As Aparências Enganam



Enfim a sexta-feira. Depois de uma semana cansativa, enfim livre do trabalho, do chefe, do transporte publico. Era até então para ser um dia normal, na frente do prédio onde trabalha C... esperava a hora do dia começar realmente, e na frente do prédio ele esperava os funcionários chegarem e aí chegou a A... uma das funcionárias. Como sempre faziam eles ficavam ali 10, 15 minutos conversando sobre o nada. Quando derepente aconteceu algo que mudaria a vida de C... para sempre. Chegou o que tudo indicava uma mendiga, ela viu a A... fumando e pediu um cigarro. A A... super gente fina deu sem pestanejar, só que enquanto ela pegava o cigarro a mendiga começou a reclamar:

--Estou passando mal, ai eu nunca me senti assim, não to conseguindo andar, eu moro lá na l... e não vou conseguir chegar lá.

C... e a A... ficaram sem reação, ficaram de mãos atadas. O que fazer? Em frente ao prédio estava estacionado um carro com uma mulher dentro e ela ouvindo tudo disse:

--Olha ali 2 policiais chama eles. Ela mesma chamou, e vieram.

--Quem está passando mal?

--Ela.

--Tá passando mal é minha filha. Que é isso na sua mão. Cigarro! Tá passando mal e esta fumando, quem passa mal não fuma. Diz numa ignorância o que parecia ser o tenente.

--É cadê o cachimbo? Pergunta o outro já empurrando.

A garota de cabelo todo bagunçado, com o aspecto de estar sujo, uma blusa rosa mas bem gasta, desbotada, uma calça jeans preta idem e uma bota fora de moda estilo aquela botas do exêrcito todo arranhada na frente dizia:

--Eu não estou com nada, eu não estou com nada.

Ela tremia que nem vara verde e estava branca, olhos vermelhos. Falava ofegante porque chorava. O policial pegou a mão dela para verificar algo relacionado a droga, olhou pro outro balançou a cabeça num negativo e disse:

--Você dorme na rua?

--Hã, eu não sei, eu não lembro, eu quero minha mãe.

--Quanto tempo você dorme na rua?

--Aí eu quero minha mãe eu to mal.

--Onde você passou a noite?

--Eu sai pra beber.

--Bebeu o quê?

--Vinho.

--Você é roqueira? Esse roqueiros só bebem vinho.

--Misturam vinho com tudo. Disse C...

--É eles são doidos. Porque você saiu pra beber?

--Eu briguei em casa.

--Por que você brigou em casa?

--A tem muita discórdia lá, ele é muito mau.

--Quem é mau?

--Meu pai. Aí eu quero vomitar.

--Quer ir pro hospital, quem passa mal tem de ir pro hospital. Pergunta o outro. Tem um hospital logo ali.

--Não eu quero minha mãe

-- Onde ela mora?

--Na l...

--Não posso levar você lá, posso levar você no hospital quer ir?

--Não só se for com a minha mãe.

--Você tem o telefone dela ai?

--Tenho.

--Então vamos para o hospital e a gente liga para ela vir te buscar.

--Não eu quero minha mãe.

A mendiga não queria nada com nada, a cena já estava enchendo, um policial se afastou e o outro já bufava. E o que bufava também se afasta, mas se dirige até um bar próximo. Volta com um copo com água. Ela nem chega a beber e já vomita. Não tinha nada no estômago.

--Tá vendo o que você arrumou pra sua cabeça, se todo mundo que tiver problema em casa fizer o que você esta fazendo como é que vamos ficar hein?

Ela mexia no cabelo e encontrou algo, o cabelo dela era volumoso, aparentava estar sujo mais bem cuidado.

--Aí, aí tira, tira.

Havia uma espécie de prizilha toda embaraçada no seu cabelo, o policial sem jeito foi puxando e ela gritou. O C... que até então só observava resolveu agire com calma tirou aquilo dela, ela lhe agradeceu, já aparentava estar melhor, C... entrou e pegou mais água.

--Bem eu tenho de ir, estão me chamando no rádio, tem certeza que não quer ir para o hospital?

--Não.

--Bem fui meu chapa.

Ela ficou ali na frente do prédio por mais uns 20 minutos. C... lhe deu mais 3 copos de água e ela tornou a vomitar, dessa vez em cima do sapato dele, ela implorou por desculpas e ele dizia que não tinha problema, e ela melhorou mais.

--Como é que eu faço para ir a l... daqui?

--Sobe aqui, no fim tem uma avenida que passa um ônibus pra lá.

--Será que eu consigo?

--Vai devagar não precisa correr, tem certeza que não quer ir ao médico?

--Tenho eu já me sinto melhor, eu já vou indo, muito obrigada, muito obrigada mesmo. Tchau.

--Tchau.

C... achou que tinha feito pouco por ela, saiu correndo e a encontrou cambaleando quase caiu de cara no chão, mas ele a segurou a tempo:

--Obrigada. Há é você?

--É sou eu vem cá.

Ele a levou até um ponto de táxi onde ele conhece a todos, e pediu um favor:

--M... você pode levar ela aonde ela mora e depois a gente acerta?

--Beleza mais ela sabe onde é a casa dela?

--Você consegue chegar lá?

--Sim consigo.

Ela estava muito zonza novamente mal conseguia falar. C... se despediu fechou a porá e viu o táxi ir embora. Quando depois contou a história ninguém acreditou nela, diziam:

---Devia estar drogada, disfarçou com medo de ser presa, devia estar com síndrome de abstinência.

2 dias se passaram, C... já estava dentro do prédio onde ele trabalhava, preenchendo protocolos um dos serviços que ele mais odiava, quando uma jovem com um vestido rosa e sandália combinando, cabelo molhado - exalando aquele cheiro de shampoo que só fica nas mulheres - amarrado para traz, uma pele clara, com bochechas rosadas e um sorriso sem igual, entrou e disse:

--bom dia.

--Bom dia em que posso ajudar?

--Ajudar mais, não acha que já chega?

--Como?

--Não lembra de mim? Claro como poderia não é.

--Não lembro mesmo deveria?

--Você me ajudou a 2 dias desculpe ter vomitado em você.

--A meu Deus!

Risos

--Desculpe-me você está tão...

--Diferente, eu sei.

Conversaram por mais de uma hora, ela lhe contou sobre o real motivo de ter passado a noite na rua naquele dia. Seu pai traíra sua mãe com sua melhor amiga, eles eram bem de vida, entraram com o divórcio, e na partilha aquela briga de sempre quem fica com o que ou o que mais afetava ela: com quem. Sim a briga era com quem ia ficar a sua amada irmã. Ela já era de maior podia decidir com quem ficar, mais também não era uma decisão fácil, não sabia como lidar, ai resolveu sair e encher a cara, só que fez isso com pessoas erradas, acordou no outro dia de roupa trocada sem dinheiro e sem documento.

Conversaram sobre tudo e um pouco mais, marcaram um encontro. E vingou, hoje eles estão casados a 10 anos, têm uma menina deles mesmos e um menino adotado, C... saiu de seu empreguinho e ajuda ela a administrar uma das empresas dela. Disseram que era um casamento entre a princesa e o plebeu, e de fato era, ele não era ninguém. Ela dizia que se apaixonou por ele no dia que ele a socorreu, o modo gentil que ele a tratou. Ela até abriu uma espécie de ong onde ela ajuda pessoas necessitadas. E para ele valeu ter aplicado o que sua mãe sempre dizia: "A mais felicidade em dar do que a em receber, meu filho, pois por traz de um mendigo pode ser Deus te testando". Se ele foi testado ele não sabe mais que foi realmente recompensado por sua bondade isso ele foi.


Autor: Carlos Alberici


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