SAPOS E RÃS



Com relação aos sapos e às rãs, podemos dizer que nos deparamos com diversos deles através da vida. Uns pequenos, outros grandes, uns com os quais convivemos por períodos rápidos, outros que nos acompanham por longos anos. Como lidar com eles é algo que custamos muito a aprender.

Imagine-se frente a um sapo, daqueles de verdade, que pulam e coaxam. Imagine bem a cena. Você se depara com aquele ser asqueroso, intragável e alguém o coloca inteiro na sua boca. Você sente em sua língua aquela coisa molhada, fria e gosmenta.

Sua primeira opção é engoli-lo rapidamente para tirá-lo de sua boca. Apesar de ser um animal escorregadio ele descerá com dificuldade, ferindo sua garganta, impregnando seu terrível sabor para sempre. A digestão será pesada e lenta. Você terá ânsia de vômito por algumas horas, talvez dias, isto sem contar que, eternamente, esta sensação se repetirá quando se recordar do ocorrido.

Talvez fosse melhor cuspi-lo, jogá-lo na cara de quem o colocou em seu caminho. Mas, afinal, o que isto resolveria? O gosto na sua boca não sairia e a pessoa que o colocou ali e o teve cuspido na cara não hesitaria em colocá-lo novamente em sua vida, talvez mais gordo e acompanhado de uma família de novos sapos e mágoas.

Agora, imagine que, ao invés de recebê-lo em sua boca, você delicadamente vire seu rosto, pegue o animal e o observe com cautela. Quem sabe, desta forma, possa perceber que, na verdade, está frente a uma rã? De repente, o que parecia o inferno se transforma em uma maravilhosa oportunidade.

Tomando a rã calmamente, você a limpa e tempera com sal e limão. Deixa-a de lado e prepara um bom refogado com azeite e outros ingredientes a seu gosto. Adiciona a rã ao refogado, deixando-a ferver e tomar gosto. Quando já estiver pronto, junta o vinho branco e dá uma rápida fervura. “Et voilà!”

Um dia, aprendemos a lidar com sapos e rãs. Um dia, aprendemos a importância de colocar nossos pontos de vista de forma elaborada. Não engolirmos as rãs que nos apresentam, nem tão pouco cuspi-las nos outros, mas cozinhá-las de forma que possam servir como uma proveitosa refeição.


Catarina A Roscoe
Autor: Catarina de Azeredo Roscoe


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