Professor: Vilão ou Mocinho?



Sempre me pergunto até que ponto um professor é o vilão ou o mocinho na questão da educação sexual? Por que afinal não conseguimos trabalhar este tema em certas regiões?

Entendo perfeitamente que os governos deveriam investir em educação e que a preocupação deveria ser realmente a de desenvolver ações que pudessem ajudar os jovens a ter um futuro mais saudável e com ferramentas para construção de um social mais adequado a sua realidade. Infelizmente em questões da educação sexual ainda está longe de acontecer, ou talvez nem aconteça nos próximos 50 anos. São muitos tabus e falta de investimentos que certamente irão refletir nas próximas gerações.

Sei que muitas instituições pregam a sexualidade como algo negativo e que muitos pais não autorizam seus filhos(as) a freqüentar as aulas de educação sexual, como se isso fosse incentivar a pratica precoce do sexo pelas jovens, muito pelo contrário. As pesquisas têm demonstrado que a implantação séria deste tema ajuda a prevenir muitos problemas sociais em relação à prostituição de menores e a redução de doenças do sexo.

Penso que estas desculpas não colam mais e que deveríamos brigar por questões realmente verdadeiras da sexualidade. Afinal a sexualidade já domina nossa sociedade a muito tempo, veja a propaganda de televisão com imagens sexuais, os desenhos animados, a moda e os índices de gravidez precoce e DST/AIDS em sua cidade. Aí vem o governo e implanta a propaganda de uso de camisinha como forma de fazer prevenção para redução de doenças do sexo, puro desconhecimento e falta de pessoas especializadas para tratar do assunto.

Parece uma grande industria de compra e venda de preservativos e lavagem de dinheiro público na verdade. Só isso não adianta muito não. Os índices de doenças não têm diminuído e nunca se fez tanta propaganda com isso. O caminho não é este, venho falando disso a mais de 10 anos.

Mas vejo isso como uma outra grande desculpa que sempre lançamos quando deparamos com as nossas próprias dificuldades no assunto, afinal formos pessoas que também não recebemos a educação sexual, temos muitos problemas sexuais que atrapalham a nossa felicidade afetiva e estamos acostumados a emitir qualquer desculpa para não demonstrar estes problemas.

O problema é que estamos fazendo a mesma coisas com nossos filhos e provavelmente eles terão os mesmos problemas quando ficarem adultos, cheios de dúvidas e mitos para carregar nas costas, isso pesa muito e pode causar a morte de muitas pessoas.

Em pesquisas realizadas pelo site www.sexologia.com.br do ano de 2000 até a presente data levantamos mais de 80% do público de professores que alegam ser favoráveis a implantação de temas na sexologia em suas escolas, mas ao mesmo tempo possuem medo de trabalhar o tema em sala de aula. Isso é fácil de compreender.

A falta de cursos específicos para os professores (falta de qualificação, de investimentos reais na educação) é renegada, com isso o professor termina por lecionar a matérias de qualquer modo, sem preparo e formação adequada.

Resultado, ele termina coletando informação aleatoriamente em livros ou sites que tratam exclusivamente de doenças sexualmente transmissíveis, AIDS. Infelizmente para muitos professores isso é mais que suficiente, mas para a sexologia isso é muito pouco. Isso não é educação sexual.

Educar para a sexualidade envolve questões de papéis de gênero, machismo, feminismo, fantasias, desejos sexuais, masturbação, desenvolvimento do corpo, questões variadas que são a verdadeira necessidade de conhecimento de crianças e jovens nas escolas.

Infelizmente sei também que o professor alega sempre que não tem verba para se formar, para fazer a qualificação digna; que os salários são baixos e que são cobrados em excesso. Sei porque também sou professor e tenho os mesmos problemas que a classe vivencia todos os dias.

Mas como sexólogo não posso deixar de falar que toda estas responsabilidades também é nossa, querendo ou não. Somos os educadores, nós devemos escolher as prioridades da educação. Se acharmos que devemos incluir a educação sexual em sala de aula, então devemos ter consciência que não basta abrir a matéria de qualquer maneira, temos que promover a capacitação, o estudo, a atualização de nosso conteúdo para podermos depois ensinar, desenvolver o tema.

Não adianta fingir que entende de sexualidade; quando seu aluno vier com aquela pergunta que você reza para ele não perguntar e você não souber responder ou ele sentir que sua resposta foi igual a muitas outras que ele tem por ai, então me desculpa, mas você acaba de ter mais uma falha no processo educativo.

É, não tem como escapar, querendo ou não somos educadores, nossa função deveria ser a de lecionar e brigar pela liberdade de ensino, mas não fazemos isso. Nos calamos em prol de um salário que nem digno é, terminamos por não ganhar bem e também não trabalhar o que deveríamos.

Já imaginou se na época da ditadura militar não houvesse pessoas que brigassem contra o sistema e se todos tivessem ficado calado por um emprego? Como será que estaríamos hoje em dia? Agora a pergunta para você pensar. O que você quer para o futuro de sua filha?

Charles Rojtenberg
Sexólogo- Psicologo
Mestre em Sexologia pala UGF-RJ
Professor da UniNorte
Fundador do Instituto Brasileiro de Sexologia
www.ibrase.com.br ou www.sexologia.com.br
Autor: Charles Rojtenberg


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