blogs criados pelos professores foram 'linkados' ao site de modo a divulgar e facilitar o acesso dos alunos e da comunidade em geral.

Resultados:

Esperava-se que os professores dessem continuidade a seus blogs, que incluíssem novas postagem, imagens, textos, trabalhos dos alunos.

Este resultado não foi alcançado. Os professores criaram seus blogs, mas a maioria não deu continuidade à atividade. Falta de tempo, falta de conhecimento, foram alguns motivos apresentados. O estímulo é um fator importante. Os professores, assim como os alunos, precisam estar constantemente sendo estimulados a utilizar as tecnologias educacionais. A Sala Informatizada foi implantada na escola em 2005, e até então muitos professores não tinham contato com as tecnologias. Renovar a prática pedagógica não é uma tarefa fácil. Requer mudanças e a coragem de incorporar novos conceitos.

Os professores, em parte, ainda não estão prontos para vivenciarem este presente. Existem dificuldades, através dos meios convencionais, para se preparar professores para usar adequadamente as novas tecnologias. É preciso formá-los do mesmo modo que se espera que eles atuem.

Apenas um professor da escola continua alimentado seu blog. É um professor leitor e escritor, que possui mestrado em educação e está aberto as novas tecnologias. Este professor entrou no blog uma forma de divulgar seu pensamento.

A criação do blog resulta na exposição do professor, uma vez que qualquer pessoa pode acessá-lo. Através do blog o professor divulga seus pensamentos, suas ações, suas atividades em sala de aula. E não são todos os professores que se sentem seguros e preparados para esse tipo de trabalho.

Considerações Finais:

É tarefa dos educadores trabalharem com construções - com construções humanas. Não construírem, mas, ao se relacionarem com o outro, com o mundo e consigo, receberem informações de diferentes formas e fontes. Conforme Charlot (2000)"toda relação consigo é também relação com o outro, e toda relação com o outro é também relação consigo próprio". Neste sentido, os educadores não estão prontos. São seres em constante desenvolvimento. Talvez por isso, Kant (1996) já falava no século XVIII que "o homem é a única criatura que precisa ser educada (...)".

O saber é imprescindível. Sem ele não se pode lutar contra a miséria, a fome, as injustiças sociais, a falta de comunicação e de utilização dos recursos tecnológicos, atualmente são indispensáveis. Portanto, quem está aberto a esses diferentes tipos de relacionamentos e envolvimentos, estará, naturalmente, preparando o futuro. Futuro que precisa ser vivenciado, percebido, incutido e assumido.

O objetivo principal deste artigo foi investigar as dificuldades dos professores quanto ao uso das tecnologias educacionais, em especial dos blogs, como recurso pedagógico, buscando alternativas criativas e estimulantes ao aprendizado.

As tentativas para incluir o estudo das novas tecnologias nos currículos dos cursos de formação de professores esbarram nas dificuldades com 1) o investimento exigido para a aquisição de equipamentos, e 2) na falta de professores capazes de superar preconceitos e práticas que rejeitam a tecnologia mantendo uma formação em que predomina a reprodução de modelos substituíveis por outros mais adequados à problemática educacional.

É preciso estimular a pesquisa e colocar-se a caminho com o aluno e estar aberto à riqueza da exploração, da descoberta de que o professor, também pode aprender com o aluno. Para que se possa viver essa realidade é preciso um constante aperfeiçoamento. A Escola precisa modernizar-se. Os países emergentes vivem um processo de adequação a realidade econômica mundial. O Brasil segue essa regra. A realidade educacional brasileira requer um repensar. As tecnologias tornaram-se ferramentas indispensáveis para quem faz uso do conhecimento. A escola, seus educadores e seus alunos jamais poderão deixar de se adaptarem as novas tecnologias. A educação brasileira parou, em grande parte, no tempo. Isso faz lembrar a história do "vô Gepeto" – o criador do Pinóquio - o boneco de madeira. Os alunos continuam sentados em suas carteiras, muitas vezes, como se fossem bonecos de madeiras. Quanto menos falarem ou se mexerem - melhor para o educador.Eis, muitas salas de aula – ainda - repletas de Pinóquios.

O saber exige trocas, encontros, desencontros, confrontos, um se mexer, um falar. E o saber atual requer rapidez e inclusão tecnológica. Mas quem está preparado para enfrentar essa nova etapa do conhecimento? A Escola, os educadores, a comunidade escolar ou os estudantes? Necessário se faz avançar, mudar! Atualizar-se.

A educação está sofrendo constantes mudanças. O professor não é mais o detentor isolado do conhecimento. As informações são tantas que mesmo o educador se sente, às vezes, perdido. Como acumular, guardar, trocar, adquirir conhecimentos sobre a atualidade se ainda existem educadores e estudantes distantes do processo de inclusão tecnológica? As tradicionais maneiras de se ministrar aulas se tornaram obsoletas. Que aluno vai se sentir atraído pelo educador que passa o ano insistindo em dar as suas aulas de maneira desatualizada? As novas tecnologias vieram para ficar. Assim, é preciso que os educadores se atualizem.

Exemplo é a palavra-chave para quem quer, realmente, educar. Educadores que leem ajudarão a criar estudantes leitores. Na informática não é diferente. O professor precisa se atualizar e começar a mostrar sua capacidade de interagir tecnologicamente com seus alunos. Um dos recursos inovadores a ser usado por educadores e estudantes é o blog. É fácil de usar e exige pouco conhecimento de informática. Fotos, assuntos das aulas, sugestões, questionamentos, novidades, escritos dos educadores e de seus alunos podem ser incluídos no blog e assim serem acessados pelos membros da comunidade escolar ou demais pessoas que desejam repassar e receber informações.

O Blog educacional é uma inovação e um desafio para o professor, que necessitará estar preparado para compreendê-lo e utilizá-lo em todas as suas possibilidades.

Assim, somando a capacitação dos professores com as possibilidades oferecidas pelos blogs, poderemos desbravar novas trilhas e formular propostas de construção de ambientes mais abertos de dinâmicos. Propostas que abrem espaço para a construção do conhecimento tanto de alunos como de professores.

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Autor: Nicole Pereira


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