Biodanza E Criatividade – Um Instrumento Para Avaliação De Competências



Na literatura sobre Administração e negócios é difícil se falar em Tecnologia Humana. O que podemos utilizar nas organizações que estimulem o Potencial das pessoas e as suas Competências? Abordo um tema desconhecido, fascinante e até rodeado de tabus dentro das instituições. Em 1991, quando comecei a trabalhar com Biodanza nas Organizações, além dos preconceitos, constatei medos e falta de abertura dos profissionais para experienciar o novo e principalmente uma abordagem que poderia revolucionar os Treinamentos comportamentais. Então, comecei a fazer os treinamentos com metodologia convencional e durante as aulas utilizava alguns exercícios de Biodanza e os treinandos ficavam interessados em saber que dinâmica era aquela que facilitava a expressão genuína de cada um.

Não bastava os treinandos gostarem dos exercícios de Biodanza, fazia-se necessário os profissionais de Recursos Humanos entenderem a nova teoria, de forma científica. Então, matriculei-me numa cadeira de especialização em Metodologia científica na UFPE e um orientador achou interessante o tema da Biodanza para pesquisa. Vale salientar que na ocasião da pesquisa a CEFET realizou uma avaliação sobre o desempenho profissional dos seus alunos perante as Empresas, onde foi constatado que estes eram excelentes a nível técnico, porém careciam de características como: Iniciativa, Criatividade, Tomada de Decisões, Adaptação às Situações Novas, Segurança, Liderança, Facilidade de Comunicação nas Relações Interpessoais e Intergrupais, entre outros. E para desenvolver tais características poderia ser utilizado o Sistema Biodanza por se tratar de uma Técnica que trabalhava a expressão corporal e a cognitiva paralelamente.

Como foi constatado anteriormente que os profissionais careciam de um fator importante no seu desenvolvimento profissional que era a abertura para as inovações, componente essencial da Criatividade, então a pesquisa foi direcionada para este assunto, no ano de 1995.

Conceitos Essenciais Sobre A Biodanza

Nos meados de 1965, o Professor Rolando Toro, Antropólogo Chileno, lecionava na universidade do Chile a disciplina sobre Antropologia Médica onde estudou os efeitos terapêuticos da dança e da música em pacientes psiquiátricos. Observou que determinadas músicas provocavam reações nos pacientes da seguinte forma: Detendo-se em pacientes depressivos e outros com história delirante, verificou que as músicas lentas aplicadas para relaxamento aumentavam a sintomatologia depressiva e delirante, enquanto que as músicas com conteúdo alegre e eufórico, devolviam a identidade às pessoas e elas saíam imediatamente da depressão e do quadro delirante. Foi diante destes resultados que constatou o lado terapêutico da música e da dança e desenvolveu uma técnica de desenvolvimento pessoal que pudesse servir à humanização da Medicina, a qual denominamos hoje de Biodanza.

A Biodanza é uma técnica que promove o bem-estar mental, emocional e físico. Desenvolve a saúde, a coragem, a alegria de viver e a capacidade de resolver conflitos na família e no trabalho. Utiliza música e exercícios que resultam em movimentos que renovam o organismo, aumentando a defesa do corpo contra doenças, tais como: asmas, alergias, hipertensão, problemas cardíacos, digestivos e respiratórios, úlceras, gastrites, etc. Atua também sobre a insônia, agressividade, medos, fobias, vícios, ansiedades, angústias, entre outras doenças psicossomáticas, possibilitando o despertar dos sentimentos e da emoção, desenvolvendo os potenciais afetivo, criativo, energético e social, elevando assim, a auto-estima para um crescimento pessoal e profissional.

Aplicada à área Educacional (crianças, adolescentes, adultos, grávidas, pessoas de terceira idade, casais, etc.) a área de Reabilitação (crianças cegas, surdo-mudos, mastectomizados, depressivos, mal de Parkinson, psiquiatria, etc) a área de instituição (empresas, escolas, entidades filantrópicas, presídios, hospitais, etc.).

Desenvolve os seguintes potenciais nas pessoas:
Vitalidade = capacidade de iniciativa, força, rapidez de ação na execução das tarefas, alegria, senso de oportunidade, tomada de decisão, liderança, coragem, etc.
Sexualidade = capacidade de sentir prazer e alegria em desenvolver tarefas, diplomacia, habilidade em relacionar-se de modo flexível com as pessoas sem medo do contato.
Criatividade = capacidade de descoberta, planejamento, imaginação, curiosidade, resolução de problemas, criação, organização, clareza e fluidez de idéias, adaptação às situações novas, flexibilidade, expressão criativa, juízo crítico, etc.
Afetividade = capacidade de dar e receber afeto, viver em grupo, participação, solidariedade, segurança, relacionamento interpessoal e intergrupal eficiente, auto-estima, autoconfiança, etc.
Transcendência = capacidade de harmonia, tranqüilidade e paz no trato com as pessoas, preservação da natureza, do patrimônio da empresa e o bem-comum, etc.

A Biodanza é um trabalho essencialmente grupal e progressivo que amplia e desenvolve a Inteligência Emocional das pessoas e conseqüentemente suas competências porque lida com aspectos saudáveis da personalidade. Quanto mais desenvolvermos os potenciais acima citados nas organizações e prepararmos as pessoas sobre a importância das expressões das emoções nas relações interpessoais e intergrupais, visando a saúde psicológica e emocional, poderemos dizer que ultrapassamos um dos grandes desafios na habilidade de conduzir e desenvolver grupos.

Conceitos Essenciais Sobre A Criatividade

A Criatividade vem apresentando-se, muitas vezes como Modismo, mas também como um meio atraente de contato com o poder da transformação da sociedade. Como bem afirmou Taylor (1971) de um lado, existe uma desesperada necessidade de comportamentos criativos, para a sociedade enfrentar com êxito os desafios que lhe são impostos e para assegurar sua sobrevivência; por outro lado, a mesma sociedade não favorece o desenvolvimento criativo dos seus membros em geral, penalizando-os por serem talentosos, assumindo mais a função bloqueadora da Criatividade do que sendo uma de suas fontes de estímulo.

No auge desta contradição, a sociedade ao mesmo tempo em que inibe o desenvolvimento do Potencial Criativo dos seus membros, solicita e até mesmo cobra deles, nos momentos de crise, um desempenho criativo, exigindo que os indivíduos expressem plenamente suas potencialidades criativas nos projetos existenciais e na solução de problemas ligados à sociedade.

A abertura às inovações, a capacidade de solucionar problemas com rapidez e precisão, além da capacidade de aceitar desafios, propor diretrizes e tomar decisões são características procuradas nos indivíduos pelas organizações, em qualquer esfera de atuação a nível tecnológico, educacional e científico no mundo.

Inúmeras pesquisas apresentam-se tentando identificar melhor o que ocorre nos processos criativos, sua relação com a inteligência, os traços de personalidade, a influência do ambiente e de métodos de estimulação da criatividade, para o sucesso na vida acadêmica, profissional e pessoal do indivíduo.

Teorias Cognitivas Da Criatividade

O enfoque maior no campo científico é a relação da Criatividade com a inteligência tendo como um dos pioneiros Guilford (1950). Ele conclui que as capacidades produtivas são de duas espécies: Convergentes e Divergentes. O pensamento convergente ocorre onde se oferece o problema, onde há um método padrão para resolvê-lo, conhecido do pensador e onde se pode garantir uma solução dentro de um número finito de passos. O pensamento divergente tende a ocorrer onde o problema ainda está por descobrir e onde não existe ainda meio assentado de resolvê-lo. O pensamento convergente implica uma única solução correta, ao passo que o divergente pode produzir uma gama de soluções apropriadas.

As capacidades mentais criativas devem ser estimuladas pelo pensamento divergente, deixar que o indivíduo encontre várias alternativas de resolução de problemas. Este tipo de pensamento é avaliado por meio de quatro parâmetros: Fluência (o número de respostas); Flexibilidade Espontânea (número de categorias, por exemplo: respostas na categoria alimentação, construção civil, transportes, etc.) e Originalidade (qualidade das respostas). Guilford acrescenta ainda, que a Criatividade como função cognitiva correlaciona-se positivamente com a inteligência, porém é mais abrangente que esta.

Teóricos da atualidade como Virgolim e Alencar (1994) afirmam que a forma costumeira de pensar e agir são insuficiente e mesmo inadequada para lidar não só com a realidade, mas com nossas próprias idéias, num mundo marcado por constantes mudanças e inovações. Elas sugerem que se empreguem métodos educacionais que estimulem as pessoas a pensar independentemente, testando idéias e se envolvendo em atividades intelectuais que despertem sua curiosidade e seu potencial criativo, incentivando a Fluência, a Flexibilidade e a Originalidade de idéias.

Rhodes (1961) aborda que a definição de Criatividade pertence a quatro categorias:
1. Fisiologia e temperamento da pessoa criativa - atitudes pessoais, hábitos e valores.
2. Processos Mentais - motivação, percepção, aprendizado, pensamento e comunicação que o ato de criar mobiliza.
3. Influências Ambientais e Culturais.
4. A Criatividade em função de seus produtos - teoria, invenções, pinturas, esculturas e poemas.

Por tradição, o estudo da Criatividade tem guiado-se pelos produtos observáveis e públicos como são assinalados nesta última abordagem.

Segundo Kneller (1994): "a pesquisa recentemente tem-se concentrado na Criatividade como processo mental e emocional, abordagem sem dúvida mais exigente e sutil, porque muito de sua substância se encontra nos estados interiores da pessoa".(p. 16).

Acredita-se atualmente que os indivíduos são potencialmente criativos, o que difere é o grau de expressão da Criatividade. Sendo assim, um outro enfoque a ser considerado é a abordagem psicológica que para estimular o potencial criativo, é necessário contar com suficiente conhecimento da personalidade, inclusive das aptidões individuais (Rosas, 1978).


Teorias Psicológicas Da Criatividade

A abordagem psicológica está intimamente relacionada com os processos interiores do indivíduo e com o desenvolvimento da sua Identidade expressas na auto-estima e na sua auto-imagem interna e externamente. Dentre as teorias que abordam o estudo da Criatividade selecionei as seguintes: Maslow (1959), Rogers (1970) e Toro (1982).

MASLOW - O estudo da criatividade partiu de trabalhos que realizou com pessoas consideradas positivamente criativas, maduras e autorealizadas (1959).
Ele distingue cinco tipos de Criatividade:
1. Talento Especial - refere-se a uma capacidade inata, um dom, um talento que algumas pessoas seriam dotadas, como os artistas, inventores, poetas e compositores, sem levar em consideração a saúde psicológica.
2. Auto-atualizante - capacidade potencial e geral em todas as pessoas. Cada indivíduo demonstra de um modo ou de outro a originalidade, a flexibilidade, a inventividade. Ele salienta que é necessário propiciar condições de saúde psicológica à criação, tais como: ser aceito, respeitado pelos outros e por si próprio. Esta criatividade brota da personalidade e pode manifestar-se nos comportamentos, mesmo nos afazeres diários dos indivíduos, e tem diferenças quanto à expressão.
3. Primária - é uma fase de inspiração, o sujeito utiliza seus "processos primários", que são constituídos por modos de pensar mais primitivos. Expressa-se nas criações infantis, nos flashes de inspiração dos indivíduos que acordam à noite. Nessa fase o indivíduo se detém no momento presente e "perde o referencial de passado e de futuro - isto se chama de Peark experience, algo onde o êxtase e a exaltação são experienciados juntos".
4. Secundária - a criatividade se baseia nos "processos secundários" do pensamento e representa árduo trabalho, requer disciplina, experiência e conhecimento acumulado durante a vida do sujeito, como os materiais e ferramentas necessários à criação. São exemplos desta criatividade os trabalhos científicos.
5. Integrada - é uma fusão e sucessão de ambos os processos primários e secundários. As obras primas da humanidade, na arte, na ciência, na filosofia são expressões desse tipo de criatividade.

Nesta abordagem, observa-se que já se evidenciava a preocupação com os aspectos da personalidade, porém não menciona quais são os responsáveis pela criatividade. Sua teoria é um construto que sofreu modificações. À medida que avançou no seu trabalho, ampliando seus conceitos, antes restrito a áreas comuns do desempenho humano, tais como: arte, ciência, poesia, enfatizando a criatividade como talento especial, concluindo posteriormente como fusão dos processos primários e secundários. Admite a existência de um fator importante como a saúde psicológica para que a criação possa manifestar-se no indivíduo.

ROGERS - Partindo de sua experiência como terapeuta, Rogers (1961) observou que existe uma necessidade social desesperada de um comportamento original por parte dos indivíduos criativos. No lazer, nas ciências, na empresa, na vida familiar e individual a criatividade pode estar reservada a poucos ou a nenhum indivíduo, visto que se instala um conformismo social e uma adaptação a métodos e regras conhecidos que colocam a sociedade em perigo. Uma sociedade sem indivíduos criativos é um agrupamento estático, estereotipado e de robôs que executam um programa já definido previamente.

Para se criar existe uma tendência a nível profundo, que se organiza em meio à mesma força curativa da psicoterapia. É chamada de Motivação Primária da Criatividade onde o homem tende a autorealização e a expressão das suas potencialidades, fortalecendo a sua identidade como pessoa através de novas formas relacionais com o ambiente.

Rogers afirma:"a criatividade tem sempre a marca do indivíduo sobre o produto, mas o produto não é o indivíduo, nem os seus materiais, mas o resultado da sua relação" (p. 309). A criatividade conduz a um resultado observável como um poema, uma invenção, uma pintura; não ocorrendo isto, são apenas fantasias, mesmo sendo originais.

Um aspecto importante na teoria Rogeriana é que na criatividade se produza um produto novo. A novidade provém das qualidades pessoais desenvolvidas pela experiência e interação do indivíduo, e também com os materiais fornecidos.

Rogers define dois tipos de criatividade: "a boa" e "a má" dependendo da saúde mental do indivíduo e também dos objetivos e do valor social do produto criado. Se um indivíduo nega a sua consciência, e o encontro consigo mesmo, utilizando camadas psicológicas defensivas que impedem o verdadeiro acesso ao seu eu real, então a criatividade torna-se destrutiva, como por exemplo, a bomba atômica. Ao contrário, quando o indivíduo desenvolve o senso de aceitação e amizade pelos outros, contribuindo também, para a sua própria valorização pessoal, a criatividade torna-se construtiva.

Existem três características básicas internas expressas pelas pessoas construtivamente criativas:

1. Abertura à experiência - quanto mais o indivíduo estiver aberto às suas experiências pessoais, encarando com tranqüilidade os impulsos hostis, o desejo de compreensão, amizade e aceitação, o que se espera dele, e o que define como seus objetivos pessoais, mais o fluxo de qualquer estímulo transitará livremente e a criatividade se fará presente. São indivíduos capazes, corajosos e enfrentam bem seu modo de ser e de se comportar no mundo, enquanto que outros utilizam defesas psicológicas gerando rigidez, inflexibilidade e intolerância frente aos fatos e compartilham de categorias preestabelecidas.
2. Critério interior de avaliação - o indivíduo avalia a si próprio e a sua obra a partir de uma crescente confiança em si mesmo e na sua própria "reação organísmica" em relação à obra produzida. A consciência de suas potencialidades leva o indivíduo a: "uma fonte ou lugar dos juízos de valor interior, a sua obra não adquire valor a partir do apreço ou da crítica dos outros e sim a partir de si mesmo, do seu eu em ação". (Rogers, 1961).
3. Capacidade para lidar com elementos e conceitos - é a destreza em manejar espontaneamente idéias, cores, formas, relações, dando uma visão criativa da vida, levantando hipóteses, justapondo elementos impossíveis, exprimindo o ridículo, criando alternativas para fatos improváveis, transformando erros em novos construtos criativos.

Rogers afirma que existem condições externas de desenvolvimento para uma criatividade construtiva, são elas:
Segurança Psicológica

a) A aceitação incondicional do indivíduo como ele mesmo, pode facilitar o crescimento consigo mesmo. Sabendo que é aceito como é, o indivíduo adquirirá segurança psicológica.
b) Criar um clima de ausência de uma avaliação exterior. A apreciação pelos outros de uma obra impede que a pessoa estabeleça os seus próprios critérios de juízo de valor e não permite que a criatividade se expresse com liberdade. Por exemplo, na criação de um poema, o que está expresso é o seu sentimento independente da avaliação dos outros.
c) Compreensão empática - compreender os sentimentos e atos do indivíduo sabendo porque ele age de determinada maneira, aceitando-o como ele é; então o indivíduo sente-se seguro e exprime o seu eu real e cria novas formas de relação com o mundo, favorecendo a criatividade.

Liberdade Psicológica

Para qualquer pessoa que tenha uma função de facilitar o crescimento pessoal do indivíduo, seja ela pais, amigos, terapeutas, líderes, se faz necessário à permissão para uma completa liberdade de expressão simbólica, ou seja, a liberdade para construir ou destruir uma representação simbólica, recear uma nova experiência ou aceitar outra, sentindo-se livre para suportar seus erros e reconstruir sua criação ou obra com esforço positivo. Quando a pessoa é livre, torna-se responsável por si, sente-se segura e isto favorece a criatividade construtiva.

A referência à saúde psicológica é também considerada por Rogers. Porém, as idéias básicas de sua teoria residem nas condições internas e externas que facilitam a expressão do potencial criativo. Ele se detém mais nos aspectos afetivos-psicológicos e no valor social da obra produzida, mas não desconsidera os aspectos cognitivos. Criar um ambiente favorável à expressão da criatividade ou trabalhos que a desenvolva, necessita de estudá-la em todos os seus aspectos de expressão.

ROLANDO TORO - Sendo o universo biologicamente organizado e em permanente "criação atual", a criatividade humana é uma extensão das forças biocósmicas que compõem o ato de viver.
"Nós somos a mensagem, a criatura e o criador ao mesmo tempo"(Toro, 1982; p.388).

A criatividade humana é a expressão de uma criatividade universal imanente a tudo que existe. A capacidade de criar-se a si mesmo, transformar suas emoções, a coragem de expressar sentimentos novos e antigos faz parte do processo criador da própria vida. A conexão profunda existente dentro de si mesmo possibilita um salto quântico evolutivo da própria espécie humana, algo transcendente em que aquele ser teve a coragem de transpor suas próprias barreiras. Esse mesmo processo acontece com o artista e a sua obra, em que num instante as tendências artísticas do potencial genético afloram e dão origem a "Criatura", expressando o sentimento sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca. Neste momento, o criador se vê na sua obra, pelo menos ao ser expresso tudo aquilo que antes fazia parte de si e ao ser externado provoca a transmutação do que foi vivido. Então, a criatividade é o próprio instante da incubação, iluminação e expressão tanto da obra quanto de si mesmo.

Toro (1982) afirma que: "o ato criativo possui muito de grito, de orgasmo, de dança e de gestação. É parir-se a si mesmo, é a vida abrindo-se, como uma viagem do caos ao cosmo" (p. 390).

Somos seres superabundantes pois a função criativa é um impulso inato que expressa a riqueza interior, a sua grandeza e a particularidade, através de gestos e do jeito de ser, que afirmam a existência de cada um."Assim a criatividade pode exercer-se em uma conversação, em uma dança espontânea, no ato sexual, na celebração do desjejum, tanto como nas formas mais ativas e majestosas da arte universal"(Toro, 1982; p. 392).

Todo ser humano é criativo, mas a institucionalização e a sociedade, inibem a criatividade. A mecanização se instala e o homem se veste de movimentos repetidos, estereotipados, padronizados em papéis sociais e com sua identidade fragmentada e a auto-estima (sentimento por si mesmo) torna-se uma construção de um fracasso existencial.

Resgatar os impulsos inatos da criatividade, é resgatar o sentimento por si mesmo, sua própria identidade. A criatividade é o resultado de uma profunda conexão consigo mesmo, de um profundo amor pela vida intrínseca em sua pele. "Se o homem é um animal poético, um poema inconcluso, cada indivíduo está desenvolvendo, através de sua existência, o poema de sua identidade" (Toro, 1982; p.394).

A criatividade está além da obra. É uma fusão cósmica no homem. Esta visão é mais ampla que a de Maslow e de Rogers; e enfatiza a criatividade como a criação de si e da própria vida, caracterizada pelas expressões das emoções, transformação existencial, criação científica e artística.
Toro propõe em sua teoria, exercícios de Criatividade que estimulem o potencial criativo; operacionalizando assim, o seu modelo teórico e facilitando a construção de uma auto-estima positiva e o reforço da identidade. Os aspectos psicológicos não são enfatizados, aborda que cada indivíduo tem uma identidade própria e uma vez desenvolvido o potencial criativo, este se expressa independentemente de qualquer fator, basta que os canais de repressão sejam desbloqueados pelas vivências integradoras, através da música e do contato entre as pessoas.

Competências que todos precisam desenvolver

Autocontrole Emocional: importante para que se mantenha um clima organizacional saudável. Devendo ser desenvolvidos a virtude da paciência, a compreensão e racionalização de causas e efeitos.

Empatia: é a capacidade de se colocar no lugar do outro, do interlocutor, interação e relacionamento entre as pessoas. Pessoas empáticas possuem maiores condições de serem compreensivas, de saberem avaliar melhor os motivos dos outros, de serem aceitas e respeitadas. E isso as ajudará a se tornarem mais competentes.

Comunicação: esse é o processo mais vivenciado pelas pessoas, suas falhas constitui o maior problema dentro das organizações. Devendo-se desta forma ser desenvolvidas e constantemente aperfeiçoadas várias competências de comunicação, tais como: Saber fazer-se entender; Saber persuadir e convencer; Saber entender e decodificar mensagens; Saber ouvir e dar Feedback; Saber orientar, ensinar e dialogar; Saber fazer apresentações em público e redigir clara e objetivamente.

Flexibilidade Mental: desenvolver a capacidade de flexibilizar idéias, conceitos, hábitos e posturas para poder se adaptar aos novos tempos. Eis algumas atitudes: capacidade de adaptar-se às mudanças, capacidade de aprender e desaprender; “Jogo de cintura”, diplomacia nas relações; e capacidade de negociar.

Ser voltado para resultados: o desenvolvimento desta competência implica: desenvolver o sentido da vontade e de objetividade; aprender a definir ou identificar (lidar com) padrões de resultados; ter persistência para buscar e alcançar os objetivos traçados e desenvolver o espírito empreendedor.

Resultados da Pesquisa para Avaliação das Competências

Os resultados da pesquisa mostraram que os exercícios de Biodanza promovem um aumento da Auto-estima e também da capacidade criativa das pessoas quando é considerado o desenvolvimento dos cinco Potenciais (Vitalidade, Sexualidade, Criatividade, Afetividade e Transcendência). Porém, vale salientar que se dando maior ênfase a Criatividade, não se garante uma mudança efetiva na Auto-estima, existe um outro fator como a Afetividade que interfere na expressão das competências.
Os estudos da literatura bem como os resultados da pesquisa confirmam que existe uma relação entre Auto-estima e Criatividade para desenvolver as competências mencionadas acima. Mas a que nível? entende-se que se faz necessário um estudo empírico com maior profundidade para responder a essa questão.
A criatividade é facilmente expressa quando já existem condições internas favoráveis nas pessoas. As condições externas, quer dizer o ambiente organizacional pode favorecer ou bloquear a expressão da criatividade e das competências.
As pessoas que não têm as competências desenvolvidas necessitam tanto de ambientes favoráveis à criatividade quanto de um tempo relativamente longo para estimular as características necessárias.
Em síntese, pode-se concluir que a Biodanza eleva a auto-estima e conseqüentemente reforça a identidade e estimula as competências pessoais. A transformação existencial ocorre de forma progressiva, segundo a história de vida das pessoas. E a expressão do potencial criativo aparece ante uma profunda conexão consigo mesmo, quando vivências negativas são transformadas em positivas.

Conclusão

Sabendo-se que a Criatividade é um instrumento de inovação da humanidade, onde o cotidiano é um construir constante desde o preparo de um jantar até um vestir de uma roupa, apesar dos momentos serem cíclicos e aparentemente repetidos, observa-se que os gestos são únicos, singulares, espontâneos, originais e flexíveis. Sendo assim, este trabalho visou desvendar ainda mais, o fascinante potencial criativo e ser uma contribuição científica para a Biodanza nas Organizações, como uma tentativa de avaliar e desenvolver as Competências essenciais ao progresso de cada pessoa.


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· Toro, R.A. (1991). Teoria de Biodanza - coletânea de textos. Vol I e II. Associação Latino Americana de Biodanza.
Autor: Vera Lúcia da Conceição Neto


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