MEDICINA TROPICAL: A Dengue



MEDICINA TROPICAL


A Dengue

A dengue tem sido objeto das maiores campanhas de saúde pública realizadas no país. O inseto vetor, Aedes aegypti, que havia sido erradicado em vários países do continente americano nas décadas de 50 e 60 (mas sendo um arbovírus manteve-se presente nas matas), retornando na década de 70 por falhas da vigilância e as mudanças sociais e ambientais (presença do homem em todos os espaços em função da urbanização acelerada).
Hoje este vetor encontra-se amplamente distribuído por extensa faixa do continente americano, que se estende do Uruguai ao sul dos Estados Unidos com registro de importantes epidemias na Venezuela, Cuba, Brasil e Paraguai.
As dificuldades na erradicação deste vetor iniciam-se na falta de controle da aplicação de verbas destinadas a este fim e que, na maioria dos casos são desviadas ou utilizadas sem metodologia correta. A falta de capacitação de funcionários (cursos de orientação para o manejo dos insumos e o uso de equipamentos adequados) pois o uso incorreto e continuo de venenos irá certamente gerar graves problemas de saúde no aplicador. Sabe-se que em determinado estado paredes foram lavadas utilizando o veneno que é para ser aplicado com UBV -Ultra Baixo Volume, isto é, aspersão de microgoticulas podendo, em alguns casos e com as mesmas precauções, espalhar com uma bomba-costal. Devido ao uso inadequado e aos graves problemas ocasionados envolvendo a saúde destas pessoas tal fato abriu espaço para funcionários se recusarem a trabalhar com UBV alegando “que faz mal a população”! Ora, o que faz mal a população é a presença cada vez maior do vetor e as sucessivas infecções que as pessoas vem sofrendo desde sua reintrodução, mal faz também o uso indiscriminado de sprays adquiridos e utilizados nas residências “isto não faz mal, nem tem cheiro” ponderou uma jovem mãe, passando generosamente um spray de conhecido veneno que tem o princípio ativo do grupo químico das Piretrinas e Piretróides/Carbamato no quartinho do bebê!
Isto, mais a falta de clareza na divulgação do risco que todos corremos seja pela dengue seja pelo uso de venenos ou seja também pelo uso do medicamento com o principio ativo “paracetamol” que alguns usam como se fosse uma vacina “para prevenir contra a dengue” ou fazem uso incorreto de dosagem/horário, o que causa uma agressão e danos gravíssimos ao fígado do paciente bem como o uso ao mesmo tempo de antiinflamatórios e o paracetamol poderão paralisar as funções renais e levar o paciente a óbito.

A DENGUE ESPALHA-SE

Extensão da dengue depois da 2ª Guerra Mundial:
Em toda zona tropical, Pacifico, Ásia, América, África.

BIOMATEMÁTICA E A PROGRESSÃO DA DENGUE
Segundo Marcelo Nascimento Burattini (UNIFESP-2001) a situação da dengue em nosso país é preocupante: em 1986 foram registrados 46.309 casos (e quantos mil não fizeram exames e passaram despercebidos?), 12 anos depois em 1998, 559.237 casos registrados. “Em 2000 o número caiu para 238.995” (não devemos nos iludir, estes números não estão “caindo”, são novas pessoas sendo infectadas ou reinfectadas). De acordo com Burattini, a dengue é uma das prioridades da OMS (Organização Mundial de Saúde) e mais adiante, falando em municipalização da saúde, onde cada estado, cada município age de uma maneira aponta a necessidade da centralização das ações, pois há falta de organização (padronização) E o que estamos vendo são prefeitos que recebem verbas para combater as doenças e não as aplicam, até que surge uma epidemia no município deles.
A facilidade de o vetor ser introduzido ou reintroduzido é tão grande que se faz necessário um sistema de vigilância atento 24 horas e em cada dia no ano e não apenas durante a estação das chuvas, pois a presença deste inseto é contínua fazendo apenas aumentar em proporções assustadoras na época chuvosa em função dos milhares de criadouros disponíveis.
AS SUCESSIVAS REIFECÇÕES
E as epidemias se sucedem, a cada 04/05 anos, milhões de pessoas são reifectadas. Cuba, pôr exemplo, em 1977 foi assolada pôr uma epidemia relatando mais de 500 mil casos, exames sorológicos apresentaram dengue 1. Quatro anos depois, em 1981 uma nova epidemia atingiu Cuba, com sorologia para dengue2, relatando mais de 300 mil casos, entre os quais 10.312 casos graves (DH/SCD), onde 158 pacientes foram a óbito (101 crianças e 57 adultos)
Os dados estão ai para demonstrar e volto a afirmar que não existe um vírus diferente, nem mais nem menos agressivo mas sempre altamente virulento! Sorologias poderão apresentar DENGUE 01, 02, 03, ou 04, o que erroneamente vem sendo, ao longo dos anos classificados como casos de dengue pelo vírus 1, 2 etc.
Barnes & Rosen (1974)(Fatal hemorrhagic disease and shock associated with primary dengue infection on a Pacific island. Am.J.Trop.Med.Hyg.23:295,1974), descreveram uma epidemia em Niue, uma ilha do Pacífico, onde as sorologias identificaram Den2, com casos de DH/SCD. Exames e relatos informaram a inexistência de casos de dengue há pelo menos 25 anos. Estes pesquisadores parecem haver esquecido da MEMÓRIA IMUNOLÓGICA que acompanha o indivíduo durante toda sua vida?!! Algumas destas pessoas haviam sofrido dengue anteriormente (adultos,crianças ou bebês ainda no útero materno, com a mãe sofrendo a dengue o feto está sofrendo sua 1ª dengue ainda antes de nascer)
Os dados GRITAM e APONTAM o caminho correto! Por que ninguém parece perceber? Alguém já apanhou um mosquito Aedes com um crachá dizendo ser o número tal? Corrigindo este e alguns outros erros poderemos nos livrar deste vetor, deste terrível vírus!


O VÍRUS

Esférico, envelopado, de fita única de RNA, alta virulência que aliada a diferentes fatores pode se manifestar com sintomas de maior ou menor intensidade, são inoculados no capilar sangüíneo durante o repasto, penetram na célula desenvelopam-se e imediatamente inicia-se a replicação viral e é quando a temperatura eleva-se abruptamente devido a reação dos anticorpos ao antígeno presente no organismo, que irá reagir com maior ou menor intensidade se esta infecção for:
a)Dengue primária ou secundária.
b)Estar ou fazer uso de medicamentos que facilitem o quadro hemorrágico.
c)Evolução do quadro hemorrágico para a Síndrome de Choque da Dengue.
Numa primária infecção o indivíduo em boas condições físicas sentirá os sintomas e todo o desconforto e depois de uns dias estará melhor.
ASPIRINA INFANTIL
Pacientes idosos que o cardiologista prescreveu o uso de aspirina infantil para prevenção/tratamento cardíaco no caso desta pessoa ser infectada pelo mosquito da dengue a evolução será, mesmo na 1ª dengue, para um quadro hemorrágico grave.
O desconhecimento/desinformação de muitos de haver sofrido dengue em alguma época de suas vidas, as dificuldades no atendimento da saúde pública, a falta de exames específicos (sorologias e, especialmente o isolamento viral que irá acusar quantas dengues o indivíduo teve) se a tudo isto a população tivesse acesso- utopia minha, seria mais fácil a solução para este grave problema de saúde publica!

PARACETAMOL

Usado como antitérmico e para diminuir o desconforto causado pela dengue (cefaléia, dores no corpo) uso prescrito de 8/8 horas sendo observado, mas há necessidade de observar que, o uso indiscriminado, isto é, não seguindo à risca
o tempo correto recomendado, poderá causar graves problemas ao fígado e aos rins. Este medicamento passa por um processo e transformando-se num composto que irá se depositar no fígado no caso de nova ingestão do medicamento em tempo menor que 08 horas o depósito acumulado irá aumentar e o fígado, já agredido pelo vírus (é rico em vasos sangüíneos) estará aumentado e poderá sofrer um processo hemorrágico importante. Quando aos rins, se este paciente estiver fazendo uso de antiinflamatórios pôr outro motivo qualquer, aliado a ingestão do paracetamol poderá ter as funções paralisadas complicando o quadro.

NÃO DEVEMOS ALARMAR A POPULAÇÃO....

Quando em 1992 questionei a falta de informação em todos sentidos (população e atendimento à saúde) recebi como resposta “não devemos alarmar a população”! Ponderei ser importante as pessoas saberem o que estava acontecendo, em todos os sentidos, quer dizer sobre os cuidados no caso de estar com dengue, e como evitar a proliferação do inseto vetor, mas daquela época até hoje, 13 anos depois, as epidemias se sucedem, pessoas morrem a população continua sem receber informações corretas, o atendimento à saúde pública continua igual.


E O “FUMACÊ”?

A verba federal, é depositada mensalmente, para empregar no combate ao vetor, e se isso fosse feito da forma correta (mas parece que não há interesse nisso....medo de perder a verba?!!) este inseto teria sido há muito erradicado.
Tomemos o exemplo de Cuba: Fidel, ao primeiro sinal de nova epidemia mandou passar o fumacê, o atendimento a saúde pública cubana deveria servir de exemplo, pois durante a epidemia de 1981, com mais de 300 mil casos ocorreram apenas 158 óbitos!
Grupos se encarregaram de espalhar que o fumacê faz mal, que agride o meio ambiente...interessante, onde estão estas pessoas para protestar contra o uso abusivo de agrotóxico na produção de alimentos? Aliás hoje o agrotóxico usado nas lavouras trocou de nome: é o chamado “defensivo agrícola” que já matou tantas rapidamente ou lentamente, depende do caso?!!! O Estado do Mato Grosso leva o título de campeão de reciclagem de embalagens de defensivos agrícolas, título este, se analisarmos seriamente, nada lisonjeiro...
O cheiro do fumacê, não é muito agradável, mas elimina o inseto adulto, tem poder residual, isto é as microgoticulas liberadas durante a aspersão depositam-se aderindo devido ao óleo utilizado na mistura, atuando pôr várias horas. No caso de pessoas com alergia respiratória, pôr exemplo, basta a divulgação antecipada do dia e hora da aplicação para que esta possa passar algumas horas em outro local. Devemos lembrar que usado corretamente irá eliminar apenas os mosquitos mas que poderá sim ser nocivo ao ser humano se aplicado de forma inadequada ou alguém ficar 05 minutos inalando no aparelho, mas assim, até água, se ingerida em demasia pode matar....
Então voltamos a resposta daquela jovem mãe: “não tem perigo, nem tem cheiro”... às vezes o perigo não tem cheiro: o gás de cozinha, pôr exemplo, mas este é adicionado para servir de alerta em caso de eventual risco de vazamento.
BEATRIZ A LOPES –BIÓLOGA
ESPEC.EM ENTOMOLOGIA MÉDICA
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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