Pipoqueiro Crocodilo?



A língua dos sábios destila o conhecimento; porém a boca dos tolos derrama a estultícia.
(Provérbios 15:2)

Dizem que pedreiro não mora em mansão e mecânico tampouco é possuidor de carro zero. Pipoqueiro evidentemente não se encontra extubado dessa tese.

Estupidificadamente, esses profissionais observam a exaustão provocada pelos festejos comemorativos de tão freqüentes vitórias, da classe dominante. Com a velocidade de um foguete da NASA, (Namoro Aeronáutico Suavemente Apimentado), são visitados pelo sofrimento, meditando em seus dias de fracasso, premiado com a medalha da escassez.

Longe todavia, está essa idéia, de encruar a aspiração de uma pessoa tenaz, por uma distinção social de reconhecimento.

Os jornais televisivos apresentam o prognóstico do tempo, mostrando continuamente a figura de um ovo frito, para simbolizar a previsão de sol. Pior é quando fala de chuva rápida: exibe a mesma imagem, tendo como única diferença, um aparente salpico. Será marketing ovíparo? A galinha agradece e o Ovobanco idem.

Em meu artigo Leboco, falo de um espaço cultural bancado pelo Ovobanco, na Praia de Botafogo, Rio de Janeiro, onde existem: cinemas, livraria e lanchonete. Agora o local ficou mais interessante com a presença dos pipoqueiros, Famélico e Pocho.

O que há em comum entre os pipoqueiros além de milho? Trabalham em frente à porta principal da galeria, com idênticas carroças, chegam e saem juntos no mesmo horário, estando disponíveis para ambos, semelhantes oportunidades.

Famélico fatura diariamente R$ 35,00 e Pocho R$ 150,00. Qual é o problema?

Famélico (esfomeado)
Manutenção
Enquanto os fregueses não aparecem, fica contando piadas e reclamando dos não poucos problemas do Brasil. Sua pipoqueira é mais suja do que pau de galinheiro. As portinhas para pegar salgada e doce, permanecem fechadas, para que ninguém venha torrar o saco.

Apresentação
Bermuda e tênis emporcalhados, boné fedorento; come o tempo todo durante o trabalho; não tem cara de um bom amigo; simpatia não é seu forte.

Faturamento diário
Venda R$ 20,00
Comissão R$ 15,00
Total R$ 35,00

Pocho
Manutenção
Enquanto os fregueses não chegam, está sempre limpando tudo, demonstrando muito asseio; procura manter as portas que dão acesso às pipocas abertas, indicando ao cliente, que está totalmente on-line.
Apresentação
Camisa contendo os dizeres: Pocho, seu Pipoqueiro Fiel! Gestos rápidos no atendimento e simpatia completam a configuração que o fazem carrear 90 por cento dos clientes.

Faturamento diário
Cerca de R$ 150,00
Comissão R$ -35,00
Líquido R$ 135,00


Pocho fatura em média R$ 150,00 por dia. Paga uma comissão de 10 porcento ao seu colega Famélico, sobrando R$ 135,00.

Há cerca de 2 anos, um cliente lhe ofertou o jornal, Al Dia, da Costa Rica. Interessou-se pela história de um homem que encontrou um crocodilo muito ferido. Depois de passar 4 anos tratando dele, a amizade tornou-se tão estreita, que o cara até dava beijo no bicho.

Ninguém merecia mais ósculo do que o amigo crocodilo Pocho, que, comportando-se como um cavalheiro em espetáculos circenses, passara a gerar excelentes recursos financeiros para o seu grato dono. O segredo para o cascudo não voltar a ser violento, foi alimentá-lo com galinha previamente abatida. Não despendendo esforço para comer, o animal permanecia dócil, não oferecendo qualquer perigo ou risco para o seu amigo. Veja a reportagem no site:
http://www.aldia.co.cr/ad_ee/2005/septiembre/18/nacionales7.html

Ao tentar ajudar Famélico, propondo-lhe mudanças comportamentais e de higiene, Pocho foi chamado de burguês, pobre acéfalo e membro do MSCZ (Movimento dos Sem Carro Zero).

E, para não lamentar a abordagem fracassada junto a Famélico, Pocho, decidiu, sem nada dizer ao colega, tirar de sua receita diária, o equivalente a 10 porcento. A idéia tem sido tão bem aceita pelo amigo, que retribui aumentando sua negligencia no atendimento aos clientes. Como o ser humano é complexo!

Pocho tem loucura por automóvel zero. Detesta gastar dinheiro com manutenção e por esse motivo já era o terceiro ano que trocava de carro. O único cheiro capaz de superar o de um veículo novo é evidentemente, o da Pipoca.

O Amigo Leitor, pode querer interagir na história e bradar com indignação:
-- Chega de falsidade, enganações, falcatruas e mentiras. Ninguém dá nada de graça. Esse espertalhão da pipoca deve ta pagando 10 por cento de comissão, para que o idiota, não saia do seu lado, dando lugar a um concorrente mais esperto que possa criar estratégias de competitividade, prejudicando conquistas alcançadas com relativo sacrifício. Bem.. sacrifícios da imaginação. Amansa a fera, transformando-a em sua parceira, propinando-a com uma merreca.

Amigo Leitor. Outra vez você tem razão. A inclusão social precisa conter em seu bojo, uma contrapartida. Faltou dizer que às vezes, Pocho é acometido por uma crise de generosidade, pagando a passagem de ônibus de Famélico. Afinal, o rapaz tem família, convém ajudar, né?

O namoro dos astronautas estava levando até as estrelas as notícias da semana. A que mais impressionou a Pocho, foi a parceria do Companheiro Polvo com o Presidente Arbusto. Afinal, desenvolver o Bush-combustível e exportar para a América Central, poderá coincidir com a Costa Rica, lugar onde mora o crocodilo Pocho. Ai sim, vai ser biodiversidade a dar com pau. Melhor do que urinar em saco de astronauta para dirigir carro.

Atrás dos oitizeiros e amendoeiras da Praia de Botafogo, o Pão de Açúcar, olhava para os dois Pipoqueiros. O que chamava a atenção da montanha e das pessoas era justamente o recorte do jornal da Costa Rica, com a foto em destaque do crocodilo, afixada na carroça de Pocho.

O carro flex estava sendo colocado na garagem daquele que por usar o nome do famoso réptil, pensou por instantes: acho que vou assinar a carteira de Famélico. Serei eu, um Pipoqueiro Crocodilo?
Autor: Gilberto Landim


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