Menino - Um Mundo Descobrir Com A Leitura



Menino: brasileiro, magrela e serelepe, capacidade cerebral limitada. Problemas de aprendizagem e relacionamento na escola. Seus pais, de ascendência similar, envoltos num trabalho maçante, desprezível até mesmo humilhante, pouco rentável evidentemente.

O cotidiano de Menino se resumia a freqüentar uma escola amontoado em uma sala com outros trinta colegas. Seus professores possuíam a incrível capacidade de limitar a sensibilidade, o raciocínio e os sonhos de Menino. Até porque a grande maioria de seus professores nada liam, nada escreviam, simplesmente transmitiam conteúdos adquiridos numa pseudo-universidade à algumas décadas atrás.

A bagagem cultural de Menino atrapalhava até mesmo seu processo educativo. Isso porque na sua casa assistia-se a três novelas, a vida imitava o vídeo e os sonhos alimentados pela televisão. A capacidade de observar de Menino limitava-se a três ângulos: sentado no sofá de três lugares da casa, ao olhar para um lado via sua mãe de olhar fixo na televisão – olhar bovino; à sua frente um mundo idealizado pelas elites de Copacabana apresentado na telinha global, e de outro seu pai, de olhar semi-aberto, descansando para o próximo dia de trabalho. Como podia Menino ser afetuoso com seus colegas na escola, se jamais flagrou seus pais demonstrar qualquer sentimento de afeto? Como podia Menino ler alguma coisa se seus pais e professores não o faziam?

Mal sabia Menino que sua vida estaria por mudar com a incorporação de um hábito que de início se assemelhava a uma tortura – imposta por uma nova professora – mas que com o passar do tempo se transformou num prazer: a leitura.

Enquanto lia, decifrava palavras desconhecidas, descobria um mundo paralelo. As palavras e as idéias o engrandeciam, o dignificavam. O mundo da leitura transformou tanto a vida de Menino que seu mundo precedente começou a ficar pequeno. Assim como o pinto no ovo, precisava quebrar barreiras. Sabia que tinha um mundo a explorar. A casca do ovo representava uma ameaça a sua sobrevivência.

Sua primeira ousadia foi questionar sua mãe sobre a alienação das três novelas, queria ultrapassar esses limites da comunicação de rebanho. Da mesma forma implorou a seu pai para recuperar a auto-estima, quem sabe até mesmo voltar a estudar ou mandar rosas para sua mãe.

Na escola, Menino começou a se tornar um desafio aos professores, porque seus questionamentos e leituras os forçavam a rever seus conceitos de educador. Menino exigia mais leitura, mas pesquisa, mais conhecimento. Seus colegas o invejavam e até mesmo o odiavam, mas não conseguiam entender a fonte do "milagre". Através do simples ato de ler, Menino modificou o mundo a sua volta. Cresceu, proliferou, produziu, sonhou. Descobriu que não há limites para a criatividade e para o conhecimento. Os livros criaram oportunidades em sua vida e através deles pensava com a cabeça dos outros. Tudo isso devido a um livro e uma professora que exigiu leitura – e que para não ser incoerente, também lia.

Hoje Menino está enterrado, mas mesmo nessa condição se diferencia dos demais defuntos porque em sua lápide está inscrito na data de seu nascimento uma cruz, e no seu falecimento uma estrela radiante, para a eternidade. Seu corpo está morto, mas suas idéias alimentam outras mentes brilhantes.


Autor: Douglas Orestes Franzen


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