Nostramarx



Tive um professor que dava sua aula com várias pausas entre vírgulas, nas quais dizia: “como Marx já previa”. Achei que ele confundia Marx e Nostradamus que, dizem, previa tudo. Enganei-me. Há uma evidente relação nos comportamentos em relação a ambos.

Karl Marx leu muito, interpretou mais ainda e sentiu-se capaz de prever as relações humanas, sociais, econômicas e, para não perder a viagem, o fim da História. Simples assim.

Michel de Nostradamus sentou-se à frente de sua bacia, viu imagens e sentiu-se capaz de prever diversos acontecimentos futuros, entre eles, todos aqueles que acontecessem. Tudo em linguagem cifrada.

Os seguidores do adivinho francês atribuem-lhe a previsão de quase todos os fatos relevantes que se nos mostram. Primeira, segunda e terceira guerras, 11 de setembro, o que for. Ao bel-prazer da interpretação. Se houver uma frase que se assemelhe a algum detalhe comum ao evento, lá está o código no qual Nostradamus o previu.

Já para os seguidores do cientista político alemão, o processo é muito semelhante. Se uma empresa está bem financeiramente, confirma a “previsão” da mais-valia, exploração do trabalhador etc.; se uma empresa quebra, confirma que o capitalismo é incapaz de regular necessidades do próprio mercado e de proteger os trabalhadores da mesma.

Exemplo cabal dessa propensão a acreditar em previsões de Marx, de forma passional e sem qualquer análise que não a partir dos dogmas marxistas, é a Crise de 1929. Vasto material explicita que, devido às leis imutáveis do mercado, o boom da década anterior, custeado por empréstimos irresponsáveis feitos a esmo e com dinheiro inexistente, associado a fatores da economia internacional (período pós-Primeira Guerra) foi a causa óbvia e natural da recessão. Exatamente como previsto na ciência das relações humanas no mercado e não, n’ O Capital.

Não obstante, abraçados às previsões de seu guru intelectual/espiritual, a “superprodução capitalista” parece ter-se confirmado. Esses vibram, felizes porque conseguiram ver na situação exatamente aquilo que queriam ver.

Se fosse só, bastava. Mas não é. Com comportamento digno de religiosos fundamentalistas, discutem a obra de Marx e sua interpretação de forma teológica, buscando aproximar-se da “verdade“ do escritor. Partem então para a interpretação pura, no melhor estilo dos seguidores de Nostradamus, decidindo o que Marx queria ou não dizer.

A interpretação cabe a vocês. Como Deus, Marx é para quem acredita. Está dentro de nós e não, no livro. Basta querer encontrá-lo e lá ele estará. Na Crise de 29, no fim da crise, no governo Lula, talvez até neste meu artigo que se utiliza dos meios de produção dos burgueses e da exploração do proletariado para ser vendido e dar lucro ao porco capitalista do dono do jornal, que vai fazer a empresa crescer ou quebrar, mas confirmando o que Marx já previa.
Autor: Felipe Simões Pires


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