A cor de sua pele



Era uma vez um menino favelado. Muito esforçado, estudava em uma pobre escola pública, filho de mãe solteira, lavadeira. Vendeu bugigangas nas esquinas. Leu livros a que faltavam páginas, e trabalhando como boy, foi passando de série até que chegou às portas da universidade. Até tinha notas melhores que outros, mas foi preterido porque a universidade pública havia criado um sistema de quotas. E nosso herói não tinha a cor certa de pele, ele ficou de fora porque não era negro.

Agora virou moda discutir a criação de quotas, ações afirmativas, reservas protetoras, como critério para resgatar a população negra de seus baixos índices de desempenho. Nem vamos discutir as injustiças que lhes foram feitas, a começar pela escravidão. Vamos sim perguntar se o problema no Brasil é o de pessoas com dificuldades, ou se é de pessoas com a cor da pele certa.

Aliás, questão complicada esta a de dizer se alguém é negro ou não. Para se fazer funcionar uma coisa assim precisamos de definições. O critério americano, em alguns estados, é de que é negro quem tem um bisavô negro, se para definir se o antepassado é negro for usado o mesmo padrão, com 1/64 avos de sangue já se é negro, então somos quase todos neste Brasil. Mas podemos criar um método tupiniquim, uma cartela de cores, quando um candidato aos cursos especiais, ou as quotas universitárias aparecer, um funcionário lhe coloca a cartela no rosto, a partir de certo tom, definido em decreto, pois não! Está sacramentado: - O candidato é negro, pode gozar do privilégio. Ou então: - Infelizmente, seu filho, minha senhora, não é preto o suficiente pelos critérios do Ministério da Educação...Se usarmos o método de simples declaração então a confusão subjetiva está feita, teremos muitos se declarando negros para obter vantagens, os que pensam que os brasileiros não fariam isto não compreendem a psicologia dos conterrâneos de Pelé.

Então a questão é muito clara. Não precisamos, no Brasil, de mais do que programas para ajudar aqueles em dificuldades. Escolas especiais para alunos que se atrasam, investimento nos que tem menos oportunidades em seus lares. Agora, querer definir quem deve ser ajudado, a quem se devem destinar recursos e instalações especiais, pela cor da pele, é regredir aos critérios raciais para estabelecer políticas. E nossas leis dizem com transparência cristalina, “nenhuma distinção baseada em raça”, acaso os propositores destas ações racistas não lêem a constituição?

Nem podemos ficar definindo quem é negro ou não neste país, nem podemos criar estruturas para raças em particular, muito menos neste país de mestiços. E não posso imaginar coisa mais odiosa do que pessoas querendo ter esta ou aquela cor para obter vantagens sobre outros, nem quero ver candidatos à universidade tentando ficar mais escuros deitados ao sol em nossas praias. A nação tem mais a ganhar com a seleção por competência, nunca por castas, raças, ou cor da pele.

Petrucio Chalegre
Dir. Pres. da Chalegre Consultoria
www.chalegre.com.br
Autor: Petrucio Chalegre


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