Nevoeiros do Sobrenaturalismo



Nevoeiros do Sobrenaturalismo

Desde sempre, que esse sempre é parte do conhecimento Humano, que existem curandeiros, videntes, adivinhos e outros exploradores da fragilidade e da boa vontade Humana, por vezes inseridos na forma mais desprezível, o parasitismo de pessoas debilitadas por um ou vários factores. Se alguns destes “mágicos” mais não são que marionetas influenciadas por contextos sociais sobrenaturais, a maioria é esse mesmo contexto social, lideres de uma causa inexistente e detentores das consequências benéficas, deixando as maléficas para terceiros.

Algumas destas ilusões situam-se numa “medicina” religiosa sobrenatural. Uma situação composta de facilidades e de extremas simplicidades. Primeiramente existe a necessidade de inventar ou reinventar uma qualquer doença transcendental que se situe fora de contextos físicos e psicológicos. Após a criatividade e aperfeiçoamento dessa ideia ideal de doença sobrenatural, ideia à qual não é necessária perspicácia acentuada nem tão pouco grandes doses de intelecto, surge a necessidade de disseminação psicológica da mesma pelas massas populacionais mais desinformadas e mais debilitadas. Após consolidação da mesma eis que surgem os grandes heróis, como numa qualquer história de banda desenhada, apregoando o conhecimento transcendental da cura.

Tais esquemas intelectualmente desonestos e desumanos conquistam facilmente a fama e a ambição maior, a riqueza, tendo como efeitos secundários situações hediondas que nunca pesaram nem irão pesar na consciência desses “médicos” sobrenaturais. Durante séculos a bruxaria era uma das “doenças” transcendentais e os churrascos Humanos a cura, raízes que ainda se manifestam excessivamente na actualidade. Esses factos demonstram o poder das manipulações de massas desinformadas e debilitadas através de induções psicológicas desconexas mas propositadas. Debilidade e desinformação ainda fazem prevalecer crenças em mulheres vestidas de preto e de chapéu cónico a viajarem em vassouras a jacto, e dão dinheiro a exorcistas e outros exploradores cuja transcendência é a ridicularidade.

Antevisões do futuro também correspondem a uma excelente forma de fama fácil e correspondentes lucros e louros. Qualquer pessoa é capaz de adivinhar o futuro. Apenas uma breve análise de probabilidades e de proselitismo abstracto proporcionam uma clara simplicidade de antevisões, adivinhações e profecias. Quanto maior o nevoeiro e a obscuridade das palavras mais as hipóteses de acontecimento certo ou quase certo. Aplicar pequenas induções psicológicas também ajuda na certeza de clarividência futurista. Se nos ocorrer uma visão do futuro certa, ela terá como contornos algo como “dentro de alguns dias vai chover.”. Pegando no “dentro de alguns dias” podemos estipular um acontecimento certo, sabendo que dois dias ou cem dias podem ambos ser relativizados à afirmação feita. Relativismo sem comparação provoca uma flecha certeira.

Um erro comum dos adivinhos, videntes e outros detentores de “poderes” sobrenaturais, reside na competição pela fama. Uma adivinhação com conceitos não relativos e não abstractos poderá trazer a fama se a flecha acertar, ou trazer uma hilariante comédia se esta falhar.

Outra característica interessante, que necessita ainda de maior desonestidade intelectual, de ginásticas de raciocínio e de misturas com demagogias encaixadas à força de marreta é a dos prosélitos começados por “mas,…” quando a profecia falha. Se esse “mas,…” também falhar eis que surge mais outro “mas,…”. Uma moldagem e remoldagem da adivinhação.

A indução psicológica de aceitar como verdade algo sem qualquer evidência provoca a aceitações de contextos abstractos perante situações objectivas. Qualquer minimalização de raciocínio nos poderá dizer que se lermos num horóscopo que poderemos ter problemas gastrointestinais, não poderemos aceitar a adivinhação como válida se nesse dia tivermos uma flatulência. Um conceito objectivo, mal ou bem, acerta sempre num contexto abstracto. Era interessante ler ou ouvir algo como “hoje, todas as pessoas de signo Virgem irão ter um furo no pneu da frente do lado esquerdo do seu carro.” ou “hoje, todas as pessoas de signo Peixes ao saírem de casa e fecharem a porta notarão que se esqueceram das chaves dentro de casa.” ou “hoje, todas as pessoas de signo Aquário irão calcar um excremento de cão”.

Separemos correctamente a ficção da não-ficção e sejamos intelectualmente honestos. Entrar em campos de misturas pode originar problemáticas sérias, para além de humilhar a intelectualidade Humana. Mesmo que a Astrologia, por exemplo, não apregoe situações nocivas para a Humanidade, não deixa de ser intelectualmente desonesta, para além de se exibir publicamente nos meios de comunicação como algo alicerçado por evidências.

Situações divergentes das analisadas costumam ser rotuladas de sobrenaturais erradamente. Os conceitos de palavras e análises encontram-se seriamente enublados pela desonestidade intelectual do sobrenaturalismo, para além de palavras terem significados diferentes de indivíduo para indivíduo. Situações de consciência alterada tal como a meditação necessitam ser colocados fora das situações de convicções erróneas. Desde que o Homem obteve a consciência de ter consciência, que procura induzir estados diferentes da mesma, seja por factores intrínsecos ou extrínsecos. Esta situação de alteração de consciência reflecte uma Humanização própria de cada um, e diferente de indivíduo para indivíduo. Essa mesma reflexão interna e exploração de estados pessoais de consciências diferentes atribuem a cada um a sua própria individualidade. Que cada indivíduo escolha livremente em que acreditar, sem interferir com as escolhas livres de outros indivíduos, e sem se deixar influenciar por nevoeiros de sobrenaturalismos.
Autor: Bruno Resende


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