ONDE ESTÁ O TEU INTERESSE AÍ ESTA O TEU CORAÇÃO



Interesse é a relação entre o sujeito e o bem. O bem e o objeto que ira satisfazer o interesse do sujeito. Sujeito vem do latim “sui jactum” e objeto é “ob jactum”, podemos traduzir “sui” como algo que “é para si” e “ob” como algo que “é para fora”. No latim também a expressão “quod inter este” (aquilo que está), com relação ao sujeito e o bem, por isso chega-se a conclusão de que interesse é quando está carente e o sujeito procura os bens para se satisfazer.

Aquele que procura satisfazer as suas necessidades, que é as suas carências. Cada um tem as suas carências e seus interesses. O interesse é parado, e só está em relação de sujeito e bem. Agora para satisfazer esse interesse faz-se necessário colocar em movimento, e, interesse em movimento se chama pretensão. Quem pretende algo está procurando satisfazer um interesse. Algumas pretensões sãs boas, outras não, são ruins.

O homem vive por interesse. Quando relacionamos isto à questão eclesiástica, afirma-se “eu vou ser crente, mas não quero ter compromisso”. Assim vai-se a igreja quando bem entender, participa dos trabalhos eclesiásticos sem motivação, não se envolve nos eventos da igreja ou da liderança. Tem-se direitos e deveres mas não tem interesse. Realmente tem direito, e este direito pode ser subjetivo ou objetivo. O direito religioso subjetivo é o interesse juridicamente protegido pela norma jurídica, está na Constituição Federal do Brasil, no Art. 5º, que todo o brasileiro tem direito a uma religião. É uma garantia a prática da religiosidade, e o Estado não interfere nestas questões, está garantido ao cidadão. O direito religioso objetivo é genuinamente abstrato.

A interpretação teológica é a técnica, ciência que elabora a doutrina teológica, ou seja utiliza alguns fatos ocorridos na história da Igreja tanto geral como local, bem como textos, artigos e dispositivos, resoluções e normas, mas também é interesses e valores. Estes textos, artigos e normas tem seus interesses e valores. Por exemplo a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), tem as suas normas (Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, Princípios de Liturgia, Código de Disciplina), Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior e Menor de Westminster, as resoluções concíliares (Digesto Presbiteriano) e os interesses locais e nacionais que vão constituir os valores presbiterianos.

Existe conflitos de interesses, com certeza eles afloram quando um grupo se levanta dentro da igreja, com interesses contrários aos interesses locais e nacionais, seja no campo da Teologia Reformada ou/e principalmente na Litúrgica, o que acontece? Ruptura dos valores éticos, morais, religiosos, litúrgicos e da inaplicabilidade constitucional. O interesses que causaram mudanças na Igreja, tem caráter mais político e institucional do que espiritual. Temos de admitir que a Igreja tem trabalhado, num esforço conjunto para que todos cheguemos a unidade, incluindo o objetivo (que é abstrato) maior de congregarmos todos os evangélicos em uma só igreja, amável e respeitável.



Igreja é uma Comunidade e não um indivíduo

Os interesses do homem cristão que não compreendeu ainda que a igreja é uma comunidade e não um indivíduo, pois como comunidade temos a verdadeira arma que superaria as relações de dominação do mais forte para o mais fraco, do senhor sobre os escravos, dos presbíteros manda-chuva sobre os membros, do mais rico sobre o mais pobre, porque a individualidade na igreja gera a escravidão, “pôr um lado exigem uma subordinação total ao ‘sistema eclesiástico, e pôr outro lado eles pregam uma salvação individual, pôr sinal não podemos esquecer-nos que o individualismo moderno nasceu em grande parte como protesto contra um coletivismo eclesiástico. As igrejas cristãs oscilam entre dois extremos dos quais nem sempre estão bem conscientes. Acontece inclusive que as duas estruturas ficam associadas numa combinação histórica paradoxal mas viável: o governo eclesiástico não promove estruturas comunitárias e dirige-se a cada indivíduo em particular. Dessa maneira cada indivíduo está chamado a fazer a sua salvação pôr meio da subordinação total ao sistema ditado pelo governo (da Igreja).”[1] Em toda minha vida sob a tutela da Igreja, pude observar na vida de muitos membros que a salvação tem como resultado as observância das ordenanças constitucionais da Igreja.



Interesses que desqualifica a vocação ministerial

A crise vocacional é acentuada ainda com a visão tecnocrata do ministério pastoral. A idéia da Igreja como empresa e o pastor como executivo. A visão do crente não é mais a visão do homem espiritual, crente, fiel a Deus, mas é a visão de um empresário e uma empresa. Ao perder-se a visão espiritual do ministério, a visão pedagógica, a igreja passa a determinar todas as regras em que o pastor deve obedecer. Se ele obedece as diretrizes da igreja, este permanecerá pôr longo tempo nesta igreja, porém se descordar, é mandado embora. É preciso termos em conta que qualquer pastor que opta pelo trabalho espiritual e pedagógico da igreja, terá de líder com questões que consequentemente ferirá uns ou trará descontentamento a outros. Neste caso seguindo os preceitos Bíblicos ele não será um pastor bom, fiel e sincero as instituição religiosa que o contratou. É comum então observarmos o marketing na Igreja, que reflete esta visão tecnocrata.

Sempre que as igrejas locais abrem eleição pastoral, o que fica evidente na forma da escolha proposta é a manifestação que determinado pastor foi eleito pôr vontade de Deus. Porém na praxidade é um problema que nem sempre é confirmado. Pôr uma razão ou outra o pastor não consegue desenvolver seu ministério nessa igreja, ocasionando alguns conflitos, fica evidente no entanto duas alternativas: ou Deus falhou, ou a Igreja não conhece a vontade de Deus. Isto praticamente camuflaria a nossa responsabilidade.

Diante da vontade de Deus o que verificaríamos é o compromisso do pastor com Deus, o encontro do Pastor com Deus. O homem de Deus é aquele que vive na dependência de Deus, nesta perspectiva todos os pastores são vocacionados pôr Deus e tem condições de assumir o pastorado de qualquer Igreja local. Mas o que devemos levar em conta na escolha pastoral? A vontade de Deus se restringe nas qualidades, nos princípios e nas determinações Divinas registradas nas Escrituras Sagradas. Fora disso a escolha pastoral nada tem a ver com a Vontade de Deus, passando unicamente a ser vontade dos homens. A partir daí os membros da Igreja são responsáveis diretos pela escolha pastoral. Muitas vezes os processos eleitorais das igrejas terminam quase sempre nas afirmações dos homens que conseguem denegrir a imagem do seu semelhante e concorrente. Mesmo onde o homem é abençoado ele consegue denegrir a sua imagem. Deus estabeleceu um caminho, neste caminho tem as bênçãos, quando você está no caminho você tem a bênção, nisto manifesta a crise do justo, que a bênção é uma dádiva. Mas como pode progredir o ímpio no seu caminho? Porque pensamos que as bênçãos de Deus está relacionado com a nossa fidelidade.



Interesses que enfraquece a disciplina eclesiástica

De um lado existe a frouxidão disciplinar na igreja, que a cada dia toma novos caminhos em direção ao liberalismo pos-moderno. Pôr outro lado o formalismo e a institucionalidade estão além dos ensinamentos das Escrituras Sagradas. No primeiro caso, disciplinar um membro da igreja tornou-se uma atribuição séria, difícil e penosa, isto, porque não existe também em algumas igrejas nenhum critério na recepção de novos membros. É comum, pôr exemplo, termos conhecimento de pessoas disciplinada em uma igreja e ser recebida pôr outra da mesma denominação pôr jurisdição a pedido, ou até mesmo encontramos pessoas que mudam de denominação, como se estivesse mudando de roupa todos os dias. Caracteristicamente o que observarmos que qualquer disciplina desqualifica o ministro, pois o crescimento da igreja é avaliado pela recepção de novos membros, e isto credencia o ministro como vocacionado para o ministério. No segundo os membros “precisam compreender que o Conselho não é a delegacia da Igreja e nem os presbíteros são detetives para oculta, e em certos casos, até covardemente delatarem seus irmãos, algumas vezes pôr faltas perfeitamente corrigíveis pastoralmente. Esta expressão “vou levar você ao Conselho” é uma ameaça anticristã, além de desmoralizante do Conselho”, [2] criando na igreja um ambiente de desconfiança, hostilidade e de temor, colaborando para que os membros da igreja exercitem uma religião apenas denominacional institucionalizada, não havendo a circuncisão do coração.

Interesses por modelos pragmatizados de Evangelização

Diante de todos estes problemas enfrentados pelo homem urbano, nós presbiterianos geralmente não temos resposta satisfatórias que ajudarão o homem urbano a desenvolver uma vida mais humana, piedosa, diante das soluções que Deus tem para cada um. A nossa intelectualidade e ordem institucional, quase nada pode fazer pôr este homem. Porque será que os pastores presbiterianos, tais como Rev. Jeremias, Rev. Hernandes e Rev. Antonio Elias conseguem penetrar na vida de milhões de brasileiros. Pôr uma razão muito simples, eles conseguiram entender o homem urbano e digerir seus problemas e necessidades e vomitando sobre eles a Palavra de Deus contextualizada, trazendo uma resposta a todo problema existencial vivida pôr eles, ajudando nesta caminhada dia-a-dia com Deus. Mas para isto estes pastores tiveram que quebrar praticamente todas as barreiras denominacionais e institucionais existentes.

Na vida urbana o individualismo tem suas características profundas, principalmente como produto do medo da violência, medo de perder o emprego, medo de ser assaltado, medo de sair de casa e não regressar pôr ter sido vítima da violência pessoal ou do trânsito há um pavor enorme cirandando as pessoas urbanas, até mesmo em nossa casa tranqüilo, podemos ser vítima fatal de uma bala perdida das constantes disputas territoriais das quadrilhas. A individualidade do homem urbano é caracterizada também pôr sua falta de tempo, ele está sempre correndo daqui para acolá, vivendo numa dimensão a beira da loucura. Os filhos são criados pela empregada doméstica, na verdade o relacionamento de pai para com filhos é muito informal e o relacionamento de esposa e esposo tem características hedonistas, principalmente afirmadas nas palavras de Vinícius de Morais, “o amor é eterno enquanto dura”. O casamento é mais visto com um contrato social, em que duas partes fazem um acordo que a qualquer hora possa ser rescindido.

Basicamente o interesse por modelos pragmáticos, ostenta-se ganhar a guerra cultural e levar multidões a Cristo, a igreja evangélica está se identificando como uma igreja orientada por resultados. Dependendo dos resultados este tipo de cristianismo está descaracterizando os valores morais, éticos e teológicos do que é ser cristão. Quando a doutrina é colocada de lado como um ingrediente desnecessário ou um obstáculo ao crescimento da igreja, nenhum alicerce sólido é estabelecido, e a casa é construída sobre areias que se deslocam de forma violenta.

Segundo Aurélio Pragmatismo é doutrina segundo a qual as idéias são instrumentos de ação, que só valem se produzem efeitos práticos. Quando falamos em ativismo religioso, temos a impressão de que todas as religiões estejam praticando ações de Fé. Todos conhecem propagandas por escrito, sermões verbais, orações, cultos, rituais religiosos, ascetismo e mortificações; infelizmente, porém, as religiões ainda não atingiram a vida prática. Em verdade, não passam de cultura mental.

Podem-se listar vários modelos práticas utilizados pela igreja, vejamos alguns:

- G-12

- Igreja com Propósitos

- Igreja de Células (uma variação do G12) – é diferente de Igreja em Células

- Movimento de Crescimento de Igrejas

- Movimento de Boston

- etc.

Conclusão

O homem vive por interesse. O Licenciando tem interesse em ser ordenado pastor, é claro que ele irá responder as perguntas que o Presbitério quer ouvir dele, fidelidade aos princípios da Igreja, porém na prática os interesses são outros.

Alguma prática que exemplificam a diversidade do quadro da Igreja se destaca a importância de considerar as condições sustentadoras deste fantástico quadro’

Auto-investimento de autoridades baseadas em sonhos e revelações e que é incondicionalmente aceita pôr seguidores fundamentalistas, pentecostalistas, neoliberalistas, carismáticos, tradicionalistas e conservadores.

Pregações sem vida (não inspiram nem mobilizam os membros a nada) de pastores ordotoxos e liturgia canônica.

Despreparo acadêmico-teológico (inclusive quanto à língua) minimizado pelos que se baseiam só no Espírito Santo e na Palavra, com a Bíblia sendo aberta ao acaso e vivida magicamente.

Em inúmeras igrejas da tradição reformada, belos templos, teologia sistematizada, cultos ordeiros, crentes comuns se sentem incomodados com o imobilismo litúrgico, com o evangelho racional e ausência de experiências místicas.

Um dia alguém ou um grupo com outros interesses se dispõe a algo a mais, e, um processo espiritual e psicológico é disparado. Choques, afastamento disciplinares, uma igreja inteira comentando os últimos acontecimentos que de certa forma evidenciam três possibilidades:

1) reafirmação das leis, estatutos, princípios, confissões, símbolos da igreja e expurgo dos dissidentes. A norma afirma: “os bens e o patrimônio pertencem a parte fiel”.

2) toda a igreja acompanha o movimento e rompe com os concílios, surgindo uma nova comunidade, que as vezes até muda de nome (nova identidade).

3) uma composição entre o novo e o tradicional. Igrejas com discurso público e oficial como sendo teologia liberal e membros querendo maior participação e abertura carismática sendo cercados em seus movimentos pela instituição rígida internamente.

Ensinos dispensacionalistas sobre a volta de Cristo desmobilizando inteiramente igrejas de qualquer responsabilidade social e política. Tudo que não se refira o Israel ou a parousia é secundário.

Diante de tudo isto, afirma que o problema existe, e sempre existirá, porque os interesses são difusos.

Soli Deo Glória


BIBLIOGRAFIA

Comblin, José - ANTROPOLOGIA CRISTÃ, tomo I, série III, A Libertação na história, Petrópolis, RJ, VOZES, 1985, PP 25.

Figueiredo, Onézio - A IGREJA LOCAL, 2ª edição, Secretaria de Imprensa e Literatura do Presbitério de Casa Verde, São Paulo, 1992, pg. 16.

Notas
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[1]Comblin, José - ANTROPOLOGIA CRISTÃ, tomo I, série III, A Libertação na história, Petrópolis, RJ, VOZES, 1985, PP 25.


[2] Figueiredo, Onézio - A IGREJA LOCAL, 2ª edição, Secretaria de Imprensa e Literatura do Presbitério de Casa Verde, São Paulo, 1992, pg


*Rev. Ashbell Simonton Rédua – Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbitério do Norte (Recife-PE), em 1989, Bacharel em Teologia com Especialização em Capelania, pelo Seminário Teológico Evangélico do Nordeste (Recife-PE), 1990, Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo (2006), Especialização em Bíblia pelo Centro de Pos-Graduação Andrew Jumper, Graduando em Direito pela Centro Universitário Plínio Leite, e Especializando em Direito Ambiental pela Universidade Gama Filho Currículo completo http://lattes.cnpq.br/9018318255138280
Autor: Ashbell Simonton Rédua


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