Ética e Competência



Ética e Competência



Para falar de educação enquanto fenômeno histórico e social é preciso que se percorra brevemente o caminho de uma reflexão sobre a cultura, na medida em que se pode afirmar recorrendo-se a uma definição extremamente abrangente que educação é transmissão de cultura. O homem é um ser-no-mundo. Ele não é, primeiro, e depois é no mundo. Ser no mundo já é constituinte de ser homem.

O senso comum costuma identificar cultura como erudição, acúmulo de conhecimentos, atividade intelectual. Diz-se mesmo que alguém “é muito culto” quando domina certo tipo de saber privilegiado. Assim, não se pode falar em sujeitos cultos e não-cultos. Todos os homens são cultos, na medida em que participam de algum modo da criação cultural, estabelecem certas normas para ação, partilham valores e crenças.

A sociedade não está nem fora da sociedade, com uma autonomia absoluta diante dos fatores que estimulam as mudanças sociais, nem muito menos numa relação de subordinação absoluta, que a converte em mera reprodutora do que ocorre em nível mais amplo na sociedade. A escola é parte da sociedade e tem com o todo uma relação dialética há uma interferência recíproca que atravessa todas as instituições que constituem o social.

Falar em competência significa falar em saber fazer bem. Apesar das diferenças entre as diversas concepções de educação e de escola presentes entre nós, elas sem dúvida concordam em definir desse modo à competência. Por competência profissional estou entendendo várias características que é importante indicar. Em primeiro lugar, o domínio adequado do saber escolar a ser transmitido, juntamente com a habilidade de organizar e transmitir esse saber, de modo a garantir que ele seja efetivamente apropriado pelo aluno.

A qualidade da educação tem sido constantemente prejudicada por educadores preocupados em “fazer o bem”, sem questionar criticamente sua ação. Ou pela consideração da prática educativa apenas na dimensão moral, ou na visão equivocada de um compromisso que se sustenta na afetividade, na espontaneidade. Com respeito á relação existente entre moral e política, freqüentemente se percebe que o próprio educador não tem clareza da dimensão política como envolvimento partidário, ou mesmo sindical algum procura até negar que tenham algo a ver com isso, invocando uma posição de “apoliticidade” em sua prática.

Na avaliação que fazem de seu trabalho, em geral, os educadores, os professores, afirmam-se comprometidos com os interesses dos alunos, mas não tem clareza quanto á implicação política desse seu “comprometimento”. Eles o vêem como fazendo parte de uma provável “essência” do educador, referindo-se á responsabilidade que deve estar presente em seu trabalho. Tal atitude demonstra um desconhecimento do significado da presença do político na ação educativa, e também do ético, em sua forma autêntica, pois este aparece misturado com o sentimento, e essa mistura sem dúvida, contribui para reforçar o espontaneísmo e para manter as falhas da instituição escolar.

A prática educativa emancipatória requer, efetivamente, do educador, uma tomada de posição pela missão histórica consciente e conseqüente da humanidade, de destruir as relações de classe que sustentam a alienação e privam o homem de seu pleno desenvolvimento humano. Mas a prática educativa é, antes de tudo, profissional. Essas práticas profissionais, desenvolvidas pelo “agente pedagógico” de que fala Cury, tem condição de reduzir o que Líbano aponta, se souber dimensionar a função política da educação dentro da concepção de mundo dada pela filosofia da práxis. Cury afirma que a educação, um dos instrumentos de ação política planejada.






Valdivino Alves de Sousa

Contabilista, Pedagogo, e Mestre em Ciências da Religião
Autor: Valdivino Alves de Sousa


Artigos Relacionados


A Influência Da Política Brasileira Na Educação.

Um Novo Olhar Sobre O Supervisor Escolar

Quem É O Verdadeiro Professor?

A Escola E A FormaÇÃo De Um Sujeito Ético-polÍtico

Resenha Crítica - Pedagogia Da Autonomia

Resenha Crítica - Pedagogia Da Autonomia

Reflexões Sobre O Currículo Oculto Nas Séries Iniciais