A Botija



Carlos Primo, sujeito desengonçado, mas sério e trabalhador. Aposentado dos Correios e Telegrafos muito se orgulhava de ser aposentado como "servidor federal". Sua esposa, Dona Terezinha mulher culta, religiosa, cabelos grisalhos, pele branca e sorriso sempre pronto. Pois bem. Carlos Primo não bebia, mas sempre vez por outra contava aos amigos que tinha um "grande segredo". Na tarde de uma Quinta Feira, Carlos Primo reunido em volta da mesa de gamão, resolveu contar seu "segredo". Rapaz, sabe a casa que moro? comprei com o dinheiro de uma Botija."De uma Botija?", varias vozes perguntaram ao mesmo tempo. Ele respondeu-sim e vou contar a estoria agora. Eu morava em Areia, na Paraiba e era chefe da Agencia dos Correios e Telegrafos de lá. Uma noite estava dormindo numa rede e uma mão enorme, pegou no "punho" da rede, balançou, me acordou e a voz disse:Carlos, queres ficar rico?". Então respondi: quero. Ele disse: me acompanhe. Fomos descendo a escadaria da casa, passamos por uma rua escura, avistamos umas "bananeiras" e uma cerca de arame. Lá longe, uma casa. Fomos eu e a alma até a casa. Entramos e num dos quartos, a alma colocou a mão numa parede e disse: cave aqui e fique rico. Depois desapareceu. Então eu voltei pra casa e contei a minha mulher, que de cabelos arrepiados, ouvia a estoria. Dia seguinte, chamei meu cunhado e fomos em busca da Botija. Saimos sol nascendo, um frio danado e fiz o mesmo caminho que a alma me mostrou. Ao chegarmos a casa fui olhando, olhando, até me lembrar da parede. Logo avistei a parede e a mão da alma apontando. Jeremias tás vendo? perguntei. E meu cunhado disse; Vendo não estou não, mas estou pronto para cavar. E assim fizemos. Cavamos, derrubamos parte da parede e lá estava, a Botija. Uma jarra com quatorze dobrões de ouro puro. E o que fizestes com estes dobrões? alguem perguntou. Carlos Primo respondeu; levei para o Recife, vendi tudinho, comprei essa casa na praia, botei uns trocados no Banco do Brasil e é isso aí. E a alma? perguntaram. Ora a alma não vi nunca mas, mas sempre durmo com um dobrãozinho no bolso, pois se ela vier eu digo;Taí alma boa, essa é sua parte. E me acordo.


Autor: Jair Cesar De Miranda Coelho


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