Teoria Política no Campus



Certa feita, como exercício para um livro que ainda pretendo escrever, divagava sobre a correspondência adequada entre as grandes teorias políticas e instituições sociais quando transpostas ao âmbito acadêmico e, em um exercício dialético, concluí por parte do que segue.

Não entrando em teorias específicas – essas deverão tomar-me alguns capítulos na futura obra –, a maioria dos autores concorda ao afirmar que o Estado surgiu de um pacto, onde o ser humano reuniu-se em um grupo comum, delegando atribuições e poderes a outro(s) semelhante(s), pela necessidade de uma organização capaz de defendê-lo de si mesmo e dos perigos que o cercavam.

Partindo-se desse ponto-de-vista quase unânime, encontrar-se-á a possibilidade perfeitamente aceitável de traçar-se um paralelo entre a constituição do Estado e a gênese das organizações representativas dos estudantes.

Dentro de um mundo artificial, que é a universidade, sentiram-se os hominídeos (estudantes) englobados em uma estrutura autônoma de vida, com seus perigos, benesses e predadores. Sentiram-se, também, impotentes sozinhos ante o modo como a bios funcionava e decidiram então por unir-se.

Da mesma forma que os australopitheci reuniam-se em bandos para serem mais fortes e poderem enfrentar os desafios da savana e que os povos mesopotâmicos viram na gerência de suas atividades uma organização legítima para suas atividades, o estudante reproduziu, na Universidade, o molde de delegação de atribuições, para alguns semelhantes, imbuídos da responsabilidade de propiciarem o bem de todos, criando as organizações representativas, como DCEs, centros e diretórios acadêmicos.

Mas, de que importa tudo isso?

Importa, enquanto ilustrativo, que, da mesmíssima maneira que os pactuários da sociedade dão hoje as costas à política – que nada mais deveria ser do que a extensão de suas necessidades – assim o fizeram os alunos em relação a suas agremiações.

Assim como o alienado político esquiva-se das decisões e acaba submetendo-se às mesmas decisões tomadas por outros, o aluno que não age em defesa do que acredita para sua faculdade finda por sujeitar-se a um modelo concebido pelos outros. Inevitavelmente.

Portanto, bem como a política deve ser feita por todos, diariamente, a política estudantil – que é muito mais recente e imatura – é uma construção constante, que deve contar com a participação de todos, para o seu próprio bem, participando ativamente, quer seja da situação, da oposição ou da pura manifestação de idéias.
Autor: Felipe Simões Pires


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