Gil Vicente e o teatro medieval: Auto da Barca do Inferno



As obras teatrais de Gil Vicente foram produzidas em uma conflitante época de transição da cultura medieval para uma cultura clássica renascentista. Ainda ligado aos ideais de uma sociedade teocêntrica, em que é travada uma interminável batalha maniqueísta entre Deus e o Diabo, ao mesmo tempo, percebem-se características humanistas, tais como a presença de figuras mitológicas, a condenação à perseguição aos judeus e cristão-novos e a crítica social, focalizando tipos humanos que apontam para as mazelas sociais daquela sociedade portuguesa da Auto da Barca do Inferno, em virtude de retomar as estruturas formais da tradição teatral e dos temas recorrentes da história da literatura Ocidental, é fácil de ser pensado não só em sua intertextualidade, mas na carnavalização que aí se realiza (Bakhtin, 1987). A tragédia é revestida de comédia.
O tema do Auto da Barca do Inferno pode ser visto como uma resposta à indagação acerca do destino imposto pela morte. A peça está embebida de uma concepção medievalizante. Daí que seja dada atenção aos gestos cometidos na terra, porque deles depende a vida posterior. Desse modo, a peça mostra que trágico é o destino do homem após o pecado original, por estar sujeito à condenação eterna.
Essa questão vital é tratada de modo cômico. Isso permite enquadrá-la na perspectiva da literatura carnavalizada, aludida por Bakhtin, que é dar um tratamento humorístico às questões mais cruciais: o sentido da realidade, o destino do homem, a orientação da existência.
Bibliografia
Asensio, Eugenio. "Las Fuentes de las Barcas de Gil Vicente". Estudios Portugueses. París:
Centro Cultural Português, 1974. 59-77.
Autor: Helen Souza Isidoro Soares Alvares


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