O Papel Do Grêmio Estudantil Na Gestão Da Escola Democrática



"Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento...
O Papel do Grêmio Estudantil na Gestão da Escola Democrática".
 
 
SÃO PAULO
2005

Marcilene Rosa Leandro Moura 
 
Monografia apresentada no Curso de Pós-Graduação latu-senso em Gestão e Organização Escolar pela Universidade Cidade de São Paulo.

Orientadora: Profª Izilda Lozano Perez. 
 
Dedicatória 
 
Dedico este trabalho à minha família que sempre esteve ao meu lado e principalmente aos meus sobrinhos Gustavo e Felipe, na certeza de que de alguma forma este trabalho contribuirá com a educação de vocês. 
 
Agradecimentos 
 
Agradeço aos meus pais Indalécio e Edinalva, por estarem sempre me apoiando em tudo o que faço, quando se trabalho com educação percebemos o valor inestimável que a família tem em nossas vidas e vocês sempre estiveram presentes na minha vida. 

À minha irmã Marcilei, pelo simples fato de existir e estar sempre pronta a me ajudar, ao meu cunhado Ulisses que fez relatos valiosos sobre o movimento estudantil que com certeza não encontraria em nenhum livro, jornal ou revista.

Ao meu marido César primeiro por me amar, segundo por me ouvir sem entender nada do que eu falo, mas ouvir sempre e em terceiro lugar por deixar o computador sempre em ordem para eu poder trabalhar.

Às minhas sempre amigas Daiane, Flávia e Cristiane, por serem sempre minhas amigas, mesmo estando longe, vocês moram no meu coração e não é de aluguel.

Aos meus sobrinhos Gustavo e Felipe simplesmente pelo fato de existirem, eu amo vocês.

Aos meus novos sobrinhos Lucas, Abel, Eloise, Andréa e Elaine que me receberam tão bem na família Moura.

Aos meus alunos da Escola Municipal Profª Lea Edy Alonso Saliba, por terem me mostrado como é bom ser professor e como somos importantes na sua formação, o carinho e o amor de vocês não tem preço.

Aos professores, à direção e a todos os funcionários da Escola Municipal Profª Lea Edy Alonso Saliba, por terem me recebido com tanto amor e carinho.  Muito obrigado por todo apoio, amizade, atenção e respeito.  Se pudéssemos contar sempre com profissionais como vocês a educação estaria muito melhor com certeza.

Aos meus grandes companheiros do movimento estudantil, Jack, Ulisses, Irineu, Cavalcante, Denise, Pedro e Fernanda pela colaboração riquíssima que deram a este trabalho.

Aos meus amigos da Juventude Revolucionário 8 de Outubro e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro por terem durante anos confiado em mim.  Este trabalho é fruto dos anos que vivi ao lado de vocês. 
 
Epígrafe 
 
Epitáfio
Titãs 
 

Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
 
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar....
 
Devia ter complicado menos, trabalhado menos,
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
Cada um sabe a alegrai e a tristeza que vier
 
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar....
 
 

"O verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor."
"Ernesto Che Guevara" 
 
Resumo 
 
MOURA, M. R. L. "Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento... O papel do Grêmio Estudantil na gestão da escola demorática". 2005. 91 fls.

Monografia (Pós Graduação em Gestão e Organização Escolar) Universidade

Cidade de São Paulo, São Paulo, 2005. 
 
Desde a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96 as instituições de ensino vem tentando se adaptar a uma nova realidade, a gestão democrática.  O diretor deixa de ser 'diretor" e passa a ser um gestor que com o auxílio de toda a comunidade escolar (professores, funcionário, pais e alunos) passa a coordenar de forma democrática e coletiva o andamento da unidade escolar, visando a melhoria do processo educacional de acordo com a realidade em que a unidade escolar está inserida.

Mas para que esta escola democrática exista de fato é necessário recorrermos à presença do movimento estudantil que surge oficialmente em 1937 com a criação da UNE – União Nacional dos Estudantes, nessa época a única entidade de representação dos estudantes universitários e secundaristas.  Somente em 1948 é que os secundaristas passam a ter uma entidade nacional própria.

A questão que iremos abordar nesta monografia será sobre a atuação do movimento estudantil, particularmente sobre a atuação do Grêmio Estudantil nessa nova realidade.  Já que como representante dos alunos tem papel fundamental na construção desta nova escola.

As entidades passaram pelo governo Vargas, pela ditadura militar e contribuíram decisivamente com o processo de redemocratização do país.  Os estudantes em sua grande maioria secundaristas participaram do processo das eleições diretas e incendiaram o país com o "Impeachment" do Presidente Fernando Collor.  Depois deste período de ebulição e com a nova realidade do país as entidades estudantis particularmente os grêmios estudantis ainda não se firmaram e não participam efetivamente das decisões pedagógicas da unidade escolar.  O que mostra que apesar de anos de luta o Grêmio continua sendo uma entidade auxiliar e não um ponto de referência para a efetiva construção de uma escola democrática. 

Palavras Chave: Gestão Democrática, Grêmio Estudantil, Movimento Estudantil. 
 
Abstract 
 
MOURA, M. R. L. "Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento...

The role of the Student Union in the democratic school management". 2005. 91 fls. Monograph (Post Graduation in school management and organization) Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, 2005. 
 
Since the Law of line directions and bases approval (Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96), the school institutions have been truing to get used to a new reality, the democratic management.  The director of the school is not only a director.  He abdicates his control over the school to become a manager and with the help of the whole school community (teachers, staff, parents and students), the manager starts to coordinate in a collective and democratic way the procedure of the school unit, aiming at the educational improvement according to the reality in which the school branch is part of.

However, in order to make this school real it is necessary that we draw the Student Union's presence that appears in 1937 with the creation of UNE (União Nacional dos Estudantes) National Student Union, at which time it was the only entity that represented the college end high School Students.  Only in 1948, the High School Students start to have their own national entity.

The point that we will study in this monograph is about the student movement action, particularly about de actuation of the Student Union in this new reality since as the student representative it has an important role in the construction of this school.

The entities went through Varga's government and the military dictatorship and contributed also to the process of the country redemocratization decisively.  The students, the majority os which High School ones, participated of the direct elections and inflamed the country with the "Impeachment" of the President Fernando Collor.

After this boiling point and with the country new reality, the school entities, mainly the Student Union, haven´t stood firm and haven´t participated factually of the pedagogical decisions of the school branch get.

That shows that besides years of battle, the Student Union goes on being an auxiliary entity and not a reference point to the effective construction of a democratic school. 
 
Key Words: Democratic management, student union, student movement. 
 
Lista de Abreviações  

ABE   Associação Brasileira de Educação
AP   Ação Popular
APM   Associação de Pais e Mestres
CA   Centro Acadêmico
CCE   Centro Cívico Escolar
CPC   Centro Popular de Cultura
CPC da UNE Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes
CPC-UMES Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas
DCE   Diretório Central dos Estudantes
DCN   Diretrizes Curriculares Nacionais
ECA   Estatuto da Criança e do Adolescente
ECA   Escola de Comunicação e Arte
LDB   Lei de Diretrizes e Bases
ME   Movimento Estudantil
PCN   Parâmetros Curriculares Nacionais
UBES   União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
UEE   União Estadual de Estudantes
UMES/SP  União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo
UNE   União Nacional dos Estudantes
USP   Universidade de São Paulo 
 

  1. Introdução:

Falar sobre o Movimento Estudantil é uma forma irreverente de falar sobre a história do país e da grande intervenção dos movimentos populares nas decisões políticas, econômicas e sociais que conhecemos.  Além disso, é reviver a juventude, quem na adolescência não pensou em mudar o mundo, seguir os passos do "Che", derrubar o imperialismo e construir o socialismo.  Ora, quem participou de um Grêmio Estudantil em seus tempos de escola sabe bem disso, viveu esta rica experiência.

Durante muitos anos, o movimento estudantil foi a mola propulsora de grandes manifestações e mudanças no cenário político, levantando discussões polêmicas, contangiando a sociedade e dando ao país uma cara jovem que luta por seus ideais.  Seja na época da ditadura militar, seja no Impeachment do Presidente Fernando Collor, os estudantes brasileiros sempre tiveram através de suas entidades espaço para manifestarem suas opiniões.

De acordo com o Artigo 1º do Título I – Da Educação – da Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional sancionada em 20 de dezembro de 1996, "A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa e nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais".

Ainda no texto da LDB em seu Título II – dos princípios e fins da Educação Nacional – artigo 3º, sessão VIII diz que o ensino será ministrado com base nos princípios da "gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino".  Além da LDB, a Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e as Diretrizes Curriculares Nacionais tratam desta formação integral, aliando à educação formal, questões relacionadas à cidadania, cultura, direitos e deveres, entre outros aspectos aprendidos dentro da unidade escolar.

Fica evidente pelos trechos da legislação educacional brasileira mencionados que participar da organizações estudantis é um complemento vital na educação da criança e do adolescente e que se deve de fato proporcionar à estes estudantes condições para que se organizem nos estabelecimentos de ensino exercendo sua cidadania.  Isto é possível através do Grêmio Estudantil, entidade legal, reconhecida pela Lei Federal n.º 7.398 de 04 de Novembro de 1985 (anexo).

Quando pesquisamos sobre a história do movimento estudantil, percebemos seus altos e baixos, momentos de grande politização e mobilização influenciando a sociedade e outros de total partidarização e alienação caindo num profundo anonimato, mas nunca deixou de ser irreverente e contestador, não é à toa que os estudantes elegeram como grande ídolo o revolucionário Ernesto Che Guevara.  Freire (1995) diz "(...) não acredito em revolução que negue o amor, que coloque a questão do amor entre parênteses.  Nisso eu sou guevariano, che-guevariano.  O amor e a revolução estão casados (...)".  Desse entendimento de Paulo Freire podemos perceber o motivo de tamanha identificação da juventude com Ernesto Che Guevara.

Na Cidade de São Paulo o movimento estudantil é representado pela UMES – União Municipal dos Estudantes Secundaristas, fundada em outubro de 1984 e reconstruída em 1990, a UMES/SP é a entidade responsável pela agregação destes Grêmios Estudantis.

A palavra Grêmio tem origem no latim "gremiu" que quer dizer sociedade, associação, ou seja, "estado dos homens que vivem sob leis comuns, corpo social, agremiação".  Segundo informações constantes no site da entidade municipal o Grêmio Estudantil

"... é um poderoso instrumento para você e sua galera começarem a apertar uns parafusos desse mundo que anda meio desajustado, precisando de uns empurrões. O Grêmio é o avesso da hipocrisia, do corte de verbas, da corrupção, da poluição, das drogas e da desigualdade, um laboratório para experiências democráticas, de procuras e encontros mil...".

Assim como a atual legislação educacional trata da formação integral do cidadão, trata também das transformações na Unidade Escolar, através da implementação da Gestão Democrática. 

Gestão Democrática quer dizer "gerência, administração, ato de gerir" e Democracia "é uma forma de governo na qual o poder emana do povo e em nome dele é constituído, soberania popular, igualdade" A democracia é uma antiga forma de governo que surgiu na Grécia no século VI a.C., implantada por Clístenes.

Mas como o Grêmio Estudantil contribui com este processo?  Qual a relação que existe entre o Grêmio e a comunidade escolar?  Qual papel o Grêmio desempenha para que a gestão democrática seja uma realidade da unidade escolar?  Qual a atuação da entidade municipal junto aos Grêmios e às questões pedagógicas da escola?

Enfim, se a gestão democrática é a participação efetiva de toda a comunidade escolar num projeto educacional, nada mais justo que o Grêmio Estudantil, que representa os estudantes de determinada unidade escolar esteja presente e participativo nas decisões que envolvem estas questões educacionais.

Discuti-las é fundamental para entendermos em qual grau de participação se encontram os estudantes e suas organizações no processo de democratização da escola, como podemos melhorar este processo e como os estudantes através do Grêmio Estudantil, podem participar e contribuir decisivamente com a construção desta nova escola.

Este processo de democratização da escola passa necessariamente pela participação dos estudantes acerca destas discussões.  Isto pode ser feito de várias maneiras, sensos organizados pelos Órgãos Educacionais, pela própria escola, por meio de questionários respondidos pelos alunos, enfim, mas a maneira mais eficaz de levar o estudante a participar verdadeiramente deste processo é pelo Grêmio Estudantil, que está ali, diariamente na unidade escolar, vivendo o dia-a-dia da escola.  Afinal de contas, para participar do Grêmio é necessário ser estudante devidamente matriculado e freqüente.

É através do Grêmio Estudantil, consciente do seu papel transformador, que os estudantes poderão de fato e verdadeiramente discutir, opinar e participar da construção desta nova escola, se transformando em cidadãos críticos e participativos. Consequentemente contribuindo com a construção de uma nova sociedade.

Para construirmos este trabalho e entendermos esta relação, iniciamos com uma revisão da literatura existente percorrendo a história do Movimento Estudantil, desde movimentos pioneiros da nossa mocidade em 1710, no período colonial, passando pela Inconfidência Mineira, pelos movimentos abolicionistas, defendendo a consolidação da República ao lado do Marechal Floriano Peixoto, passando pela criação da UNE – União Nacional dos Estudantes e posteriormente das entidades estaduais e municipais chegando aos nossos dias.

Ainda nesta revisão da literatura, fazemos um breve relato sobre a história da educação brasileira até chegarmos nesta atual discussão que trata da gestão democrática. 

Num segundo momento partimos para a pesquisa de campo onde inicialmente tínhamos a intenção de pesquisar através de questionários enviados por meio de correio eletrônico tanto para os gestores escolares quanto para os Grêmios Estudantis a atual relação existente entre o Grêmio e o Gestor.  Contamos inicialmente com o auxílio da UMES/SP que nos forneceu num primeiro momento um mailing com o endereço eletrônico de escolas da rede pública e particular de ensino fundamental e médio situadas na cidade de São Paulo e também dos Grêmios Estudantis constantes nestas unidades escolares.

Enviamos 1.714 e-mails para os gestores das referidas escolas, sendo que apenas 18 gestores responderam o referido questionário.  Enviamos também 47 e-mails para Grêmios Estudantis, sendo que apenas 3 responderam o questionário.  Por conta do número insuficiente, quase irrisório de questionários respondidos e devolvidos, percebemos a inviabilidade da realização desta pesquisa.

Partimos então para uma nova forma de verificar esta participação do Grêmio Estudantil na Gestão Democrática, e decidimos então levar em consideração para esta discussão o encaminhamento que a entidade municipal dos estudantes secundaristas dá aos Grêmios Estudantis filiados. 

Os ex-dirigentes da entidade municipal Carlos Alberto Cavalcante Alves, que participou do processo de construção da UMES, Ulisses José Ramos e Irineu Utida, que participaram do processo de reconstrução da entidade e também da reformulação do Centro Cívico Escolar para Grêmio Estudantil novamente, responderam a um questionário enviado por correio eletrônico relatando fatos que contribuíram com o entendimento da construção do movimento estudantil.  Os ex-dirigentes Jacinto Moreira Milagres, Denise Aparecida Souza Freitas, Pedro de Campos Pereira e Fernanda Calvi Anic de Almeida, que participaram da diretoria pós processo de reconstrução da UMES relataram a atuação da entidade junto aos Grêmios Estudantis e destes Grêmios junto às escolas.

Concluindo este trabalho, faremos uma discussão sobre a revisão da literatura já elaborada e os questionários respondidos pelos ex-dirigentes da entidade verificando qual o papel que o Grêmio Estudantil assumiu até então e deve assumir daqui pra frente nesta nova realidade brasileira e quais medidas práticas precisam ser implementadas para que o Grêmio Estudantil seja de fato a voz dos estudantes tanto junto à direção da escola como à entidade estudantil que congrega o pensamento dos estudantes e tem como ponte o Grêmio Estudantil e vice-versa, criando uma situação harmônica e definitivamente democrática. 

2. O Movimento Estudantil: 

2.1. A contribuição da mocidade na construção da Pátria: 

Apesar do movimento estudantil organizado e sistematizado ter ocorrido em 1937 com o surgimento da UNE, a participação estudantil na vida política brasileira começa muito antes inclusive da independência do Brasil.

Segundo Poerner (1979) a primeira manifestação estudantil anotada na história brasileira ocorre no ano de 1710, quando os franceses invadiram o Rio de Janeiro e foram encurralados por jovens estudantes de conventos e colégios religiosos.  Mais tarde em 1786, José Joaquim Maia funda no exterior um clube secreto para lutar pela independência do Brasil, um dos membros deste clube o jovem Domingos Vidal de Barbosa chegou a participar da Inconfidência Mineira. 

Posteriormente, durante o Brasil Império Poerner (1979) cita:

"Ademais, ainda que nem sempre seja registrada no plano físico, é notória a participação estudantil no plano ideológico dos movimentos revolucionários brasileiros anteriores à independência.  Os estudantes é que trouxeram da Europa as idéias revolucionárias de Voltaire, Rosseau e Montesquieu, e a eles coube ãouía-las, através de suas sociedades e clubes secretos.  Foram eles que serviram de veículo quase exclusivo para a introdução no Brasil, daqueles ideais, até que se concretizasse, em 1827, o sonho inconfidente da fundação de uma Universidade no País."

Com a criação das primeiras faculdades brasileiras os filhos da oligarquia paulista e do latifúndio açucareiro pernambucano adentram às instituições de ensino superior e rapidamente se engajam nas campanhas pela Abolição da Escravatura e pela Proclamação da República. Há estudantes engajados também na Revolução Farroupilha que ocorreu no Rio Grande do Sul e também na Sabinada na Bahia (POERNER, 1979).

Em 1845 os estudantes de Direito de São Paulo fundam a Sociedade Epicurea.  Já em 1852, estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia fundam a primeira associação estudantil com o objetivo claro de alforriar escravos, denominada de "Dois de Julho".  Enquanto os estudantes civis se empenham na campanha pela Abolição da Escravatura, a juventude militar funda a sociedade "Libertadora".  Juntamente com a campanha abolicionista se desenvolveu a campanha pela Proclamação da República com o surgimento de vário Clubes Republicanos Acadêmicos e um entrosamento entre a juventude militar e a juventude universitária (POERNER, 1979).

Segundo Poerner relata em sua obra (1979), na fase republicana o movimento estudantil tem uma queda, apesar de todo nacionalismo e ousadia que seu governo apresentava e que tanto agradava a juventude militar, mas com a eleição de Prudente de Morais em 1895, a juventude militar perde o apoio presidencial.  Com um presidente civil eleito, ocorre então a primeira manifestação da juventude civil na primeira República e um dos primeiros manifestos estudantis, elaborado pelos estudantes de Direito da Bahia quando do sangrento desfecho da Guerra de Canudos que ocorreu entre 1896 e 1897.  Posteriormente, houve uma rígida separação entre jovens civis e militares, apesar dos pensamentos e certezas por uma Pátria livre continuarem iguais.

Na primeira República os estudantes estão desorganizados e sem uma coordenação.  Somente em 1909, com a trágica morte de dois estudantes de medicina durante uma manifestação comemorativa é que aparentemente o movimento estudantil ressurge, assumindo decisivamente a Campanha Civilista de Rui Barbosa, contra a militarista do Marechal Hermes da Fonseca, vencedor do pleito eleitoral (Poerner 1979).

Segundo informações contidas no site da UNE, em 1901 surge a Federação de Estudantes Brasileiros que teve pouco tempo de duração e não conseguiu atingir seu objetivo principal que era dar organicidade ao movimento. Em 1910 é realizado o I Congresso Nacional de Estudantes, sem maiores conseqüências efetivas para o movimento a não ser grandes debates filosóficos.

Foi Olavo Bilac, que conclamou e empolgou a juventude quando do advento da I Grande Guerra.  Os estudantes paulistanos convocaram no dia 11 de abril de 1917 um comício no Largo São Francisco seguido de passeata contra o torpedeamento do navio Paraná pelos alemães (POERNER, 1979).

Com o surgimento ainda em 1917 da Liga Nacionalista, a juventude paulista se vê novamente organizada em campanhas de cunho cívico e social, criando inclusive cursos noturnos de alfabetização para moços proletários.  Os estudantes universitários que sempre participaram politicamente das decisões do país e realizavam passeatas tentando esclarecer o povo sobre a importância do voto.  A Liga participou também ativamente da campanha contra a "Gripe Espanhola".  Mas este era o fim da Liga Nacionalista que ainda teve fôlego para participar junto com o Grêmio Álvares de Azevedo da campanha presidencial de Rui Barbosa, politizando e esclarecendo as camadas populares, ocasião em que novamente o candidato dos estudantes foi derrotado desta vez por Epitácio Pessoa, candidato do governo.  Posteriormente assume o governo Artur Bernardes, mas neste momento a juventude brasileira já está totalmente apática (POERNER, 1979).

Em 1924 os estudantes da Faculdade Nacional de Direito realizam uma campanha pela construção da Federação de Estudantes Brasileiros.  Em 1929 um grupo de universitários carioca criam a Casa do Estudante do Brasil presidida por Ana Amélia ãouía Carneiro de Mendonça.  Até então não havia uma divisão entre movimento secundarista e movimento universitário e as entidades existentes não ãouíam uma grande entidade que congregassem os seus interesses.

Quando do final da República Velha, os estudantes voltam à cena política apoiando o oposicionista Getúlio Vargas pela Aliança Liberal.  Curiosamente, neste período estudantes e operários se encontravam em lados opostos.  No período de existência da Liga Nacionalista, os estudantes rechaçavam as greves promovidas pelos operários, propondo inclusive ocupar o lugar dos grevistas nas fábricas.  Durante a Revolução Constitucionalista de 32 essa ruptura se torna mais visível, quando os estudantes não participam do grande movimento grevista organizado pelos operários e consequentemente quando os operários não participam do Movimento Constitucionalista encabeçado pelos estudantes.

Com o início da Era Vargas e com a Revolução Constitucionalista de São Paulo os estudantes se organizam de forma mais efetiva e surgem então a Juventude Comunista e a Juventude Integralista.  Em 1934 o então Governador paulista Armando de Sales Oliveira funda a Universidade de São Paulo, acrescentando às faculdades de Direito, Medicina e Politécnica a Faculdade de Filosofia.

A Juventude Comunista inclusive participou ativamente da preparação e realização do 1º Congresso da Juventude Operária-Estudantil, movimento este iniciado pelos estudantes de Direito do Rio de Janeiro que rapidamente receberam apoio de alunos de outras faculdades e também de organizações operárias.  No congresso a principal bandeira de luta era a luta antifascista, já que passávamos pelo período de ascensão do nazismo.  Com a realização do Congresso que precedeu a formação da Aliança Nacional Libertadora, ficou clara a necessidade de se criar um instrumento de agregação dos estudantes, onde estes pudessem contribuir com a modificação da realidade nacional.

Ainda antes do surgimento da UNE, temos a criação da Frente Democrática da Mocidade que participou ativamente da campanha presidencial de José Américo de Almeida.  Com o advento do Estado Novo é decretado o fim da Frente Democrática da Mocidade, e inicia-se no país uma nova realidade no movimento estudantil com o surgimento da UNE – União Nacional dos Estudantes, já que até então todas as entidades criadas pecavam pelos movimentos imediatistas e pelo regionalismo. 


Autor: Marcilene Moura


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