O preço alto da reeleição
Nos últimos anos, presenciamos uma crise de valores na sociedade brasileira, especialmente na classe política. Cada dia que acompanhamos as notícias na mídia, nos deparamos com novas denúncias envolvendo políticos. Brasília, há mais ou menos um ano, parecia estar atolada em areia movediça e havia quem acreditava que parte dos políticos corruptos ficaria fora do próximo pleito eleitoral. Mas tudo terminou em pizza!
Para nos auxiliar na construção deste texto, recorremos a um artigo do Senador Cristovam Buarque que foi publicado na revista Primeira Leitura do mês de julho de 2005. Nessa ocasião, Buarque afirmava que a crise em que o país se encontrava era muito maior que o Partido dos Trabalhadores (PT) e atingia toda a classe política. Dizia ainda que estava claro que os partidos da oposição aproveitavam a ocasião da crise e das denúncias, para tornar suas futuras campanhas eleitorais mais favoráveis. Buarque referia-se aos postulantes do PT, dizendo que não souberam definir qual era a vontade do povo quando os elegeram. Seus políticos não souberam ouvir a população e, assim, não definiram com rigidez suas regras de comportamento político e ético. Diante disso, foram aprisionados pelo rigor da administração e das finanças públicas, sendo que o maior problema passou a ser a busca da reeleição.
Buarque lembra ainda que “[...] o PT tinha razão quando era contra a reeleição” e citou que, no começo de seu mandato, o presidente Luís Inácio Lula da Silva deveria ter enviado ao Congresso Nacional um projeto de emenda que acabasse com a reeleição.
De acordo com o mesmo artigo, a reeleição causa alguns graves problemas ao país. O primeiro deles é que o presidente Lula passou a raciocinar como se tivesse oito anos de mandato e adiou seus projetos, os quais, se realizados, poderiam ter melhorado o Brasil. Lembra que: “Com a possibilidade da reeleição, perdeu-se a pressa de mostrar a nova cara, de assumir riscos, de ser um vetor de transformação”. O segundo é que o governo Lula perdeu também a urgência executiva e ganhou urgência política. Começou a adiar seus projetos transformadores do Brasil e passou a preocupar-se apenas com a reeleição. Por fim, o terceiro e último é que Lula passou a se preocupar muito com a reeleição e deixou de ser tratado como presidente, perdendo a altivez de Chefe de Estado. Agindo dessa forma, durante seu mandato o presidente sempre será visto somente como candidato.
Para encerrar este texto, gostaríamos de lembrar de acontecimentos nos governos passados em que o PT criticava a reeleição e, até mesmo apresentava denúncias contra o presidente Fernando Henrique Cardoso, pois havia fortes indícios de compra de parlamentares para aprovarem a reeleição de FHC. Denunciou também o uso da máquina pública em prol da reeleição do presidente e dos governadores.
O PT sempre criticou a reeleição e o PSDB exaltava-a dizendo que um mandato de quatro anos era pouco para mudar um país. Agora, o papel se inverteu quem criticava é a favor e quem exaltava é contra.
Em suma, a única lição que podemos tirar disso tudo é que, dependendo do interesse (próprio) dos políticos, tudo pode mudar, mas a única coisa que não muda é o Brasil, ou melhor, quando muda, tende a ser para pior, basta vermos o estado desastroso da Saúde, da Educação e da Segurança Pública. Nós, eleitores e contribuintes, continuamos sendo enganados pelos políticos e sugados pela máquina arrecadatória. O custo da reeleição vem sendo muito alto. “[...] a reeleição faz muita diferença e está na raiz dos problemas que hoje atormentam todo o país”. Senador Cristovam Buarque
Marçal Rogério Rizzo: Economista, Professor Universitário da UniToledo, Especialista em Economia do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Amanda Pistori de Freitas: Acadêmica do 1º. Semestre do Curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Toledo de Araçatuba (SP) – UniToledo.
Artigo publicado no Jornal A Tribuna de Jales – Caderno Principal – Página A-2 – Edição no. 920 de 06 de agosto de 2006.
Autor: Marçal Rogério Rizzo
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