Regressão à média



Durante muito tempo acreditou-se que uma seleção acurada teria o condão de alterar os resultados finais da natureza. Um rei espartano foi destituído por insistir em casar com uma mulher de baixa estatura; ia fazer com que Esparta tivesse uma dinastia de baixinhos. Aquela época o pequeno caporal de 1,58m ainda não tinha sido imperador dos franceses e o maior general de seu tempo. Na verdade o gênio corso jamais entraria nas nossas academias militares modernas por falta de estatura, talvez acabasse economista, o que lhe daria um poder de destruição maior do que suas divisões de artilharia. Infelizmente para os adeptos da eugenia, a natureza recusa-se a apoiar os seus desígnios.

No final do século XIX Galton fez uma experiência com ervilhas de cheiro que explicou muita coisa. Distribuiu ervilhas selecionadas por diferentes tamanhos a amigos na Inglaterra. Pediu a cada um de seus amigos cientistas que plantasse as leguminosas e medisse os resultados. Seria de presumir que as ervilhas maiores tivessem descendência com os mesmos diâmetros e as menores tendessem a manter as reduções. Nada disto sucedeu, os grãos filhos das maiores foram menores que os de seus ascendentes e os das pequenas maiores que os de sua origem.

Conclui-se que a natureza tem uma forte tendência de retorno as médias, é por esta razão que os pais gênios não têm assegurada sua prole como genial. Pelo mesmo motivo a população vai se distribuindo estatisticamente em inteligência, em estatura, habilidades, de forma uniforme ao longo da curva de distribuição de eventos. A curva em forma de sino, sempre presente para demonstrar que as excepcionalidades positivas e negativas são raridades probabilísticas em confronto com a maioria absoluta de resultados médios.

A administração de empresas confronta-se vezes sem conta com a dificuldade de escapar à tendência inexorável dos resultados médios. Para vencer a competição o que se demanda é a excepcionalidade. Medíocres tendem a ser todos já que a média é a regra. O desempenho tem que ser continuamente melhorado se o objetivo for estar à frente dos outros e ganhar em produtividade ou qualquer parâmetro que possa conduzir a sobrevivência.

Estavam errados os espartanos, os filhos do rei tenderiam à média de altura. A exceção do líder genial está no extremo da curva. O segredo para localizar-se na excelência é contratar pessoas detentoras de capacidade acima da média, mas esperar que grandes líderes empresariais tenham filhos que herdem seu brilhantismo é esperar que a lei das regressões à média não funcione.
É desejar que a lei das probabilidades estatísticas seja revogada e a matemática esquecida. Pelo mesmo motivo as flutuações da economia que tanto espantam no curto prazo, quando olhadas a longo prazo, tendem a médias impressionantemente coerentes, motivo pelo qual devemos olhar com grande cautela as exceções que se destacam do grupo principal de eventos, ou seja, fiquemos com a matemática e não nos deixemos levar pelos nossos desejos.

Petrucio Chalegre
Autor: Petrucio Chalegre


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