O Caminho da Recuperação



Autor: André Lima Belico


A política de inclusão social praticada nos anos setenta defendeu a inclusão arquitetônica da população da periferia das grandes cidades, por meio da oferta de moradias construídas em série, de forma industrial, priorizando o uso de processos artesanais, mão-de-obra desqualificada, e péssimas condições de trabalho. A palavra de ordem era construir, crescer, ganhar dinheiro.

A questão da qualidade de materiais, segurança no trabalho, qualidade do produto final não foi cogitada; houve até tentativas de construção de conjunto habitacional usando-se gesso, fato que resultou em total fracasso. Apesar destes itens complicadores a política poderia ter dado certo, amadurecer e se efetivar se não fosse à inflação altíssima na época, que corroia salários e tornava inviável qualquer projeto em longo prazo.

Entretanto, política econômica a parte, a realidade é que o caminho tomado pelo BNH (Banco Nacional de Habitação), de construir moradias em série, a baixo custo, atrasou a construção brasileira em 30 anos conforme afirmou Siegbert Zanattini, para a revista TÉCHNE (a revista do engenheiro civil, editora PINI, edição 109; 14 abril de 2006).

A segurança no trabalho foi negligenciada resultando em altíssimos índices de acidentes, tendo a construção civil como carro chefe entre todos os demais setores produtivos. A oferta de financiamento em longo prazo, para aquisição da casa própria fez surgir uma indústria especializada na fabricação de produtos de má qualidade para atender este mercado em franco desenvolvimento.

A racionalização no uso de materiais não era estudada nem praticada uma vez que o produto final tinha venda certa; o custo elevado não era fator restritivo. O desenvolvimento de novos processos de construção e de novos produtos não era estimulado já que a construção de moradias populares só usava materiais simples e baratos dispensando inclusive processo moderno de construção.

O inicio da recuperação da qualidade na construção civil se deu somente após a extinção do BNH, quando o setor já não mais dispunha de crédito farto. Os recursos se tornaram escassos, o custo se tornou fator preponderante no sucesso de um empreendimento. Houve procura de materiais de qualidade cuja utilização era incompatível com o modo artesanal de construção; não podia correr o risco desperdiçar obrigando o setor a desenvolver processos modernos e racionais e melhorar a qualidade da mão-de-obra.

Atualmente o aproveitamento máximo dos recursos é um imperativo; já se fala em aproveitar até o entulho gerado nas obras, preparando-o para sua utilização como camada básica na pavimentação de pisos, ruas e estradas. A gestão da obra também se desenvolveu criando o conceito de projetos integrados; projetar se transformou num processo complexo que envolve planejamento, integração de etapas e solução de interferência. Tudo em busca da qualidade, racionalidade, custo e prazos. Até 1990 predominava o projeto tradicional que previa uma seqüência em que uma etapa só começava após o término da anterior. O setor adotou então a filosofia do projeto simultâneo que valoriza a integração entre os agentes minimizando a possibilidade de erros, retrabalhos, perdas de eficiência e ocorrência de defeitos; as etapas tratadas isoladamente, sem relacionamento entre si e, consequentemente expostas ao erro, passam a ser concebidas de forma integrada e cooperativa.

Esta integração tornou necessária a figura do coordenador de projeto com a função de estudar as interferências que ocorrem, devolvendo os projetos para os ajustes necessários, elaborar cronogramas de acordo com uma visão sistêmica, sugerir soluções e arranjos, cobrar prazos; tudo com o objetivo de melhorar a qualidade dos projetos, reduzirem perdas e maximizar resultados.

A criação do Banco Nacional da Habitação canalizou recursos abundantes do FGTS para a construção civil que foi surpreendida com crédito farto e fácil resultando num arrebatamento que privilegiou a produtividade em detrimento da segurança, qualidade e modernização de processos. Este ciclo perverso para o desenvolvimento da construção se interrompeu com a inviabilidade do sistema financeiro habitacional em conseqüência da altíssima inflação que se manteve até meados de 1994. Somente após esta data, com a estabilização econômica, é que o setor da construção se organizou tornando possível sua modernização.


André Lima Bélico – Arquiteto Urbanista e Aluno do Curso de Engenharia Civil da Faculdade FEA-FUMEC.
Autor: Andre Lima Belico


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