BEM E MAL



Bem e mal, verdade e mentira, branco e preto, coragem e covardia, riqueza e pobreza. Parece que a vida humana é regida por antônimos. Não se fala dos nuances, dos tons de cinza, dos equilíbrios, nem das ambigüidades.
Olhando à nossa volta, a realidade não parece ser tão estática, tão cara-ou-coroa. Queira ou não, o conceito de bem e mal que conhecemos é estritamente cultural. Não devemos supor que seja igual em todo o mundo, ou que tenha sido sempre o mesmo desde o início dos tempos. Por exemplo, ficamos horrorizados quando ouvimos falar de rituais canibalísticos ou infanticídio no passado, achando com certeza que é um retrato vívido do mal no mundo e, que seus praticantes, são verdadeiros demônios. Não devemos ser tão apressados em rotulá-los como devotos do mal, sem antes compreender os motivos que os levaram a isso, mesmo que não gostemos desses motivos. Isto não é apologia, é entendimento.
Diz-se que o que separa o homem das feras é justamente sua capacidade de raciocínio, seu auto-conhecimento. Isso faz com que sejamos ótimos em tirar conclusões do que vemos ao nosso redor, mas nem sempre, o que enxergamos é a realidade. Não é porque o sol "nasce" a leste e "se põe" a oeste, que isso significa que o Sol gira ao redor da Terra.
O que deveria nortear a humanidade é a procura da verdade (mesmo que nunca a alcancemos totalmente), gostando ou não do resultado obtido. Não é porque alguém crê em Deus e no que diz a Bíblia, que deve refutar a realidade da evolução. Os que a negam, infelizmente, fazem o cultural prevalecer sobre a razão das evidências.
Esse aparente paradoxo, de ter de levar sempre em consideração o cultural para entender as motivações humanas e apesar disso, não deixar esse mesmo contexto cultural negar a realidade dos fatos, é difícil de concretizar, mas acaba sendo a chave para o equilíbrio que constrói o saber.

Este equilíbrio, que rege a natureza do Universo, parece não agradar ao homem. Os excessos sempre chamaram mais a atenção do que o comedimento. Por isso são mais famosos os pilotos de fórmula um do que os praticantes de caminhadas, mesmo que muitas vezes, vivam menos. Da mesma forma, a paciência não é uma das virtudes mais aplicadas em nosso mundo.
Tendo os extremos em tão alta conta em nossa sociedade moderna, é normal que o caminho do meio não seja visto como o mais recomendado em situações cotidianas, se quisermos vencer. Parece que vivemos em eterna disputa ! Ao dirigir um veículo, ao entrar num banco, ao caminhar pelas ruas, é como se estivéssemos atrás de bater algum recorde num estádio, ou defender nossa vida numa arena romana!
O mal que isso nos faz, tanto física como psicologicamente, é o único "prêmio" que auferimos, com esse estilo de vida.
A competição é salutar e gera inovação, mas em excesso, é a causa também da fome e das guerras. Mais uma vez o equilíbrio parece ser a resposta a esse dilema.

Agora, pensemos um pouco naqueles que utilizam a paciência e a perseverança para obter o saber:
Os paleontólogos ou arqueólogos que permanecem debruçados sobre um sítio por meses ou anos a fio, com alguns poucos instrumentos e muita paciência, escavando camada após camada de sedimentos, à procura do conhecimento que a natureza, no passado, escondeu para o futuro.
Os físicos, os cosmólogos e outros que como eles, passam a vida toda tentando decifrar a escrita da realidade do macro e do microcosmo, utilizando instrumentos feitos em geral sob medida, como um terno, e outros ainda, que devem ser criados do nada, além de muita matemática, lógica e raciocínio dedutivo a fim de conseguir informações de coisas que, em geral, não parecem ser o que são.
Estes são apenas exemplos. Todos podem aproveitar as virtudes do equilíbrio, da paciência e da perseverança em seu cotidiano, basta exercitá-las. Pode parecer difícil, demorado e até antiquado à primeira vista, mas dá frutos bastante saborosos no final.

Equilíbrio, paciência e perseverança são atitudes que, utilizadas como ferramenta de crescimento na busca do conhecimento, permitem uma satisfação mais duradoura quando este é enfim alcançado.
Autor: Henrique Montserrat Fernandez


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