VELHA VITROLA



É estranho pensar como moderno e tradicional se mesclam, harmoniosamente ou não, em vários aspectos de nosso cotidiano. Os tempos se fundem e ditam um verdadeiro malabarismo entre high tech, Frost free, MP3 e cadernetas, charretes, coretos e vendedores ambulantes.
Os dias passam e nos obrigam a acompanhar o andamento do desenvolvimento tecnológico. Com esse andar acelerado, colorido e tubular não nos desvencilhamos de práticas muito simples que se arraigaram lentamente em nossos hábitos.
A modernidade que vivemos hoje não pode ser considerada completa, não pode ser designada como prática comum a todos os indivíduos e, talvez, nunca venha a ser. Sempre e em todo lugar alguma atividade tradicional persistirá ao tempo.
Uma das práticas mais expressivas identifiquei na cidade de Franca, capital nacional do calçado masculino, no interior do estado de São Paulo. Lá, cidade altamente industrializada e com o comércio muito desenvolvido, vendedores ambulantes circulam por toda cidade, oferecendo os mais variados produtos.
O caso da pamonha; o carro do picolé, que oferece seis picolés a 1 real; o carro das roupas, com 3 meias a 1 real; o carro do conserto de panelas; o carro que compra sucata e paga à vista; o carro do churros e os populares picolezeiros e gazeiros, são alguns dos exemplos.
Em diversas outras cidades, essa mesma realidade é reproduzida com meios de transporte, produtos e sotaques diferentes, mas que fundamentalmente resistem às pressões impostas pela modernidade e pelo crescente consumismo.
Como estratégia de marketing, comerciantes de grandes metrópoles, como São Paulo, por exemplo, modernizam seus estabelecimentos com aparelhos de ar-condicionado, monitoramento por câmeras e sistema informatizado, que permite que o consumidor realize compras pela internet e as receba em casa, no entanto, não abrem mão da velha e boa caderneta de compras, o que transmite aos clientes sentimentos de intimidade e confiança, características típicas de tempos atrás.
A busca pelo tradicional e o anseio por produtos tecnologicamente avançados não possui regras. Em uma mesma casa podemos encontrar uma vitrola ao lado de um aparelho de DVD; um fogão à lenha contrastando com um microondas e uma bicicleta “barra forte” ao lado de motocicletas super potentes.
Infelizmente, o que a modernidade possui de atraente é exatamente sua face mais cruel. O avanço tecnológico que se nutre do escoamento de mercadorias e impõe novas necessidades consumistas, transforma produtos de última geração em objetos frágeis que, após poucos meses de uso, vão para os lixões.
E, enquanto isso, aquela vitrola que passou por diversas gerações tem seu fim como peça de museu, exatamente porque nós, seres humanos, adoramos o verbo ter, possuir.
Autor: Rafael Lucas Santos Valin


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