A Escrita em Cursos de Graduação: Reflexões



O mundo globalizado da sociedade do conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho, demandando mentes questionadoras e imaginativas que devem ser cultivadas através de uma educação que vise a preparar pessoas para obterem instrumentos intelectuais capazes de acessar o conhecimento, selecioná-lo, utilizá-lo de modo criativo.

A empregabilidade está, assim, relacionada à qualificação pessoal, em cujas competências técnicas deverão estar associadas à capacidade de decisão, de adaptação a novas situações, de comunicação, de trabalho em equipe.

Nesta conjuntura, a necessidade de buscar condições para ancorar a preparação do profissional do futuro requer estratégias educacionais capazes de ensinar a trabalhar o conhecimento e desenvolver inteligibilidade para diversificados contextos, o que levou a Unesco, por meio de sua Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, presidida por Jacques Delors (2000), estabelecer os quatro pilares de um novo tipo de educação com enfoque em aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser.

Segundo Delors (2000), aprender a viver junto trata de levar o indivíduo a aprender a viver conjuntamente, desenvolvendo o conhecimento dos outros, de sua história, de suas tradições e de sua espiritualidade. Aprender a conhecer é um pilar que tem como pano de fundo o prazer de compreender, de conhecer e de descobrir. Supõe, pois, aprender para aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Aprender a fazer significa que a educação não pode aceitar a imposição de opção entre a teoria e a técnica, o saber e o fazer. A educação tem a obrigação de associar a técnica com a aplicação de conhecimentos teóricos. Aprender a ser refere-se ao desenvolvimento dos talentos do ser humano: memória, raciocínio, imaginação, capacidades físicas, sentido estético, facilidade de comunicação com os outros, carisma natural etc. Confirma a necessidade de “cada um se conhecer e se compreender melhor.

Em documento elaborado por Morin (2000), a pedido da Unesco, são apresentadas reflexões a respeito de questões fundamentais para melhorar a educação neste século, estruturadas com base em fatores relacionados ao conhecimento, tais como:
- a escola deve preparar a mente humana para conhecer o que é conhecer como forma de estar apta para o combate e identificação permanente de erros.
- o conhecimento deve estar voltado para apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto, através de métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo.
- a educação deverá ser centrada na condição humana, o que significa situar/questionar nossa posição no mundo no plano físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico.
- a educação deverá estar comprometida com o aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar nas culturas singulares e, também, aprender a ser, viver, dividir e comunicar-se como ser humano do planeta terra.
- a educação deve ensinar princípios de estratégia que permitam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza.
- a educação deve “ensinar a compreensão”.
- a educação deve ser conduzida pela ética centrada em três dimensões inter-relacionadas: indivíduo, sociedade e espécie.

Em resumo, a educação deste século está atrelada ao desenvolvimento da capacidade intelectual dos estudantes e a princípios éticos, de compreensão e de solidariedade humana. A educação visará a prepará-los para lidar com mudanças e diversidades tecnológicas, econômicas e culturais, equipando-os com qualidades como iniciativa, atitude e adaptabilidade.

A universidade, neste contexto, tem seu papel ampliado, cabendo a ela proporcionar ao estudante uma formação que lhe propicie condições de possuir domínio das habilidades que garantem o desenvolvimento pessoal dos estudantes, juntamente com a preparação de sua vida profissional.
De acordo com a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, é estabelecido que a educação superior tem por finalidade estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, formando diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, colaborando, pois, na sua formação contínua.

As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação- DCN, aprovadas no Conselho Nacional de Educação, prevêem que cabe às Instituições de Ensino Superior- IES incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa.

Para isso, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação conferem legitimidade ao processo de definições quanto à definição dos currículos de cursos por meio da autonomia das IES, mas determinam padrões de qualidade dos cursos, entre os quais, que cada programa deve incorporar um processo de acompanhamento com documentação de resultados alcançados, capaz de demonstrar que seus graduados tenham desenvolvido, além das habilidades técnicas específicas para a sua atuação profissional, a capacidade de estabelecer comunicação interpessoal, de expressar-se corretamente nos documentos técnicos específicos e de interpretar a realidade, com estímulo ao raciocínio lógico, crítico e analítico.

Sem dúvida, são ações em resposta à sociedade que exige do profissional, seja ele engenheiro, advogado, jornalista, administrador, analista de sistemas ou professor, a capacidade de se expressar bem.

O texto universitário que se busca com ações docentes, é, então, um texto que se diferencie daquele texto desestruturado que o estudante geralmente apresenta antes de ingressar no ensino superior: um texto que, muitas vezes, apresenta-se de forma ilegível, por incompreensível, e ilógico, pela falta de coesão e de coerência. É aquele texto que costuma aparecer em situações como exercícios de escrita no ensino médio, em muitas das redações dos vestibulares e mesmo nos escritos dos primeiros anos dos cursos superiores.

Como escrever é uma atividade que requer contínuo exercício e aprendizagem cotidiana, pela constante leitura e pela pesquisa dos temas a serem abordados, na prática textual escolar, o exercício de produção de texto deve vir antecedido da leitura de bons textos; neste caso, textos bem estruturados e com temática voltada aos interesses do aluno-leitor, e cujo estilo apresentem algumas características próprias à área de formação do graduando.

Ao considerarmos que saber argumentar, dialogar e comunicar, de maneira clara e compreensível, são competências que vêm adquirindo cada vez mais importância na formação profissional, levantamos, aqui, uma questão para reflexão e futuras discussões: como trabalhar a escrita em cursos de graduação de forma que os futuros profissionais adquiram a capacidade de discutir e aplicar conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso (ou das disciplinas), e expor suas idéias sobre determinado tema, de forma clara e convincente?


Referências

BRASIL. Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
BRASIL. Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação - DCN, Parecer CNE/CES n.º 67, de 11 de março de 2003.
DELORS, Jacques. (0rg.). Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 4. ed. São Paulo : Cortez, 2000. p. 11, p.19-32.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo : Cortez, 2000.
Autor: Sílvia Santos Fiuza


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