ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM UMA GRAXARIA. AS ADVERSIDADES ENCONTRADAS PELOS OPERÁRIOS NO DESENVOLVER DE SUAS TAREFAS.



RAMO DE ATIVIDADE: FABRICAÇÃO DE RAÇÕES BALANCEADAS
PARA ANIMAIS.


INDICE.

1 – RESUMO


2 – INTRODUÇÃO


3 – ANALISE ERGONÔMICA DO TRABALHO.


3.1 - Analise da demanda.
3.2 - Analise da tarefa.
3.3 - Análise da atividade.


4 – HIPÓTESE DIAGNOSTICO.

4.1 – Diagnostico Geral e Local

5 - RECOMENDAÇÕS ERGONOMICAS.

5.1 - Recomendações Gerais.
5.2 - Recomendações especificas.


6 – VALIDAÇÃO E EFICIÊNCIA DAS RECOMENDAÇÕES













1- RESUMO

Através do convite para prestar consultoria para a CONTREI, agimos junto a INDUGAIA LTDA e industria SABARÁ LTDA (ISAL), para proceder a uma análise ergonômica do trabalho, contemplado todas as suas fases. São elas: Análise da demanda, análise das atividades e da tarefa, análises da situação de trabalho, hipótese diagnostico, recomendações ergonômicas e validação e eficiência das recomendações.
Procedemos a visitas constantes e sistemáticas as empresas para observação do ambiente, análise documental, análise de dados, verbalizações, acompanhada de entrevistas com alguns operários sobre os problemas existentes que prejudicam o desenvolvimento de suas atividades. A demanda inicial surgiu com o TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA, entre a o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 3º REGIÃO e a Industria e Comercio INDUGAIA LTDA, nos autos do procedimento investigatório Nº 340/2003. No qual ficou estabelecido um prazo máximo de seis messes, a partir do dia 14 de setembro de 2005, para cumprimento do previsto na Cláusula Décima Primeira do presente termo.

2 - INTRODUÇÃO

Atualmente, empresas de diversos portes e segmentos estão conscientizadas da importância da promoção de saúde e da prevenção de doenças ocupacionais para seus funcionários. Essa tendência se traduz em um processo que equilibra a qualidade de vida das pessoas à produtividade da empresa.
“Transformar o trabalho é a finalidade primeira da ação ergonômica”. A ação ergonômica deve ajustar seus métodos e as condições de sua aplicação ao contexto, às questões e ao que foi identificado como estando em jogo. Inscrever as possibilidades de transformações do trabalho que disso decorre num processo de elaboração do qual participem os diferentes atores envolvidos, com seus pontos de vista e interesses próprios.
Buscando entender o funcionamento global da empresa, identificamos dois setores distintos da empresa que nos chamou a atenção. O setor de manutenção que é o responsável pelo trabalho de suporte ao setor de produção, que como veremos, é o setor com maiores dificuldades para execução das tarefas, além de ser o foco principal da empresa devido a algumas particularidades, o setor de produção será alvo de maior intervenção ergonômica.

3 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

3.1 – Análise da Demanda - é a definição do problema a ser analisado, a partir de uma negociação com os diversos atores sociais envolvidos. A demanda deve ser reformulada centrada na atividade de trabalho. Os resultados da análise permitem ajudar na concepção dos meios materiais, organizacionais e em formação, para que os trabalhadores possam realizar os objetivos esperados em condições que preservem seu estado físico, psíquico e sua vida social.

Análise de dados: Entrevistas e visitas.
Cargos e funções com maior exposição a fatores de risco ergonômicos:


3.2 – Análise da Tarefa - é o que o trabalhador deve realizar e as condições ambientais, técnicas e organizacionais desta realização. È o trabalho prescrito por condições determinadas e resultados antecipados.


- AUXILIAR DE LINHA DE PRODUÇÃO - OPERAR PAINÉIS,PARA OPERAÇÃO DA TOVA E ROSCA SEM FIM DE ALIMENTAÇÃO DOS
TRITURADORES E LIMPEZA (1)

- DOSADOR DIGESTOR - Acompanhar o cozimento do sub-produto no digestor e efetuar a descarga do disgestor. EFETUAR A ALIMENTAÇÃO DOS DIGESTORES ,ACOMPANHAR O COZIMENTO DE SUB-PRODUTOS.

- AUXILIAR DE LINHA DE PRODUÇÃO - EFETUAR LIMPEZA DAS BICAS DOS DIGESTORES, RETIRANDO BORRA DE FARINHA DE CARNE UTILIZANDO PÁ MANUAL. (4)

- PRENSISTA (OPERADOR DE PRENSA) - Operar prensa para secagem de farinha de carne.

- OPERADOR DE PROCESSO DE MOAGEM - Operar sistema de filtragem de sebo para classificação do mesmo.(2)




3.3 – Análise das Atividades - (observações, entrevistas, medições) – è o que o trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. É a análise do comportamento do homem no trabalho. È o trabalho real em condições reais e resultados efetivos.
- Limpeza de sebo em baixo dos digestores, o operador trabalha em uma altura limitada. Com isso fica todo o tempo de trabalho com a coluna flexionada.

- Entrevistas verbalizações:
“o serviço é pesado, bravo, brutal”

Observações abertas:

- Uso repetitivo de pá.
- Param a produção na 2º feira para a manutenção das maquinas.
- Banco sem apoio para coluna lombar e pés.
- Piso escorregadio, ele não é lavado só varrem com uma espátula e depois jogam farinha sobre o piso.
- Locais para assentar durante o trabalho, havia bancos de madeira improvisados.
- Alguns digestores são acionados manualmente, outros automaticamente.


4 - HIPÓTESE DIAGNOSTICO -. Em principio, a formulação do diagnostico ergonômico, de uma determinada situação de trabalho, é baseada nas hipóteses preliminarmente estabelecidas, nas diversas fases da análise ergonômica do trabalho, que definem o planejamento da intervenção ergonômica. Se a superfície de trabalho estiver muito baixa, é fácil surgirem dores na região inferior das costas, pois o trabalho é realizado com o corpo inclinado para frente. Isso é grave na posição de pé.

“Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produção, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno”.



4.1- Diagnostico Local:

Hipótese de nível I- A situação de maior risco segundo as hipóteses iniciais é a do “auxiliar de linha de produção” que efetua a limpeza das bicas dos digestores, retirando borra de farinha de carne utilizando pa manual. Esta tarefa é realizada num posto onde o operário tem que entrar em baixo de uma plataforma de baixa altura, fazendo com que o mesmo realize o trabalho numa postura anti-ergonômica de flexão de coluna de aproximadamente 90º conciliando a força exercida para manusear a pa. Esta atividade dinâmica envolvendo carga durante a jornada de trabalho é freqüente e como evidenciado em estudos anteriores pode levar as DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), como por exemplo as lombalgias..


5 RECOMENDAÇÕS ERGONÔMICAS –

- A finalização do trabalho consiste em apurar e relacionar todos os dados obtidos no laudo, identificando os fatores de risco ergonômico e ocupacional, determinantes de desconforto, stress e de patologias para os funcionários.
- Os fatores anti-ergonômicos identificados servirão como subsídios para as recomendações e sugestões que deverão ser apresentadas de acordo com os princípios da Ergonomia e da NR17.
- As recomendações e sugestões deverão contemplar as seguintes áreas: posto de trabalho, ambiente de trabalho e organização do trabalho.
- As recomendações são feitas nos aspecto geral e especifico.

5.1 - Recomendações Gerais:

- Fazer da limpeza uma pratica rotineira, enfatizando áreas de maior trânsito como as escadas, rampas e corredores. Mediante a limpeza ou a colocação de solos fáceis de limpar, ou usando materiais absorventes.
- As superfícies de transporte podem estar recobertas ou pintadas com produtos de elevada coeficiente de fricção que reduzem o risco de escorregões, mas que não influenciem na resistência do rolamento de carros e carrinhos de mão.
- Assegurar-se de que a superfície das vias de transporte seja uniforme, antiderrapante e desimpedida de obstáculos.
- Implementar o sistema de rodízios entre as funções dos operários, alternando assim a exposição a fatores de risco, tais como: Posturas comprometedoras, repetividade, monotonia.
- Reorganize as tarefas designadas de modo que os trabalhadores encarregados de erguer cargas pesadas sejam destacados também para tarefas mais leves.
- A alternância de tarefas é em geral bem menos exaustiva, e desse modo pode melhorar a motivação e a produtividade do trabalhador.
- Dar treinamentos aos trabalhadores. Nas sessões de treinamento, faça com que intervenham trabalhadores que já tenham experiência no uso das máquinas, em particular para que mostrem como operar de forma segura e eficiente.
- Permita que os trabalhadores alternem de posição entre estar de sentado e estar de pé durante o trabalho, na medida do possível.
- Experimente medidas existentes para diminuir a temperatura do local de trabalho. Essas medidas devem incluir: a proteção frente a calor exterior que penetra no local de trabalho (radiação solar), aumento da ventilação natural, e a provisão de sistemas de exaustão localizada para o ar quente.
- Diminuir o tempo de exposição nos locais onde a exposição é inevitável.


5.2 – Recomendações Especificas:

- Ao erguer ou baixar cargas pesadas, faça-o devagar e diante do corpo. Empregue a força dos músculos das pernas e mantenha as costas eretas.
- No posto 1, limpeza da borra, aproximar mais a chapa do operário evitando assim que ele trabalhe em posturas extremas de flexão de coluna.
- Consultar os operários quando a compra de pares e carrinhos de mão, já na próxima aquisição, pois são eles os verdadeiros conhecedores do melhor meio de trabalho.
- A limpeza em baixo dos digestores é feita por um único operário que permanece quase toda sua jornada no local. Permanecendo todo o tempo com a coluna fletida, negociar com a manutenção um ajuste nos digestores, evitando assim a excessiva sobra de resíduos “sebo”.
- Os locais de difícil alcance devem ser evitados, Ex: Limpeza da borra.





Planilha de Análise Ergonômica do Trabalho de Acordo com os principais pontos de verificação e análise ergonômica e suas recomendações especificas:



ANÁLISE DIAGNOSTICO RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS
Auxiliar de Linha de Produção. (Posto 1) Efetuar a limpeza da borra com pa manual Realiza a Limpeza em extrema flexão de coluna. Aproximar a bandeja do operário. Verificar a possibilidade de colocar rodízios nas bandejas.
Auxiliar de Linha de Produção. (Posto 2) Efetuar limpeza da sobra de borra e carregar o carrinho de mão, depositar a borra novamente no digestores. Faz uso de pa manual e carrinho que se desloca em superfície escorregadia. Ex: Rampa de acesso aos digestores. Sistematizar a limpeza de locais de acesso dos carrinhos. Evitando possíveis quedas e escorregões.Ex: Rampas
Operários que trabalham com pa manual. Uso constante de pa manual. A pa deve ser adaptada ao operário e não ao contrario. A pa é de uso compartilhado. A pa deveria ser de uso individual . Assim cada operário escolheria a pa de acordo com as suas dimensões biomecânicas.
Prensista Operar prensa para secagem de farinha de carne. Trabalha em pé, em tempo integral, manuseando pa com carga. Necessita de local para descanso, assento fixo próximo ao posto de trabalho.
Auxiliar de Linha de Produção (posto 3) Fazer a limpeza da borra em baixo dos digestores Fica a maior parte do tempo em baixo dos digestores. Negociar com o setor de manutenção, uma maior regulagem dos digestores, evitando assim o vazamento excessivo da borra. Fazer rodízio entre os operários.









6 – VALIDAÇÃO E EFICIÊNCIA DAS RECOMENDAÇÕES - Avaliar a ação ergonômica, identificar seus efeitos. Uma ação sobre o trabalho coloca diferentes fatores em jogo, conforme os atores da empresa (direção, gerência, operadores, representantes de trabalhadores).
È evidente que não pode haver uma resposta simples à questão de saber se uma ação ergonômica foi bem sucedida. O momento em que a avaliação é feita não pode ser negligenciado, pois é difícil precisar o fim de uma ação ergonômica. Ela se inscreve na historia da empresa, e os compromissos realizados em seu decorrer podem ser questionados, as decisões de implantação do que foi preconizado podem então ser adiados ou rejeitados, e certas evoluções podem dar lugar a longas negociações das quais o resultado é incerto.
A pratica da ação ergonômica se estende fundamentalmente entre dois pólos:
- Um centrado na produção de resultados a obter, em resposta
uma demanda.
- E outro centrado na construção da ação, orientado por um processo a ser iniciado e acompanhado.

De acordo com o exposto espera-se que as recomendações ergonômicas aqui propostas sejam implementadas e posteriormente validadas pelos trabalhadores que são os verdadeiros conhecedores de seu trabalho e das suas reais necessidades para sua realização, contudo, foi por meio da Análise Ergonômica do Trabalho e que podê-se compreender o trabalho realizado na graxaria e através desse conhecimento, recomendar melhores formas de trabalho, buscando preservar a saúde dos trabalhadores no desenvolver de suas tarefas.
Autor: Márlio Lournço Feranandes


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