A Lição das Urnas



Dediquei boa parte de minha vida à educação, dentro da sala de aula e como administradora pública. Num sentido mais amplo, o processo ensino-aprendizagem ocorre ao longo de toda a vida, nos mais inusitados momentos. O momento que vivo agora, o de uma votação inexpressiva para a reeleição como deputada estadual, é um desses momentos didáticos da vida. Há muito o que aprender com ele.
Em primeiro lugar, quase que como um parêntesis, quero dizer que não acredito em “gostar da derrota”. Creio que quem entra em uma luta, entra para ganhar. Pelo menos foi assim comigo e com minha equipe. Percorremos todo o Estado, falando, cara a cara com todos, falamos de propostas e idéias. Propomos um mandato compartilhado, com participação efetiva da população, por meio da sociedade civil organizada. Perdemos e sentimos a derrota.
A aprendizagem que vem daí é, como diz o adágio popular, um “remédio amargo”, ou conforme o evangelho, “a verdade que liberta”. Talvez não seja agradável reconhecer, mas os campeões de voto por todo o Brasil foram cantores de forró, estilistas polêmicos, apresentadores de programas demagógicos, proprietários de entidades assistencialistas, mensaleiros e corruptos que já fazem parte até do folclore de certos estados. Gente que renunciou para não perder o mandato e até quem não renunciou e foi afastado. Pessoas que até confessam não ter qualquer plano para os quatro anos de mandato.
O que o eleitor quis dizer com isso? Será que o populismo, a demagogia, o assistencialismo, a corrupção foram eleitos pelo povo brasileiro? Ou terá o eleitor dito nas urnas que não se importa com quem ocupa o Senado, a Câmara Federal e as assembléias legislativas de seus estados?
De um lado temos uma possível crise de valores, de outro, grande desinformação sobre o Poder Legislativo. Embora desoladora, a idéia de que princípios como honestidade e responsabilidade não significam muito para nosso eleitorado parece ser, pelo menos em parte, verdadeira. Ouvimos sobre corruptos, de pessoas de várias classes sociais, que “faria o mesmo se estivesse lá”, ou pior, que “para estar lá é preciso entrar no esquema”. A desinformação sobre o Legislativo no regime presidencialista é geral. Qual é mesmo a função do vereador, do deputado ou do senador? O que estas pessoas fazem de fato? Boa parte da população não sabe, sequer tem idéia e acha que não precisa saber. Creio que devemos trabalhar isso.
Mais que uma questão de desinformação, creio que estamos diante de uma questão de educação, de formação mesmo. Este quadro nos mostra que a mídia pode até informar, com maior ou menor qualidade, mas não educa. Educar é papel da escola, da família, da igreja e de outras instâncias sociais diretas, imediatas. É no dia a dia, na vivência em grupos sociais que os valores são aprendidos, testados e introjetados, passando a fazer parte do caráter das pessoas.
Autor: Vera Edwards


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