CONTO: Procura-se desesperadamente...



Procura-se desesperadamente...

Amigos estamos reunidos aqui para juntos pedir em nome de nosso senhor que possamos encontrar...
- pediram resgate? – interrompe alguém.

O murmúrio começa:
- Resgate?
- Ai meu Deus!
- Quem falou?
- Ai meu Deus!
- Foi o azul!
- Ai meu Deus!
- Calma gente!
- Pobre quati!
- Ai meu Deus!

Alguém se destaca na multidão e aos poucos tenta se afastar sem chamar atenção, mas é inútil.

- Aonde você vai?
- Errrrrrrr desculpa gente, mas estou na lamúria errada, estou procurando minha caneta e não esse bichinho, o quati.

- Como ousa chamar nosso querido quati de bicho?
- Quer saber fui.
- Ai meu Deus!
- A figura corada como o sol desaparece rapidamente da vista de todos, antes que o bicho pegue – pensa.
Ou, antes de pegarem o bicho, que na verdade não é um bicho.

Em nome de Deus estamos reunidos para pedir sua ajuda para encontrar o nosso quati, que por desventura do destino desapareceu como que em uma abdução...
Alguém interrompe:

- É o que?
- Abdução.
- É o que?
- Abduzido!
- E é o que?
- Levado pro céu.
- Ele morreu?
- Não!
- Seqüestrado por alienígenas.
- Então pediram resgate?
- Ai meu Deus vai começar tudo de novo!
- É o que?

Neste dia as cores pediram a Deus, o quanto puderam, até ficarem exauridos das explicações necessárias por cada palavra dita.
Quanto mais tentavam se expressar mais confuso ficava, e se misturavam os verdes com vermelhos, pretos, brancos, amarelos, azul que nada entendia e quanto mais se misturavam, mais cores saíam.
Nesta confusão toda, sem a menor explicação. Um crime fora planejado e executado num mundo quadrado e escuro.

Sem a menor idéia do proceder do meliante e do paradeiro do tal quati, o alvoroço de idéias e suspeitas toma conta da vida dos moradores do mundo quadrado.
Será isso será aquilo e assim por diante fluíra as conversas de contexto imaginário de todas as alçadas.
Embora doravante delito tornava-se cada vez mais famoso, os fatos diluíram em idéias ancoradas de receio e se desencontravam totalmente da realidade.
Imaginavam desde a morte impossível do objeto à derradeira transformação em santo milagreiro. Os dias passavam e ao contrário de outrora, as ocupações daquele mundo se tornavam cada vez mais abstratas e suas vidas agora girava em torno do tal quati.
Santo quati, aclamavam em uníssono tom. Vários moradores do mundo quadrado alegavam à operação de milagre. Diziam até que uma imagem do mesmo aparecera num pregador de roupas desocupado.
Três cores jovens juravam tê-lo visto e ainda ouvir a respeito do fim do mundo quadrado que seria em breve.
Temos de beatificar o Santo Quati, falavam.
Depois da desordem que reinava de ponta a ponta naquele universo de papelão, um grupo combinava um suicídio em massa por ingestão de água morna, outros procuravam acalmar e consolar dentro do possível.

No clímax da desventura insana o tal quati reaparece. Solidificado de total comoção por encontrar o caos reinante em seu universo, se nega a dividir com os moradores daquele mundo os delírios e pensamentos de suposição que os alimentava até o momento.
De visões desmentidas e milagres indo por água abaixo, o suicídio em massa não teve êxito, pois ninguém mais tinha coragem de navegar naquele mar de ilusões.
O pobre quati retornou cabisbaixo para seu canto, e sem explicar nada a ninguém resolveu manter-se assim por respeito a si próprio e em honra a sua sanidade, não compartilharia daquele bacanal mental e nem masturbaria o ego de ninguém negando-se a aproveitar a sua fama atual para se eleger a qualquer cargo do governo como muitos sugeriram.

As opiniões se dividiam. Uns achavam que o quati era um herói, e que desaparecera para impedir que o mundo quadrado fosse destruído. Também diziam que era um conquistador em missão nômade para novos mundos, que achara riqueza, mas perdera em nome de um grande amor inconcebível entre ele e a bucha de lavar louças.
Outros apenas diziam: É o que?
Ou perpetuavam a idéia de que o quati tinha de dar explicações e o que ele chamava de respeito, eles chamavam de egoísmo e falta de confiança, pois que mundo era aquele que ninguém podia confiar em ninguém e que a verdade sobre seu paradeiro só a ele pertencia.

Assim termina a tragédia que nunca foi esclarecida e que deixou de ser tragédia quando o silêncio tornou-se um morador esguio no reino quadrado das cores.


Nilton André Cordeiro 09/08/2006
Autor: Nilton André Cordeiro


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