Seis de Agosto no Acre: “não é festa, é revolução!”



“A burguesia enganava o povo, ocultando os verdadeiros fins da guerra, seu caráter imperialista, de anexação. Todos os governos imperialistas declararam que faziam a guerra em defesa da pátria... pela máscara do patriotismo, muitos crimes foram encobertos...”
(Lênin, sobre o início da 1° Guerra Mundial).

Exatamente no dia 6 de agosto de 1902, Plácido de Castro toma de assalto a cidade de Xapurí, surpreendendo o intendente boliviano com o seguinte enunciado: “Não é festa, é revolução!”. Era o início da quarta “Revolução Acreana”. As três últimas não tiveram tanto sucesso, por isso, resolveu-se consagrar a data da tomada de Xapurí.

O dia seis de agosto é feriado no Acre, comemora-se a Revolução Acreana. Comemorar é lembrar-se do passado com júbilos e festas. Então, o dia seis de agosto, para os acreanos, representa um misto de festa e revolução. O Estado quer que recordemos com alegria e orgulho o heroísmo de nossos antepassados. Heroísmo?

Sim, o heroísmo de ter guerreado com uma motivação tão nobre: o amor pelo Brasil. Eles queriam ser brasileiros e para isso entregarem suas vidas em sacrifício. Todos, seringueiros e seringalistas, unidos em torno de uma causa: tornar o Acre verde-amarelo. Pegaram em armas, mataram e morreram, por que não queriam ser bolivianos. Oh! Que estória linda, não é mesmo?

E estórias assim, tão fabulosas, tão encantadas, tão comoventes, não podem estar indiferente aos olhos da TV Globo. Em breve teremos "Amazônia: de Galvez a Chico Mendes". A revolução virou festa e a festa pretende ser revolução. Daquí a alguns dias, todos assistirão ao espetáculo em horário nobre. Quando o circo começar - a pipoca de milho suíço e coca-cola, patrocinadora da seleção brasileira – não podem faltar. As cortinas se abrirão e o show será o Acre. Nossa, que orgulho!!!

O Acre é mesmo exótico, né? Tem uma estória que o torna singular de todo o “resto” do Brasil; tem um povo que é patriótico por natureza; e tem heróis “pra dá e vender”: Galvez, Neutel Maia, Plácido de Castro, Gabino Besouro, Chico Mendes, Darly Alves, etc. Não será surpresa se lançarem também uma revista em quadrinhos à maneira de Guimarães Cardoni com o título: “História do Acre: de Galvez a Chico Mendes”.

O mito fundador não é um fenômeno meramente político, de acordo com a filósofa Marilena Chauí, está profundamente relacionado com uma sociedade autoritária. Então, festejemos a revolução que ficou indiferente à dizimação de milhares de índios e à semi-escravidão de centenas de seringueiros. Brindemos toda sorte de corrupção, pois as revoluções só servem mesmo é para enriquecer os líderes e deixar na miséria os liderados.

Patriotismo e avareza não se misturam na história de um Acre apinhado de revoluções, muito menos em cenas globais repletas de censura. Os rios de dinheiro que jorravam das “veias” abertas de uma certa árvore nos confins da Amazônia não foram tentações suficientes para fazerem pecar nossos antepassados. Seis de agosto: é festa global ou revolução florestal? Nesse mundo tudo é possível, não é mesmo???

Eduardo Carneiro é acadêmico do mestrado em Letras na UFAC.
Autor: eduardo de araújo carneiro


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