A LENDA DO MIRA GAIA.



 Os Livros de Linhagem

Os Livros de Linhagem, também chamados nobiliários, são livros constituídos de textos de variadas origens que foram criados a fim de informar a árvore genealógica de determinadas famílias, mostrando sua privilegiada constituição por meio de parentescos que consolidam a tradição familiar. Eles, muitas vezes, são os únicos testemunhos históricos da formação tradicional dessas famílias.

 

Que escreveu o Livro de Linhagem e qual seu intuito

 

Existem três Livros de Linhagens em Portugal: O Primeiro Livro de Linhagens (ou Livro Velho de Linhagens), escrito por volta de 1270, O Segundo Livro de Linhagens (também Livro de Linhagens do Deão), de cerca de 1340, ambos de autores desconhecidos, e finalmente o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. Este último é o mais importante do ponto de vista literário, tendo sido escrito por Conde Pedro Afonso, filho bastardo do rei Dinis de Portugal, entre 1340 e 1344. Pedro Afonso não só incorporou a genealogia das famílias nobres portuguesas, peninsulares e europeias como também relata episódios históricos e narrativas fantásticas relacionadas à origem das famílias que são de muito interesse histórico e literário. Por ser membro da nobreza, o conde escreve a favor dela, com a finalidade de justificar a importância social dos nobres, além de delimitar o lugar que deveria ser ocupado por ela dentro de um cenário social, utilizando o Livro como um instrumento ideológico.

            A função dos livros de linhagens era prática, servindo para regular casamentos consanguineos e assegurando os direitos hereditários dos membros de uma família nobre e dos seus descendentes, além de conservar a memória dos antigos feitos dos “fidalgos” (filhos d'algo). Muitos destes livros transmitem um importante legado histórico, cultural e literário.

 

Explicação sobre o Miragaia e de onde vem a Narrativa.

Trata-se de uma lenda portuguesa, a Lenda de Gaia, recontada no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, com o nome de Miragaia em forma de narrativa novelesca. Baseada no Conto de Salomão que se assenta na rivalidade de dois homens representantes de mundos antagônicos, pela posse e amor de uma mulher, raptada por um e reclamada pelo outro, Miragaia é protagonizada pelo rei Ramiro II de Leão e por um rei mouro chamado Albozar Alboçadam.

            A lenda do Rei Ramiro procura nos esclarecer sobre as origens da família da Maia, cujo primeiro ancestral documentado é certo Abunazar Lovesendes, fundador do mosteiro de Santo Tirso de Ribadave em 978. A lenda faz do rei Ramiro II pai deste Abunazar, o que é impossível, pela cronologia, já que Ramiro morreu em 951, e pelo patronímico, pois o pai de Abunazar se chamava Lovesendo, e não Ramiro.

                        Segundo a lenda, a família da Maia descenderia do adultério de Ramiro com uma princesa moura: Abunazar ganha na lenda uma ascendência real, da mais alta nobreza, por seu pai e por sua mãe.

            Mas, notemos o seguinte: quando esta lenda se fixa por escrito nos livros de linhagens, o árabe é o inimigo subjugado. A conquista do Algarve fora feita nos fins do século XIII por Afonso III. A lenda conta uma ascendência ilustre dos senhores da Maia na família real do inimigo, inimigo político e religioso numa família real que se aparentava ao próprio fundador da religião adversária.
Ramiro II parece que entra na lenda como um contrapeso ideológico. Mas notemos que há vínculos indiretos, indícios que mostram vínculos, entre a família da Maia, em fins do século X, e a família do conde de Coimbra, Hermenegildo Guterres.

            Uma das filhas de Abunazar Lovesendes tem o nome Ausenda, como a mulher repudiada de Ramiro II. Um dos filhos de Abunazar, de quem, aliás, descenderá outro personagem lendário português, Egas Moniz Aio, é Ermígio. Forma rara do nome Hermenegildo (mais comum é o vernáculo Mendo, ou Mem), aliás, só encontrada nessa família dos da Maia. Há mais evidências: no século XI, Soeiro Mendes da Maia, dito o bom, litiga nos tribunais contra os herdeiros de certo Froila Cresconiz, que, sempre pela raridade do nome, parece ser filho do Cresconio cunhado de Zahadon e irmão de Aragunte, mulher de Zahadon.
            O que aconteceu na história, no concreto, nunca iremos saber ao certo.

Mas o cenário informa o meado da narrativa:

            Ausenda, rainha de Leão e mulher de Ramiro II, comete adultério. É, por isso, repudiada. (Não deve ter sido morta; sua família era poderosa demais.) Do filho adulterino, Lovesendo (compare-se a desinência participial, Ausenda, Lovesendo), que se casa com a filha de Zahadon, nasce Abunazar Lovesendes, primeiro senhor das terras da Maia.

 

                                               RESUMO DA LENDA

 

Quanto ao conteúdo básico, o lendário relato sobre o “Rei Ramiro em Gaia” envolve na sua primeira parte dois raptos entrecruzados.

Apaixonado por uma princesa moura, ou pelas “maravilhas” que dela ouvira dizer, um rei cristão resolve raptá-la. Em contrapartida, o rei mouro que era seu

irmão vinga-se raptando a esposa do rei cristão. A segunda parte do relato aborda as aventuras do rei cristão no território inimigo, utilizando-se de todos estratagemas possíveis para reaver a mulher para depois compreender que a rainha já preferia àquela altura o mouro que a raptara. Depois de punir exemplarmente a antiga rainha, o rei cristão retorna a seu reino e casase com a princesa moura que havia raptado, batizando- a e fazendo dela uma rainha da cristandade.

            Ramiro II trai Aldara, sua mulher na lenda. Ela dá o troco, e é punida.


 Desenho da Narrativa e personagens.

            Trata-se de uma narrativa novelesca de caráter romanesco que conserva os traços essenciais da narrativa original. Na busca pelo que existe de histórico e de fantástico (se é que podemos separar uma coisa da outra) nessa narrativa fascinante encontramos de súbito um tesouro: os arquivos do mosteiro de Lorvão, publicados há século e meio por Alexandre Herculano nos seus Portugaliae Monumenta Historica, Diplomata et Chartae. As cartas de Lorvão formam a parte mais antiga do acervo. E neles comparecem quase todos os personagens da lenda do Rei Ramiro.


Por exemplo, leiamos o diploma que tem o código DC 39, datado do ano de 933:

Karta uenditionis de abbalat que comparauit gondemirus et uxor sua susana
in dei nomine. ego zahadon et uxor mee aragunti, cresconio et uxor mee smelilo, et ueremudo. placuit nobis casto animo proprio uolumptas integroque consilio nulliusque gentis imperio neque suadentis articulo set propria nobis accessit uoluntas et uenderemus tibi gondemiro et uxor tue susanna sicut et uendimus rationes nostras que abemus in uillas prenominatas in territorio conimbrense. de uilla albalat...  ...


Zahadon in hanc scriptura uenditionis a me facta manus mea conf. Aragunti manus mea conf. Veremudus manus mea conf. Exemenus didas conf.
Cresconio manus mea conf.
Elduara confirmans conf. Froila gutierriz conf.
Veremudus rex confirmans
Ranemirus rex confirmans.


Personagens:

 

Rei Ramiro II:   O rei Ramiro é um personagem cheio de imaginação, capacidade de dissimulação, presença de espírito, cálculo meticuloso de possibilidades, estratégia, frieza de análise, retórica, capacidade de argumentação, dissimulação e astúcia:

 

O ‘disfarce’ é desta maneira o

primeiro estratagema astucioso do rei.

 

No fragmento que inaugura a “Lenda de Miragaia”, já começa a ser desenhado aparentemente despretensioso:

 

Houve uu rei em Leom de grandes feitos a que chamarom rei

Ramiro, o segundo; e o por que lhe chamarom segundo foi porque

houve i outro rei Ramiro que foi ant’ele; e outro houve i rei Ramiro

o terceiro. Este Rei Ramiro, o segundo, decendeo da linha dereita

d’el rei Dom Afonso, o Catolico, que cobrou a terra a Mouros,

depois que foi perdida por rei Rodrigo.

 

No trecho abaixo, nota-se a presença da valoração aristocrática típica do discurso nobiliárquico:

 

Rei Ramiro, o segundo, ouvio falar da fermosura e bondades de

6 Crónica Geral de Espanha de  1344. CCLII.

ua moura, e em como era d’alto sangue e irmãa d’Alboazar

Alboçadam, filhos de Dom Çadam Çada, bisneto de rei Aboali,

o que conquereo a terra no tempo de rei Rodrigo. Este Alboazare

Alboçadam era senhor de toda a terra des Gaia ataa Santarem,

e houve muitas batalhas com cristãos, e estremadamente com

este rei Ramiro.

 

A condição aristocrata, portanto, transcende o problema étnico-religioso.

O projeto pessoal do rei apaixonado, desta forma, parece entrar em flagrante contradição com o projeto coletivo do rei reconquistador:

 

E rei Ramiro fez com ele grandes amizades, por cobrar aquela

moura que ele muito amava. E fez enfinta que o amava muito,

e mandou-lhe dizer que o queria veer por se haver de conhecer

com ele, por as amizades seerem mais firmes. E Alboazer

José D’Assunção Barros Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 213

Alboçadam mandou-lhe dizer que prazia delo e que fosse a Gaia

e que i se veria com el.

 

A única condição para o seu sucesso, conforme veremos, será a de não fraquejar nunca:

 

El vistio-se me panos de tacanho, e sua espada e seu lorigom e o

corno sô si, e foi-se soo deitar a ua fonte que estava sô o castelo de

Gaia. E esto fazia rei Ramiro por veer a rainha sa molher,

pela haver conselho com ela, em como poderia mais compridamente

haver dereito d’Alboazar Alboçadam e de seus filhos e de toda

sa companha, ca tiinha que pelo conselho dela cobraria todo, ca

cometendo este feito em outra maneira, que poderia escapar

Alboazer Alboçadam, e seus filhos. E, porque ele era de gram

coraçom, puinha em esta guisa seu feito em gram ventuira. Mas

as cousas que som ordenadas de Deus veem aquelo que a ele

praz, e nom assi como os homees pensam.

 

A princesa Moura (Artiga) : A princesa, mesmo moura, é de alto sangue, isto é, da melhor nobreza. O modelo da Dama distante, venerada pelos trovadores que, entre os séculos XII e XIV, inventrama um novo padrão de sensibilidade e expectativas amorosas que ficou conhecido como Amor Cortês.

A princesa será em parte uma conquista, se assim entendermos a conversão que o monarca cristão propõe para a princesa que pretende desposar:

 

desse, e fa-la-ia cristã e casaria com ela E rei Ramiro foi-se la

em tres galees com fidalgos, e pedio-lhe aquela moura, que lha.

 

Rei Mouro (Alboazer Alboçadam): Homem astucioso e sábio, não se deixa enganar facilmente e percebe as atitudes contraditórias de Ramiro observando suas reais intenções em querem desposar-se de sua irmã. 

 

E Alboazer Alboçadam lhe respondeo: ‘Tu tees molher, e filhos

dela, e es cristão. Como podes tu casar duas vezes?

Mostra-se um bom conhecedor tanto da religião de seu inimigo como das práticas políticas das monarquias cristãs do Ocidente. Identifica perfeitamente as contradições do seu opositor: suas pretensões carecem tanto de apoio nas bases de sua própria religião, como dos atenuantes políticos que poderiam viabilizá-las. É com um pouco de ironia que o rei mouro replica o pedido do monarca cristão e vinga-se raptando a esposa de seu opositor. O rei mouro, portanto, rejeita a proposta do rei cristão e anuncia que a sua irmã já estava previamente inserida em um mercado matrimonial inscrito dentro do âmbito régio islâmico:

 

E Alboazer Alboçadam jurou-lhe por sa lei de Mafomede que

lha nom daria por todo o reino que ele havia, ca a tiinha esposada

com el rei de Marrocos.

 

Depois que o Rei Ramiro tem seu pedido rejeitado, ele rapta a princesa moura. Com o rapto de sua irmã, o rei Alboazer Alboçadam, que curiosamente parece ter um perfil mais cavaleiresco do que o do rei cristão, age como deveria necessariamente agir um governante honrado diante de tal afronta. O conflito se instala:

 

E entrou rei Ramiro com a moura em ua galee, e a esto chegou

Alboazer Alboçadam, e ali foi a contenda grande antre eles, e

desperecerom i dos de rei Ramiro XXII dos boos que i levava, e

da outra companha muita. E el levou a moura a Minhor, depois

a Leom.

 

Desonrado, o rei mouro somente poderia reparar a infâmia contra ele perpretada ou resgatando a irmã das mãos do inimigo, ou impondo ao inimigo uma desonra equivalente. Estas soluções enquadram-se dentro do preceitual cavaleiresco, tal como já preconizava a cultura cavalheiresca de seu tempo — e neste ponto convém já observar que, curiosamente, o rei mouro comporta-se ao longo da narrativa inteiramente dentro dos parâmetros cavaleirescos, o que não se pode dizer plenamente do rei cristão que protagoniza o relato. O caminho de que se serve o rei mouro para reparar o mal que o Ramiro lhe impusera é raptar a esposa do rei cristão.

 

Alboazer Alboçadam teve-se por mal viltado desto e pensou em

como poderia vingar tal desonra. E ouvio falar em como a rainha

dona Aldora, molher de rei Ramiro estava em Minhor,

postou sas naos e outras velas o melhor que pode, e mais encuberto,

e foi aaquele logar de Minhor e entrou a vila, e filhou a rainha

dona Aldora, e meteo-a nas naos com donas e donzelas que i

achou e d’outra companha muita, e veo-se ao castelo de Gaia,

que era naquele tempo de grandes edificios e de nobres paaços.

 

Aqui se encerra a primeira parte da narrativa.

 

A rainha Aldora:  Esposa do Rei Ramiro, sente-se traída após o marido ter raptado a princesa moura, e com isso, como forma de vingança, deixa-se raptar pelo rei mouro e com ele, constitui nova família. Ao ser procurada pelo Rei Ramiro, não consegue disfarçar seu desagrado, mas consegue convencê-lo a entrar em uma câmara e o tranca lá imediatamente. É neste momento que Alboazer Alboçadam retorna ao palácio de Gaia.

 

E, ele jazendo na camara, chegou Alboazer Alboçadam e foi-se

pera a sa camara, e a rainha lhe disse: ‘Se tu aqui tevesses rei

Ramiro, que lhe farias?’. O mouro respondeo: ‘O que ele faria a

mim: mata-lo com grandes // tormentos’. E rei Ramiro ouvia

tudo. E a rainha disse: ‘Pois senhor, aprestes o tees, ca aqui está

em esta trascamara fechado, e ora te podes dele vingar aa ta

vontade.

 

Finalmente a rainha revela que, em definitivo, traspassara- se para o lado islâmico. Note-se a maneira como vai conduzindo o pensamento do rei mouro,cuidando de forçá-lo, antes de revelar que tem o rei Ramiro trancado na antecâmara, a expressar a hostilidade natural do mouro para com o rei cristão e a racionalizar uma lógica que forçosamente o obriga a eliminar o inimigo perigoso. Este processo de manipulação tornar-se-á ainda mais claro nas passagens que se seguem. Também o rei Ramiro não terá mais qualquer dúvida, a partir do que acabava de ouvir, de que a esposa o traíra definitivamente.

 

E el rei Ramiro entendeo que era enganado por sa molher, e que

ja dali nom podia escapar senom per arte algua. E maginou que

era tempo de se ajudar de seu saber, e disse a gram alta voz:

‘Alboazer Alboçadam, sabe que eu te errei mal. Mostrando-te

amizade, levei da ta casa ta irmã, que nom era da minha lei.

Eu me confessei este pecado ao meu abade, e ele me deu em

pendença que me veesse meter em teu poder o mais vilmente que

podesse. E se me tu matar quisesses, que te pedisse que, como eu

fezera tam gram pecado ante a ta pessoa e ante os teus, em filhar

ta irmãa, mostrando-te boo amor, que bem assi me desses morte

em praça vergonhosa. E porquanto o pecado que eu fiz foi em

grandes terras soado, que bem assi a minha morte fosse soada

por uu corno e mostrada a todos os teus. E ora te peço, pois de

morrer hei, que faças chamar teus filhos todos e filhas e teus

parentes e as gentes desta vila, e me faças ir a este curral, que é

de grande ouvida, e me ponhas em logar alto, e me leixes tanger

meu corno que trago para esto, a tanto ataa que me saia a alma

do corpo. E em nesto filharás vingança de mim, e teus filhos e

parentes haveram prazer, e a minha alma será salva. Esto me

nom deves negar, por salvamento de minha alma, ca sabes que,

per ta lei, deves salvar, se poderes, as almas de todas as leis’.

Esto dizia el por fazer viir ali todos seus filhos e parentes, por se

vingar deles, ca em outra guisa nom os poderia achar em uu, e

porque o curral era alto de muros e nom havia mais que ua porta

per u os seus haviam d’entrar.                 

 

Não satisfeita em ter traído o marido durante o episódio de seu cativeiro, a rainha agora reitera a admiração pelo rei mouro Alboazer, afirmando ser ele melhor do que o rei Ramiro.

Em uma Idade Média amplamente dominada pelos homens, e onde as mulheres pouco espaço conquistaram no âmbito das escolhas sobre seus destinos matrimoniais, isto é demais. Mesmo o príncipe Ordonho, que até ali se abstivera de emitir julgamento contra a mãe, não consegue conter sua indignação:

 

Eo infante disse contra seu padre: ‘Esto é o demo. Que querees

dele, que pode seer que vos fugira?’ E el rei mandou-a entom

amarrar a ua moo e lança-la no mar. E des aquele tempo lhe

chamarom Foz d’Ancora.

 

O rei age dentro do esperado para um homem medieval

de sua posição. Mas o derradeiro episódio acaba de gerar mais uma transgressão pendente. O príncipe Ordonho, filho de Aldora, levantara-se violentamente contra a mãe. Ainda que a rainha merecesse a punição dentro dos limites da lógica narrativa e dos costumes medievais, esta imprecação do filho contra a mãe é ainda uma transgressão ao mandamento de Deus, que o genealogista faz questão de ressaltar15. Como em um futuro não muito distante o príncipe Ordonho, então rei, teria se envolvido em um mau governo que atrairia contra si todas as gentes do reino (o que, conforme veremos adiante, é também uma construção do Livro de Linhagens), o genealogista aproveita para unir finalmente os dois episódios e introduzir um elemento de exemplum:

 

E por este pecado que disse o infante Dom Ordonho contra sa

madre, disserom despois as gentes que por esso fora deserdado

dos poboos de Castela. [...]

 

Punida, ela também se liberta. Embora sufocada, a sua voz ressoa e com ela ressoam talvez os clamores das muitas mulheres oprimidas pelos ditames matrimoniais masculinos das sociedades medievais.

 

Significado:

 

            A Lenda de Gaia nos Nobiliários, além de demonstrar a associação genealógica de nobres famílias portuguesas, desempenha, entre outros papéis, um específico que é o de unir certas linhagens que de outra forma não encontrariam ligação familiar, atualizando certas oposições políticas ancestrais presentes na sociedade nobiliária extra-literária. Serve para mascarar as origens adulterinas e heréticas de uma família socialmente poderosa, cujos descendentes, muito numerosos hoje em dia, compartilham, ainda que muito de longe, do sangue dos Omíadas e de seu parentesco ao Profeta do Islã.

 

 

 


Autor: Rubens Camelô


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