Depois da Eleição



Passado o singular momento da eleição, a festa dos vitoriosos, a revolta ou tristeza dos derrotados, fica na consciência da sociedade um vago sentimento de esperança, que gradualmente se transforma em desinteresse, decepção ou até desprezo. Passado o momento máximo da democracia, o povo outra vez se afasta da política brasileira, ou é afastado por ela.
Neste contexto, acredito ser pertinente perguntar o que podemos fazer depois da eleição para transformar a apatia e conformismo do povo brasileiro e, em especial, o amazonense, em relação à política e à corrupção em participação e paixão, como acontece, por exemplo, com as telenovelas ou o futebol? Proponho uma reflexão aberta.
Um dos caminhos que aponto é a obsessão, a busca perseverante e intensa pela organização social. Associações de bairro, clubes de mães, grupos de jovens, igrejas, associações profissionais, sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis, enfim, qualquer segmento da sociedade que se organize, se eleva a um outro patamar de interlocução com o Estado. O indivíduo, que, sozinho, lê e assiste passivamente notícias sobre as ações dos governos, em grupo, pode interferir diretamente. De massa, a sociedade passa a ser Terceiro Setor.
De um modo geral, as assembléias legislativas de todo o País estão abertas ao povo. Posso falar com mais propriedade sobre a Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, onde, gabinetes de deputados e seções internas atendem a qualquer pessoa que nos procure, mesmo que individualmente. Em proporção direta, um representante ou comissão de uma entidade social tem seu pleito ou sugestão levado em grande consideração. Nós, do legislativo, desde as câmaras municipais até o Senado, precisamos do contato com o povo.
O executivo e seus órgãos, quer seja em nível municipal, estadual ou federal, normalmente ouvirá com atenção a estas organizações. Ainda que o prefeito, governador ou presidente não receba, pessoalmente, seus representantes, o acesso a secretários de governo das três esferas já é bem mais simples, e pode atender a grandes demandas sociais.
A imprensa é outra esfera de poder que pode ser acionada pela sociedade civil organizada. De um modo geral, a mídia atende com respeito associações que têm histórico de boa fé e cede espaço privilegiado ao movimento social. Deve-se ter apenas o cuidado de procurar várias empresas, pois elas se alinham com as forças políticas de acordo com as leis de mercado e as conveniências de seus proprietários.
A função de educar também deve ser desenvolvida por entidades do Terceiro Setor. A promoção de debates, fóruns, grupos de estudo, palestras, seminários e tantas outras possibilidades, pode contribuir de maneira decisiva para a elevação do senso crítico de nosso povo.
Proponho, então, um acordo, um pacto. O de que depois da eleição nos esforcemos para superar o individualismo estéril e nos dediquemos a um “associativismo social e político”. Com o compromisso de todos nós, nossa política deixará de ser apenas notícia para se tornar parte efetiva de nosso cotidiano.
Autor: Vera Edwards


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