Relação: Nietzsche, Existencialismo e Personalismo



1 Em poucas palavras: Nietzsche, Existencialismo e Personalismo.

 

1.1 NIETZSCHE

 

            A filosofia nietzschiana marcou definitiva e profundamente o pensamento filosófico do século XIX. Nietzsche torna-se o “profeta do homem novo”, o arauto de uma nova concepção do humano; vê com desconfiança crítica os basilares valores tradicionais forjados, principalmente, pelo cristianismo. E combate, como um lobo feroz e solitário, as “artimanhas esmagadoras” da moral estabelecida de então.

Nietzsche concebe a vida como “irracionalidade cruel e cega, destruição e dor”, crê que somente a arte é capaz de dar ao indivíduo, meios necessários para enfrentar as desventuras da vida.

Em nome de um pretenso “amor a vida”, Nietzsche desfere seu golpe mais violento ao cristianismo: “Deus está morto e nós o matamos”. Para ele, eliminar Deus é dizer que o homem velho desapareceu. Sua voz ressoa: “ama a vida e que, esquecendo o‘céu’, volta à sanidade da terra.”

Imputando ao cristianismo uma maldição, Nietzsche, declara que o cristianismo é “contra a saúde, a beleza, a constituição bem-sucedida, a vontade de espírito, a bondade da alma, contra a própria vida”, todavia, sente-se fascinado pela figura de Cristo. Para ele, “Cristo é o homem mais nobre.”

A proposta nietzschiana é a da transmutação de todos os valores, pois a moral tradicional é identificada como a moral dos fracos, dos mal-sucedidos e escravizados. Com a morte de Deus e a negação dos valores tradicionais que davam segurança ao homem, o que resta é nada, o nada para onde, todos, caminhamos, o abismo do nada, da falta de sentido e de razões consistentes. Permanece, por suposto, a aceitação de si próprio e do repetir-se, aceitação do mundo como ele é; o amor pelo necessário; e o super-homem que é o homem novo, livre das “antigas cadeias” que o prendiam.

 

 

1.2 EXISTENCIALISMO

 

O existencialismo com o seu representante máximo, Martin Heidegger (1889-1976), propõe uma construção ontológica que estabeleça um modo adequado do sentido do ser. Todavia, essa pergunta sobre o ser, supõe que se saiba quem é que faz a pergunta sobre o ser. Logo, torna-se iminente uma antropologia existencial, ou seja, uma análise sobre o próprio “ente que se interroga”. Sendo, portando, o próprio homem o interrogado e o interrogador, “que já está sempre em uma situação, jogado nela; é, justamente, Da-sein (ser-aí).”

A analítica existencial postula um homem caracterizado fundamentalmente como um ser-no-mundo, ser-com-os-outros e um ser-para-morte. Essas três dimensões são um existencial, traço típico do homem. Pois, não há “um sujeito sem mundo”, nem um “sujeito isolado dos outros”. A terceira dimensão, ser-para-morte, evoca uma consciência que entende a morte como uma “possibilidade permanente de existência”. A morte nos distingue dos objetos e não nos deixa perder-nos em qualquer situação. Vislumbrar a morte, portanto, é reencontrar o seu ser autêntico e vivenciar a experiência “reveladora da angustia”, que, por conseguinte é experiência reveladora do nada. O confronto com o nada da existência “implica a coragem de olhar para a possibilidade do próprio não ser”; assim, descobrir, com efeito, a existência autêntica.

No existencialismo o ser não pode ser objetivado pela técnica, entretanto, só é desvelado pela linguagem autêntica da poesia, “linguagem que é casa do ser”. Que pode revelar o ente, as coisas, mas não o ser.

 

1.3 PERSONALISMO

 

A ideia central do personalismo, que tem em Emmanuel Mounier seu fundador, é a de PESSOA, “não-objetivável, inviolável, livre, criativa e responsável... encarnada em um corpo, situada na história e constitutivamente comunitária.” No personalismo a pessoa não pode ser analisada objetivamente, pois comporta uma multiplicidade de significados, e é sempre aberta a possibilidades. Sua dignidade não pode ser cerceada, reprimida ou reduzida, nem muito menos sua liberdade, que é a capacidade de responder criativa e responsavelmente as vicissitudes da vida, mesmo em situações de condicionamentos impostos pela natureza, sociedade e etc. “A pessoa não é ‘uma coisa’ que se pode encontrar no fundo das analises... é, exatamente, o não inventariável... centro da liberdade. É mais uma presença, do que um ser exposto; presença ativa e sem fundo.”

Para Mounier esse ser presença apresenta três dimensões: Vocação, encarnação e comunhão. A dimensão vocacional da pessoa é o sentido de vida que dá a pessoa o direcionamento autêntico de sua existência. A dimensão de encarnação é a aplicação prática dessa descoberta de sentido, é o assumir na própria história e em seu contexto um modo de engajar-se na sociedade. Por fim, mas não menos importante, encontra-se a dimensão comunitária que se entende como a abertura ao outro, pois só existe pessoa enquanto existe um outro com quem eu me relaciono. Mounier propõe três exercícios que se deve fazer para que a pessoa tenha “sucesso”: meditação, engajamento e renuncia de si; respectivamente às três dimensões da pessoa: vocação, encarnação e comunhão.

Para o personalismo não existe modo mais autêntico de existir “toda a evolução da natureza converge no momento em que surge esse acabamento do universo”: a PESSOA.

 

2 Co-relacionalidade

 

Essas expressões filosóficas, brevemente apresentadas acima, relacionam-se mutuamente, mesmo que haja divergências em alguns aspectos e métodos, não é possível desvencilhá-las, uma das outras, tão completamente.

Claramente se percebe um fio condutor dessas correntes filosóficas, o homem em todas elas encontra-se em destaque. Existe, portanto, uma preocupação antropológica que desencadeia em um humanismo evidente. A busca maior dessas três perspectivas filosóficas está na concepção HOMEM, seja ele um super-homem (em Nietzsche), ou o Da-sein (em Heidegger), ou ainda a pessoa (em Mounier), não deixa de versar sobre o mesmo ser – humano.

A liberdade, o apropriamento de si, a ideia de realização, também é um ponto convergente entre eles. Igualmente, a ideia do Nada como experiência última e extrema é presente.

Em todas elas, o homem é um ser de possibilidades, múltiplo e capaz do ilimitado. Assume o papel de protagonista da própria historia, enquanto é sempre um ‘ser’ em movimento. Soberano e sempre em relação seja com sigo mesmo, com o mundo, ou com um “além” (transcendente).

Entretanto, há diferenças fundamentais entre elas. Enquanto Nietzsche rejeita o divino, no personalismo, torna-o fundamental. Enquanto no existencialismo encontra-se uma carga teórica gigantesca, no personalismo, porém, o engajamento é condição nevrálgica. No existencialismo (ateu) o outro é “o inferno”, enquanto no personalismo é oportunidade de abertura.

Em Nietzsche paira a sensação de pessimismo em relação à vida. No personalismo a vida é percebida de uma maneira mais otimista, enquanto no existencialismo a imparcialidade é latente, pois a vida depende da autenticidade do ser.

Contudo, a respectiva relação estabelecida entre essas perspectivas filosóficas, de forma alguma esgota a análise entre elas, mas apenas esboça de maneira superficial, a co-relação existente entre elas.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2006. 6 v.


Autor: Carlos Alexandre Gonçalves de Jesus


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