Projeções Metafóricas nas Fábulas de La Fontaiene



Dentro da perspectiva sociocognitiva, as projeções metafóricas são importantes na expressão de conceitos, particularmente nos de caráter abstrato (LAKOFF 2002), considera que os processos do pensamento são em grande parte metafóricos e que a nossa concepção dos domínios abstratos da experiência são construídos essencialmente a partir das projeções metafóricas.
La Fonteine, escritor francês, utilizou se das metáforas de suas fábulas para fazer criticas as injustiças sociais, especialmente no reinado de Luis XIV, mostrando os vícios da raça humana, o fabulista soube utilizar a voz de seus personagens para expor suas idéias, fazer denúncias e críticas, as fábulas não tinham um significado claro, elas eram envolvidas através de enigmas, as fábulas eram camufladas sob as manobras do discurso.
Para Lakoff e Johnson:
“Os valores fundamentais de uma cultura são coerentes com a estrutura metafórica dos conceitos fundamentais dessa cultura”.
Ao escrever suas fábulas, La Fontaine, tinha consciência do exercício do poder, sabia que era preciso camuflar suas fábulas sob as manobras da discursividade, pois o período histórico era marcado pelo autoritarismo monárquico.
Segundo Lakoff e Johnson (2002), as pessoas pensam conceitos metaforicamente. Estes conceitos metafóricos estão baseados na nossa constante interação com o meio físico e cultural. Entre vários tipos de metáforas, as metáforas conceituais têm sempre uma forma proposicional e de modo geral estão subjacentes à linguagem e não são enunciadas. “Mas é a linguagem, no entanto, que revela os conceitos metafóricos.”
La Fontaine escrevia suas fábulas com a seguinte consciência: se seu discurso fosse contrário ao discurso monárquico seria imediatamente condenado e tirado de circulação,o que fazia com que seu texto fosse escrito de forma precavida para que suas fábulas não tivessem força e poder, agindo assim, não seriam proibidas na sociedade. A metáfora é uma forma que o escritor encontrou para dizer o que pensava sem ser condenado.
Ouçamos o seu depoimento sobre suas fabulas:
“Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso.
Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta.”
As projeções matáforicas nas fábulas de La Fontaine serão analizadas e comparadas com base no modelo teórico da lingüística cognitiva, nomeadamente os estudos de George Lakoff, Mark Jonson, Mark Tuner e Gilles Fauconnier, que serão de grande importância nesta pesquisa.
Utilizaremos também as metáforas conceituais por apresentarem no domínio fonte, um animal e no domínio alvo, um ser humano. As metáforas conceituais assumem diversas expressões, de acordo com o nome do animal escolhido e a correspondente qualidade humana metaforizada.
Para Fauconnier e Tuner (2002) acontece um espaço mental de mesclagem conceitual (blending), conhecida como integração conceitual em que é:
“uma operação mental, altamente imaginativa, mas crucial, mesmo para os tipos mais simples de pensamento” (p 18).
Neste caso, qualidades de animais e de humanos surgem juntas.
As fábulas constituem outra maneira do dizer, é através do reino animal que o sujeito enunciador apresenta suas críticas, faz suas denúncias, sem que as mesmas se anunciem explicitamente como tais. O que constitui numa perspectiva discursiva, um silenciamento do dizer, as metáforas são carregadas de sentido quando analisadas dentro do contexto.
De acordo com Jonhson e Lakoff :
“A personificação é, pois, uma categoria geral que cobre uma enorme gama de metáforas, cada uma selecionado aspectos diferentes de uma pessoas ou modos diferentes de considerá-la.O que todas tem em comum é o fato de serem extensões de metáforas ontológicas, permitindo – nos dar sentido e fenômeno do mundo em termos humanos, termos esses que podemos entender com base em nossas próprias motivações, objetivos, ações e característica”(p.88 e 89).
Autor: Helen Souza Isidoro Soares Alvares


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