A Importância e o Desrespeito com as Matas Ciliares



Sempre estamos ouvindo alguém falar das chamadas “matas ciliares”. Você sabe o que é uma mata ciliar? Elas são importantes para o nosso ecossistema? Através desse artigo vamos tentar elucidar algumas dúvidas que persistem em nosso meio.

A vegetação que se desenvolve ao longo das margens do rio ou córrego é denominada mata ciliar também conhecida como mata galeria. Esses sistemas vegetais são essenciais para o equilíbrio ambiental. Devem representar uma preocupação central para o desenvolvimento rural sustentável. A preservação e a recuperação das matas ciliares, aliadas às práticas de conservação e ao manejo adequado do solo, garantem a proteção de um dos principais recursos naturais existentes: a água. Já imaginaram a agricultura ou a pecuária sem água? Impossível de serem praticadas!
Sabemos que a natureza é perfeita e as matas ciliares têm uma razão especial de existir. Elas controlam a erosão nas margens dos cursos d´água, evitando o assoreamento dos mananciais, ou seja, não permitem que os sedimentos carregados das partes altas cheguem com sua total intensidade aos cursos de água (córregos e rios), além de minimizam os efeitos de enchentes.

Já as raízes dessas árvores que compõem as matas ciliares servem como fixadora do solo das margens, protegendo-o contra os processos erosivos intensos. Essas matas mantêm a quantidade e a qualidade das águas, pois filtram os possíveis resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes (filtro natural) além de auxiliar na proteção da fauna local.

Vocês já pararam e observaram que as matas ciliares possuem uma grande quantidade de frutos e sementes que servem de alimentação para os animais e pássaros? Se não, façam esse exercício ambiental e cívico: vão até uma mata ciliar e fiquem por alguns minutos parados observando a sua importância para os pássaros e animais.

Não podemos deixar de destacar um dos principais objetivos das matas ciliares que é contribuir para a proteção das nascentes e dos mananciais. Hoje ao andarmos pela zona rural já estamos presenciando rios, córregos e lagoas secos ou secando, agonizando pela falta de água. Mas observem se há mata ciliar. Muitas vezes quando conversamos com pessoas mais velhas que habitam determinada região, lembram de forma saudosista de alguma fonte de água que existia ali próximo de uma “matinha” e hoje já não existe mais nada, nem mata nem água. Há casos que ainda existe o córrego, entretanto com menor vazão de água ano após ano. E a mata ciliar? Essa já não existe mais!

Já foi toda derrubada como se fosse um estorvo para o desenvolvimento. Existem também córregos que tiveram seu curso de água alterado em razão do efeito do assoreamento e até mesmo por interesse do dono da propriedade por onde o ele passa.
Apesar de protegidas pela legislação há quase meio século, as matas ciliares não foram poupadas. Como economista de formação posso afirmar que o maior objetivo do homem é o lucro e a acumulação de capital, e a exploração econômica de tudo o que for possível é que lhe garante isso. O nosso processo de ocupação “tupiniquim” esteve caracterizado pela falta de planejamento e isso destruiu os recursos naturais. No caso da ocupação das terras houve a fragmentação das matas. O homem queria ocupar o espaço com as culturas agrícolas, pastagens e as cidades. A falsa idéia de que vivíamos em terras abundantes e que os recursos naturais também eram abundantes, ou seja, inesgotáveis, incentivou a expansão da fronteira agrícola, e conseqüentemente a degradação ambiental.

Devemos lembrar aqui dos projetos de interiorização do desenvolvimento econômico onde os governos apoiavam diretamente projetos onde não havia a idéia de desenvolvimento sustentável. Havia também projetos de incentivo ao plantio e cultivo nas várzeas, porém e ainda bem que os tempos mudaram. Sebastião Venâncio Martins, autor do livro Recuperação de matas ciliares lembra que “este processo de eliminação das florestas resultou num conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e da flora, as mudanças climáticas locais, a erosão dos solos e o assoreamento dos cursos d'água”.

As matas ciliares devem ser preservadas, a lei garante isso, mas infelizmente isso não acontece. Rui Barbosa dizia: “Não foi a lei que se esqueceu do povo: é o povo que se esquece da lei. Vendo-a, todos os dias, adulterada e invertida nas mãos dos seus executores, acabou por imaginá-la impotente, descuidada e madrasta”. O homem “esquece” da lei, só lembra de seus interesses de seu bolso. Temos que nos preocupar com o futuro do planeta azul e a preservação das matas ciliares vem ao encontro dessa preocupação. Atualmente já tem mais de vinte países sofrendo com a escassez da água e tendo em vista que a água potável pode se tornar um bem natural precioso essas áreas são de extremo valor.

Já em termo de fauna, flora e biodiversidade existem espécies que são restritas a essas áreas, pois há uma interação entre os ambientes terrestre e aquático onde há vegetação como manifestação dessa interação.

Para quem quiser saber mais sobre o assunto destacamos aqui os livros Matas Ciliares: Conservação e Recuperação organizado por Ricardo Ribeiro Rodrigues e Hermógenes de Freitas Leitão Filho e Recuperação de matas ciliares de Sebastião Venâncio Martins.

Marçal Rogério Rizzo: Economista, professor universitário, especialista em Economia do Trabalho pela Unicamp, especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP de Presidente Prudente - SP). É sócio fundador da Ong ECOAÇÃO.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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