De Aura Verborum



Outro dia estava a raciocinar sobre as palavras e toda aura, que em torno delas enxergamos. Bem como a aura humana, alguns dizem que vêem, outros não. Eu, particularmente, ainda não enxerguei uma em um ser humano, todavia as vejo em muitas palavras.

Quando copiando em sala de aula, indaguei-me sobre o sentido daqueles traços tribais, simetricamente ordenados, advindos de um artefato esquisito chamado Bic, que se perpetuava em papiros clorados e pautados, senti-me isolado num mundo artificial, onde talvez somente eu compreendesse o que grafava. Ou talvez nem entendesse, mas escrevesse instintivamente.

Comecei, então, a ler e reler, pausadamente, cada palavra, analisá-las morfológica e sintaticamente, esperando que voltassem a fazer sentido e voltei à "realidade". Dentro de nossos padrões, passei a ver a dita aura dos vocábulos, pronunciados "a la gaúcha" por mim, desviado da fala lusitana, que desviara a pronuncia do Latim Vulgar, previamente sido Latim Clássico, adotado pelos romanos como sua língua dos seus vizinhos do Lácio. E isso é o que conhecemos.

Cada palavra passou a ter uma vida, enriquecida por no mínimo 2800 anos, repetida incontáveis vezes, modificadas de acordo com a necessidade do falante, deturpada pela ignorância de uns, metaforizada pela rebusca de outros.

Conversando com um igual e assimilando que a palavra pronunciada "nôitxi" corresponde gramaticalmente à lisboeta "noite", admito que os tupis-guaranis, espanhóis, jês e outros adaptaram a palavra que havia sido moldada por mouros, lusitanos e bárbaros germânicos na Península Ibérica, após a saída dos romanos, que falavam "nox", e que, em algum ponto da história, aparentava-se com a noite grega "nyx".

A linha segue ao lembrarmos que jamais existiu um povo Grego, mas povos helênicos, que buscaram influências dos gentios, fenícios e mesopotâmicos, que como africanos são considerados descendentes diretos dos primeiros hominídeos.

Sendo os gregos e latinos lingüisticamente indo-europeus, hão de ter sofrido influências mais concretas dos povos daqueles lados, que podem ter-se expandi do para os lados da Ásia Menor, aceitos como colonizadores da América, daí até chegar aos... tupis-guaranis e jês!

Após essa reflexão, talvez induzida, pus a caneta a traçar novamente nosso alfabeto latino, mas agora pesando muito mais. Carregando conscientemente a história desde a palavra uma vez dita por algum lavrador gaúcho, que exibia a aura de quando foi bradada diferentemente por algum centurião romano e assim por diante.

Bom, as palavras têm aura, mas teriam carma?
Autor: Felipe Simões Pires


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