TRANSMUTO



Na pequena cidade de Estranheza aconteciam muitas coisas incomuns. Com sua população densa era um lugar de fatores característicos e movimentações não muito habituais. Em um dia como os outros qualquer, chegou à cidade um ser que nunca havia estado por aquelas localidades. Sua categoria TRANSMUTO. Este ser único se alimentava das aparências das pessoas. Todos com os quais ele mantinha contato ele absorvia sua aparência. A pessoa de quem ele se alimentava da aparência ficava com um aspecto disforme e feio e ele por sua vez passava a ter a aparência bela do outro. Mas havia uma peculiaridade: se a pessoa de quem ele roubou a aparência também fosse bonito interiormente quando esta pessoa ficava na frente de um espelho ou era refletida em qualquer porção de água a aparência real que fora roubada aparecia na superfície refletida.
 Este ladrão de beleza, porém jamais de alma rodou a cidade da Estranheza se alimentando de várias pessoas. Para ele não importava a idade ou classe social de quem ele se aproximava. O que sempre importou a este estranho ser de nome TRANSMUTO era apenas e realmente a beleza do indivíduo no qual ele entrava em contato.
 Ele encontrou certa ocasião a Miss da cidade, mulher belíssima. Pele tão alva como a neve e de pele tão sedosa. Quando nosso amigo se encontrou com tão linda jovem ela se tornou uma velha. Esta jovem tão perversa apesar de tamanha beleza. Ela fez de todas as trapaças possíveis para se tornar miss da cidade. Foi capaz até mesmo de envenenar a comida de uma oponente para que a mesma não participasse da final do concurso. Parece que o individuo com a beleza roubada tinha a sua aparência nova exposta como o reflexo de sua pobre alma. Por isso a miss se tornou um ser repugnante e muito feio.
 Ele se encontrou também com o filho do prefeito da cidade. Um dos rapazes mais belos e desejados de toda a região. Porém este era corrupto como seu próprio pai. Havia participado como organizador da campanha política de seu pai e ele mesmo embolsou boa parte das verbas públicas e de campanha desviando-as para sua conta bancária pessoal. Qual não foi a surpresa de que quando teve o encontro com TRANSMUTO, este ficou com a pele toda enrugada e envelhecida, parecia até um velho e não um jovem de vinte e oito anos. Nenhuma moça mais agora iria correr atrás deste tão cobiçado rapaz.
 TRANSMUTO foi assim absorvendo um a um. Em uma das noites em que peregrinava pelas ruas da cidade ele se deparou com um adolescente. Um menino novo, porém tão radiante e tão ajudador das outras pessoas. Este rapazinho tinha já organizado campanhas beneficentes para ajudar colegas de sua escola a terminarem seu curso ginasial, porque suas famílias em dificuldade não conseguiram pagar até o fim e se não fosse à ajuda deste jovem eles teriam que parar de estudar. Ele ajudava a promover um sopão uma vez na semana nas madrugadas para alimentar os menos favorecidos da cidade. Tudo o que era possível fazer para ajudar pessoas necessitadas este rapazinho fazia. Tudo o que estivesse ao seu alcance ele realizava em benefício de seu semelhante. Ele era um dos jovens mais bonitos de sua cidade, com uma vida financeira estável por sua família possuir tamanha riqueza, porém seu coração era de tamanha nobreza. E em se encontrando com o TRANSMUTO perdeu aquela sua beleza da juventude. O rapaz ficou irreconhecível. Porém ele demonstrou uma atitude diferente dos outros que ao serem atingidos eles se recolhiam e se escondiam de todos. O rapaz, porém não foi detido por tamanha desgraça. Parece que isto lhe deu mais forças para agora fazer bem maior aos necessitados de sua cidade e redondezas. E sempre que ele ia ao lago da cidade para ter momentos de reflexão à imagem que era exibida na superfície do lago era a sua real com tremenda nitidez. Um dia o próprio TRANSMUTO já desejoso de se mudar para outra localidade com o objetivo de mudar de ares e encontrar outros para roubar sua beleza, encontrou o rapazote e observando a atitude dele de felicidade apesar de algo que poderia ter lhe causado tamanha dor, o metamorfo simplesmente devolveu ao rapaz sua aparência anterior e partiu de Estranheza para nunca mais voltar.

Autor: Marcio de Nassau


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