MAPEAMENTO DE PROCESSOS EROSIVOS NA ESTRADA DE RAPOSOS – MORRO VERMELHO



De acordo com o diagnóstico ambiental foi possível identificar o quadro de alterações do ambiente presentes no município de Raposos, especialmente em duas de suas três sub-bacias hidrográficas. A estrada que dá acesso a Morro Vermelho, localidade do município de Caeté, localiza-se no interflúvio das sub-bacias dos ribeirões do Brumado e do Prata. Ao longo da estrada percebeu-se a presença de diferentes processos erosivos provocados principalmente pela retirada inadequada de material de empréstimo, usado na construção civil, na manutenção da estrada e sistema de drenagem insuficiente, que favorecem a formação de sulcos e ravinas.

Os processos erosivos são extremamente prejudiciais aos ecossistemas terrestres e aquáticos, causam perda de solo, assoreamento dos cursos d’água, poluição e degradação da qualidade da água. Impacta diretamente o curso d'água prejudicando os usos múltiplos do recurso hídrico a jusante do foco.

Diante desta situação, percebeu-se a necessidade de mapear e identificar os processos erosivos mais significativos e propor usos e medidas de controle que visem à reabilitação ambiental e que considere a restauração da funcionalidade dos geoecossistemas.

Foram identificados oito focos erosivos. O primeiro ponto que apresenta demanda para controle ambiental está a 4,5 Km da ponte Magalhães Pinto, no centro de Raposos. Este ponto será denominado Mirante e é o marco inicial do mapeamento. Em termos espaciais, optou-se em centrar a análise na área de drenagem da sub-bacia do ribeirão Brumado, tendo em vista que a voçoroca selecionada para realizar o estudo de caso está à montante desta cabeceira.

Os objetivos deste estudo foram qualificar os impactos identificados na fase do diagnóstico ambiental e propor soluções de engenharia, através da elaboração de projetos, para mitigar e minimizar estes impactos. Mapear os principais focos erosivos na estrada que liga Raposos a Morro Vermelho e selecionar um deles para planejar ações executivas, através de técnicas de controle de caráter físico e biológico e prover a estabilidade desta, unindo a recuperação ambiental a um possível uso futuro.

Observando os processos erosivos evidentes no município de Raposos e diante dos estudos feito pelo IGA (2003) e com os dados obtidos em campo, pode-se concluir que, em sua porção leste, há menor incidência de erosão; a sudoeste predominam processos erosivos em lençol, na periferia da cidade ocorrem ravinamentos e na estrada de Morro Vermelho, objeto de estudo do projeto, encontram-se vários processos erosivos com maior incidência e grau de evolução, devido às profundas modificações das condições naturais de equilíbrio introduzidas pela ação do homem, como abertura de acesso e áreas de empréstimo. Assim, estes instabilizam as formas e propiciam condições de atuação dos processos morfogenéticos.

As erosões no município tendem a evoluir pela combinação de três fatores primordiais: os agentes externos, a declividade natural do terreno e o tipo de solo. Os processos erosivos associados a estes fatores sobre o meio geram conseqüências que afetam significativamente a população raposense. O carreamento de sedimentos para os cursos d’água causando inundações no período chuvoso, assoreamento e destruição das nascentes. Além da perda da biodiversidade para a flora e de habitats e alimentos para a fauna.

Olhando do ponto de vista social, cultural e econômico, as erosões prejudicam:

- as paisagens naturais;
- as estradas;
- o uso futuro da terra;
- a biodiversidade;
- as áreas agrícolas;
- a conservação e preservação de espécies;
- e o turismo.

Diversos são os fatores que influenciam a erosão, dentre os principais pode-se citar: a chuva, considerada um dos fatores climáticos de maior importância na erosão do solo; topografia do terreno, representada pela declividade e pelo comprimento do declive. O tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre, e essa velocidade é função do comprimento do declive e da inclinação do terreno; natureza do solo onde as propriedades físicas, principalmente estrutura, textura, permeabilidade e densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo exercem diferentes influências na erosão.

As técnicas de recuperação baseiam-se principalmente nos princípios de controle físico como recepção, contenção, condução e dissipação das águas pluviais. Estabilizado o processo inicia-se a recomposição vegetal.

O substrato rochoso e o tipo de relevo condicionam uma variedade de solos que se compõem de acordo com a composição mineral da rocha. A cobertura vegetal se estabelece nas suas mais variadas formas de acordo com a dinâmica existente entre as formas de relevo e o tipo de solo.

Todos estes fatores podem ser observados na área em estudo. Nas cristas, onde as altitudes são mais elevadas e o solo é do tipo litólico neocâmbico encontra-se o Campo Rupestre. Nas encostas, que são íngremes e favorecem a velocidade do escoamento superficial, o solo que predomina é o cambissolo, muito instável aos processos morfodinâmicos, encontra-se o Campo Cerrado. E por fim, nas áreas mais baixas formam-se os fundos de vale com as cabeceiras e cursos d’água, onde o solo é do tipo neossolo flúvico, moderadamente instável, com um horizonte mais profundo oferecendo estrutura para espécies de maior porte como as da Mata Atlântica.
Sobre o ponto de vista hidrológico as cristas são áreas de recarga do lençol freático que por sua vez abastece o lençol fissural, na rocha. Na encosta ocorre a exudação da água (nascentes) e no fundo de vale a formação do canal fluvial com aporte de sedimentos e matéria orgânica.

PONTOS MAPEADOS NA ESTRADA

O marco inicial do mapeamento é denominado Mirante e está a 4,5 Km da ponte Magalhães Pinto no centro de Raposos. Para a descrição dos focos este será considerado o marco inicial do mapeamento, ou seja, o Km 0 (zero). A identificação dos mecanismos que determinam o processo erosivo é fundamental para elaboração de projetos de controle da erosão e deve ser cuidadosamente definida durante a etapa de cadastramento de processos erosivos em campo.

Cabe ressaltar que o projeto considera soluções alternativas de controle que possam ser executadas em função do custo. Tratamentos convencionais dificilmente serão executados.

O último ponto mapeado é a voçoroca. Objeto do estudo de caso é o ponto 8 do mapeamento. Localiza-se na cabeceira de drenagem do córrego do Brumado, na divisa dos municípios de Raposos e Caeté. Está nas coordenadas X: 633750 e Y: 7792000, com uma altitude que varia de 1182m do ponto mais alto até 1140m no fundo da voçoroca. Possui uma extensão de aproximadamente 450m e uma área de 4.890 m² (0,00489 Km²).

Os processos erosivos encontrados são os mais variados, como a erosão laminar, sulcos, ravinas, deslizamento de encostas, movimentos de massa e a voçoroca em si.

Os fatores que aceleram e contribuem para a evolução do processo, desde a sua origem se remete à ausência de drenagem na estrada e a instalação inadequada de manilhas sem um dissipador de água a jusante. Uma outra contribuição para o crescimento do foco é a retirada da cobertura vegetal para prospecções minerais sem a recuperação da área .

Propostas de controle:

É preciso implantar vários sistemas de controle de erosão para se conseguir êxito na recuperação da área.

O primeiro passo, seria o terraceamento da área de contribuição que está desnuda; recepção das águas pluviais na voçoroca com a utilização de pneus ou pedras para o amortecimento da sua chegada. O segundo passo seria a condução, através de sistemas drenantes no fundo da erosão (pedras, bambus, bacia de siltagem, caniçadas) e utilização de barreiras variando de 3 a 5 metros de distância para diminuir a velocidade da água. Na saída voçoroca utilizar dissipadores de energia (escadas, caixas dissipadoras, matacão, boca-de-lobo). E no útilmo estágio, já com todos os controles físicos instalados, realizar o plantio a jusante das barragens de contenção, com a associação de gramíneas e leguminosas em uma primeira etapa e posteriormente implantar a vegetação arbórea nativa da região, de acordo com a sucessão ecológica. Realizar monitoramento nas áreas para verificar a eficiência do sistema e em caso de problemas fazer as correções necessárias.

Educação Ambiental

A educação ambiental é o que pode garantir o sucesso do projeto nas fases de implantação e monitoramento. A participação da comunidade do entorno no processo de recuperação necessita antes de um nivelamento quanto à importância do projeto.

A educação ambiental deverá ser aplicada aos representantes dos municípios de Raposos e Caeté, proprietários rurais com áreas inseridas na área de estudo e moradores da região de Raposos e Morro Vermelho, através de oficinas e palestras.

Este projeto tem como intuito a sensibilização ambiental dos moradores e ainda, contar com a ajuda dos mesmos para recuperação, a preservação, monitoramento e da área degradada, para que seja efetuada a estabilização de forma melhor e mais rápido possível.

Os principais tópicos a serem abordados são:
•A importância da estrada e sua manutenção;
•O histórico da formação do processo erosivo;
•O que são Áreas de Preservação Permanente;
•A relação entre o tipo de solo e cobertura vegetal;
•Conseqüência da erosão para os moradoress a jusante do foco;
•Os danos ambientais causados pela erosão;
•Importância de recuperação desta erosão;
•Importância da participação dos moradores da região;
•Duração do Projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área em estudo está inserida na estrada que é utilizada para acessos ao município de Raposos e a localidade de Morro Vermelho, em Caeté e para o turismo.

Observou-se ao longo deste estudo que o principal fator a ser considerado quanto ao inicio dos processos erosivos e sua evolução, estão relacionados com o próprio corte da estrada, a ausência dos dispositivos de drenagem e em muitos casos a sua má utilização.

A necessidade por recursos naturais deve respeitar as condições de estabilidade e equilíbrio dos geoecossistemas. O solo é um recurso tão nobre quanto a água ou o ar e a sua degradação causa perdas, às vezes irreparáveis.

Em Raposos e ao longo da estrada que liga o município à localidade de Morro Vermelho, em Caeté, o que predomina é a utilização inadequada do solo, tomando áreas como empréstimo e abandonando-as e a instalação de manilhas que atravessam a estrada e lançam uma quantidade de água concentrada nas encostas dos aterros da estrada.

Em todo o estudo foram apresentadas técnicas alternativas e de baixo custo tendo em vista a localização da área em zona rural, baixos riscos à população e a limitação financeira de recursos públicos.

Dos oito pontos mapeados, sete apresentam soluções conceituais e um estudo de caso sobre o foco mais grave, mas todos englobam as técnicas de recepção das águas pluviais, sua condução e dissipação.

Recomenda-se o monitoramento das medidas implantadas e o envolvimento da comunidade através de oficinas e palestras de educação ambiental.

REFERÊNCIAS

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BAPTISTA, Márcio Benedito; COELHO, Márcia Maria Lara Pinto; UFMG - Escola de Engenharia da. Fundamentos de engenharia hidráulica. 2 ed Belo Horizonte: Ed. UFMG; Escola de Engenharia da UFMG, 2006. 437 p. ISBN 8570413750

CEMIG – COMPANHIA ENERGÉTIGA DE MINAS GERAIS. Normais climáticas. Belo Horizonte, 2006.

CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. Usina Hidrelétrica de Nova Ponte: Projeto de Controle dos Processos Erosivos – Relatório Final – v. I, II, III. Belo Horizonte: Leme Engenharia, 1993.

CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. Estudo sobre Processos Erosivos na Área de Influencia da UHE de Nova Ponte. Belo Horizonte: Leme Engenharia, 1993.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos, 1998.

GUERRA, Antonio José Texeira; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4 ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 472 p. ISBN 8528603261

GUERRA, Antonio José Texeira; SILVA, Antonio Soares da; BOTELHO, Rosangela Guarrido Machado. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 339 p. ISBN 85-286-0738-0

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KOBIYAMA, M.; MINELLA, J.P.G.; FABRIS, R. Áreas degradadas e sua recuperação. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v.22, n.210, p.10-17. Maio/jun. 2001

PEREIRA, Aloísio Rodrigues. Como selecionar plantas para áreas degradadas e controle de erosão. Belo Horizonte: FAPI, c2006. 150 p. ISBN 8590614719

SITES CONSULTADOS

ANA – Agencia Nacional de Águas, Hidroweb. Sistema de Informações Hidrológicas. Disponível em: .
Acessado em 26/09/06.
Autor: FABÍOLA MOREIRA ARAUJO


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