Produtos Orgânicos – A Volta às Origens em um Mercado que Cresce



Autores: Marçal Rogério Rizzo e Fernando Bernabé Abrahão

Que tal pensarmos em produzir alimentos naturalmente como era antigamente. Nossos avós faziam isso! Em termos comerciais isso também pode ser feito através da produção de alimentos orgânicos. Mas o que seria esse tal de produto orgânico? Vejamos o conceito que encontramos na publicação FrutiFatos: “[...] orgânico é aquele [produto] que resulta de uma produção limpa, ecologicamente correta e livre de pesticidas e adubos químicos. Envolve uma filosofia de valorização do agricultor, preservação do meio ambiente [...]”.

Encontramos outra definição que foi dada pela Codex Alimentarius, a mais alta organização internacional em matéria de alimentos, filiada à Food and Agriculture Organization (FAO): “Agricultura orgânica é um sistema de gerenciamento total da produção agrícola com vistas a promover e realçar a saúde do meio ambiente, preservar a biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo. Nesse sentido, a agricultura orgânica enfatiza o uso de práticas de manejo em oposição ao uso de elementos estranhos ao meio rural. Isso abrange, sempre que possível, a administração de conhecimentos agronômicos, biológicos e até mesmo mecânicos. Mas exclui a adoção de substâncias químicas ou outros materiais sintéticos que desempenhem no solo funções estranhas às desempenhadas pelo ecossistema". Notamos que implicitamente a Codex chama a atenção para uma característica muito importante da chamada "agricultura orgânica": o fato de valorizar a saúde do meio ambiente e não a planta.

Claro que as dúvidas que assolam esse tema não param por aqui. Será que produzir o orgânico é fácil? Fácil não é, mas impossível muito menos, basta ser persistente. Para se produzir o alimento orgânico é necessário iniciar o processo através da geração interna de todos os insumos necessários ao cultivo. O cultivo orgânico leva em conta a reciclagem máxima dos nutrientes necessários ou oriundos da produção. A terra e o trabalho humano são os insumos principais dessa modalidade agrícola. Devemos esclarecer que não se pode prescindir de sementes e adubos, no entanto, devem ser orgânicos e preferencialmente originários do próprio ambiente de cultivo para se garantir a origem e a qualidade dos insumos. Em situações de escassez ou em fase de transição da agricultura convencional para ecológica os agricultores podem adquirir tais insumos de outras fazendas orgânicas.
O agricultor que pretende partir para a produção de orgânicos não pode abrir mão da informação. Torna-se ainda indispensável o auxilio das ONG's ou outras entidades certificadoras, que atestem a especificidade e a origem dos produtos, a fim de identificá-los para os consumidores.

Um dado que serve para encorajar os pretendentes a produzirem esse produto é o aumento do consumo, para isso, deve haver um aumento na produção.
Outro ponto favorável à produção de orgânicos é o lado social que pode promover, pois se encaixa perfeitamente na produção das pequenas e médias propriedades rurais podendo vir a ser uma alternativa para fixar os proprietários a terra.
Atualmente o orgânico tem chegado as gôndolas dos supermercados ou mesmo as feiras com um preço acima dos produtos da agricultura convencional e isso tem uma explicação lógica. A “Lei da Oferta e da Procura”. Quando há uma oferta menor do que a demanda por algum produto o preço tende a subir e é isso que vem ocorrendo com os produtos orgânicos. Em segundo lugar, devemos lembrar que somos o que comemos e precisamos de alimentos que promovam a saúde. Com as inúmeras enfermidades que assombram a sociedade, acreditamos que os orgânicos viriam suprir essa necessidade. Saber que o agrotóxico faz mal à saúde todo mundo sabe! A grande mídia trouxe a algum tempo atrás uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup na cidade de São Paulo que diz: “70% da população tem consciência de que os legumes e verduras que consome são produzidos por meio do uso de produtos químicos altamente tóxicos. A mesma pesquisa aponta que 52% dos entrevistados já ouviram falar a respeito dos alimentos orgânicos. E cada vez mais enxergam neles uma alternativa aos alimentos oferecidos pela agricultura convencional”. Outro dado importante revela que o consumo de alimentos orgânicos está em franco desenvolvimento no Brasil – "O setor vem crescendo cerca de 10% ao ano, desde 1990”.

Há outro ponto a ser salientado que tem ligação ao custo de produção. A produção do alimento orgânico é bem mais barato depois de certo tempo quando comparado com a agricultura convencional, em razão de se poder utilizar a natureza a seu favor.

O maior problema da produção de alimentos orgânicos se encontra no pós-colheita, aliás, o problema da logística é o grande gargalo da agricultura brasileira como um todo. A alternativa encontrada na comercialização dos orgânicos são as feiras de orgânicos. O Estado do Rio Grande do Sul é o que apresenta maior número de feiras de orgânicos. Somente na Capital (Porto Alegre) já são 12 feiras funcionando diariamente. Em São Paulo há a feira do Parque da Água Branca que acontece todos os sábados. Em Campinas, duas vezes por semana, é possível comprar não só verduras, legumes e frutas orgânicas como também produtos de origem animal como leite, queijos, ovos, frangos e, para o espanto de muita gente, até mesmo flores orgânicas. No Nordeste destacam-se, principalmente, a produção de coco e o azeite de dendê.

Diante tantas exclamações e afirmações feitas, cumpre esclarecer que este nicho de mercado tem muito a crescer e render bons frutos àqueles que se organizarem e investirem na idéia, pois segundo pesquisa realizada no Estado de Minas Gerais, e publicada na edição de julho de 2004 da FrutiFatos, mostra que a expectativa do crescimento de vendas é de 86% para os produtos hortícolas orgânicos ofertados nos supermercados, dessa forma, pode se imaginar um grande aumento nas vendas para a região sudeste. Mesmo existindo um obstáculo que é a pequena oferta e variedade destes produtos as expectativas são animadoras.

Fernando Bernabé Abrahão – Aluno do Curso de Administração da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigüi (FATEB).

Marçal Rogério Rizzo - Economista, Professor Universitário Especialista em Economia do Trabalho, Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Artigo publicado no jornal Folha D'Oeste na edição do dia 24/09/2005 página 02.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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