Imprensa Cooptada, Eleição Comprometida



Os resultados das eleições para o mandato 2007/2010, evidenciam o fato da cobertura midiática, salvo raras exceções, estar corrompida, pouco atrelada ao exercício da cidadania e intimamente ligada ao marketing pessoal dos candidatos.

De acordo com um levantamento da Agência Repórter Social, a partir de dados dos Tribunais Regionais Eleitorais (TRÊs), um terço dos senadores e mais de 10% dos deputados eleitos controlam rádio e televisões. Numa cobertura política, na qual os donos dos veículos são os candidatos em questão, fica evidente a falta de isenção e o descaso com a veracidade dos fatos.

Na cobertura dos últimos meses, matérias que omitiam contextos e passados de candidatos foram veiculadas. Soma-se a isso, o fato de veículos de comunicação, antes de começar a campanha eleitoral, não terem assumido, formalmente, apoio a determinado candidato. Com exceção do Estado de São Paulo e Carta Capital, os demais veículos conferem apoio a seus candidatos, por meio de maior espaço na divulgação e tratamento parcial das notícias, de maneira implícita aos olhos da população com menor grau de escolaridade. Freqüentemente, a cobertura política na televisão fez uso de imagens sensacionalistas com apelos sensoriais e emotivos, para transmitir a mensagem a seu público. Mensagem essa, atrelada diretamente aos interesses do dono do veículo, que de maneira desleal acaba por concorrer a uma vaga nas eleições, ou dar apoio a seu candidato. Bernardo Kucinski lembra que ainda “hoje a comunicação é feita por grandes conglomerados que estão na vanguarda do processo de acumulação de lucros. A indústria da sedução comanda o espetáculo capitalista”.

Vale ressaltar que a prática jornalística que tem predominado na grande mídia brasileira é a cobertura dos "escândalos políticos". O sociólogo e jornalista Venício A. de Lima comenta que a mídia tem atribuído a si mesma não só a prerrogativa de fazer o julgamento, mas, sobretudo, de condenar publicamente pessoas e instituições cujos processos penais ainda não foram concluídos. Segundo Lima, esse comportamento pode ser verificado, por exemplo, pela utilização indiscriminada do adjetivo "suposto". Ele tem servido para lançar todo tipo de insinuações, acusações e suspeições, ao mesmo tempo em que dissimula a responsabilidade do jornalista responsável pela matéria.

Kucinski afirma ainda que a corrupção também está infiltrada nas redações. O jornalismo no Brasil é visto com descaso, fruto da cultura das elites paternalistas, que freqüentemente cooptavam os jornalistas com favores, como o não pagamento do Imposto de Renda, em troca de alterações nos enfoques das matérias. Nesse contexto, suas críticas passaram a ser menosprezadas, inclusive pelas camadas populares. O que pode ser percebido, exclusivamente, nas eleições presidenciais deste ano. Talvez devido a uma falta de credibilidade ou impossibilidade de alcance, os resultados indicam que a mídia não tem conseguido manter controle sobre seus eleitores. Apesar do ataque massivo, tanto televisivo quanto impresso, ao presidente Lula, as pesquisas indicam que ele será re-eleito, com margem significativa.

O que percebemos, nesta eleição, é um esvaziamento pela luta política, pela busca da cidadania. Kucinski ressalta que o jornalista se comporta como um combatente, que não luta pela verdade ou pelo interesse público, mas sim para garantir seu emprego. Emprego este, regido pela lógica da mercadoria e da matéria jornalística efêmera, já que nas empresas de comunicação, “o fazer tornou-se mais importante que o saber fazer”. A quantidade está acima da qualidade e o que é pior, a pauta deixa de ser investigativa e criativa e passa a ser uma ordem de trabalho. Nas palavras do autor, “o jornalista comum, hoje, é um trabalhador de uma linha de montagem, cuja esteira corre com velocidade cada vez maior”, e com interesses cada vez mais pessoais.
Autor: Camila de Oliveira Guimarães


Artigos Relacionados


Eleiçoes Para Presidente No Brasil 2010

A PolÍtica E A Pesquisa Do Ibope

O Informante.

Poder De Influência Da Mídia

Investir Na EducaÇÃo É O 1º Passo Para Renovar O Quadro Politico Brasileiro

Mulher E PolÍtica

A Censura Do Humor