No Limbo



Costuma-se dizer que o Brasil é um país com muitos excluídos. Na verdade, é um país que exclui deliberadamente, enquanto acredita estar combatendo a exclusão e enterrando seu futuro em longo prazo.

Ninguém discute que haja uma massa de pessoas vivendo abaixo da linha da dignidade, com dificuldade no acesso a serviços essenciais e que dificilmente conseguem planejar ou sonhar com um porvir afortunado em decorrência de sua luta diária pela sobrevivência.

Igualmente, é sabido que há um pequeno percentual de contribuintes que dispõem de acesso imediato a quase tudo que lhes apraza, pois usufruem de uma condição financeira confortável, possibilitando-lhes os deleites que a vida moderna proporciona.

Entre essas duas classes, há outra, quase em extinção. Em qualquer país estável, ela é majoritária e quem movimenta a economia. No Brasil, porém, trata-se cada vez mais de apressar seu desaparecimento, possibilitando aos mais ricos que melhorem ainda mais sua condição e dando aos políticos a certeza de mais algumas centenas de anos de discurso contra a pobreza – pois praticamente perpetua a existência da classe baixa.

Aos pobres, os governos caridosos fazem diversas concessões (compensações), facilitando seu acesso a bens e serviços tidos como exclusivos dos mais endinheirados. Em tudo que o Estado se mete, sempre é possível transformar a ação em algo mais simpático aos olhos do povo incluindo algum detalhe de “caráter social”.

E, enquanto os governantes brincam de Robin Hood para garantir a continuidade de suas carreiras políticas, a classe média segue empobrecendo, definhando, extinguindo-se.

No setor universitário, por exemplo, as vagas em instituições públicas estão restritas em termos gerais apenas àqueles opulentos que têm condições de se preparar a vida inteira para lá ingressarem. Para compensar, há programas de bolsa aos mais carentes e sistemas de cotas para incluir os mais miseráveis.

No entanto, aqueles que sempre estiveram na linha intermediária, não conseguem chegar às universidades estatais, nem serem incluídos nas políticas compensatórias de seus mandatários.

O que lhes resta, então? Ou se sacrificam para pagar uma universidade particular, tendo alguma chance na loteria do mercado de trabalho para diplomados ou matam a chance de um futuro mais digno e se tornam mais um marginalizado.
Autor: Felipe Simões Pires


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