Proposta suja



Naquela cozinha, dezenas de cristãos praticantes, todos voluntários e alguns bastante abnegados, prepararam e serviram delicioso almoço à comunidade. Todos cultuam o Deus criador da natureza mas a sacaneiam colocando no mesmo saco o lixo orgânico com copos plásticos, papelões, latas, vidros, etc. Nas escadas escondidas pelas portas corta-fogo, nos intervalos entre as aulas, acadêmicos que se preparam para bem administrar suas empresas ou as dos outros, ouvindo de seus mestres o quão importante são limpeza, ordem, bom uso e conservação do ambiente de trabalho e do meio ambiente, após fumarem, jogam as bitucas no chão. Na recepção da agência, a candidata que horas antes dissera ao telefone ser engajada na causa ecológica, não precisou mais que dois minutos para jogar no chão o papel que envolvia a bala, menos de um metro ao lado da lixeira.

Os Estados Unidos são os maiores gastões e poluidores mundiais. Na Europa se desperdiça e polui menos, consciência gerada às custas das privações resultantes das grandes guerras mundiais. No Japão, menos jovens herdam o rigor com que seus pais e avós transformaram numa potência mundial o país destruído na década de quarenta; muitos preferem viver o "sonho americano", o consumismo sem limites, que não costuma harmonizar com preservação do meio ambiente. Na África e Américas, escova de dentes, papel higiênico, água tratada e esgoto ainda surgiriam à multidões como novidade. Cientistas dizem que descendemos do macaco e me pergunto se não seria do porco: uns, pela educação ainda não recebida e outros pela negação a ela em prol da pequenez de solidariedade e grandeza de ganância.

Tal qual a empresa que se rotula engajada na preservação do meio ambiente, mas, apenas, viu nisso mais um meio para lucrar (idem, na ponta de baixo, os catadores de papel), milhões de candidatos simulam ser, no currículo e discursos, higiênicos, disciplinados e éticos. As empresas lucram e levam fama de ecologicamente corretas mas nem todos os candidatos têm a mesma sorte. Quem só usa água racionalmente porque é tempo de seca, sua civilidade só não é mais pífia do que a daqueles que não se importam nunca e ainda dizem que "eu pago, uso quanto quiser!" ou "é público, vamos aproveitar!". A única maneira de provar que se é civilizado é... sê-lo verdadeiramente! Não é uma ciência exata e a eficiência será permeada de erros, entretanto, os melhores relacionamentos e resultados virão somente das pessoas suficientemente caretas (?) para, por exemplo, separar lixo reciclável do orgânico com a mesma intensidade com que se saboreia a mais requintada iguaria. - Ah, José Carlos: você deve tá brincando, né? Não, não estou. Quem é capaz de se educar a ponto de prazerosamente jamais jogar um reles papel de bala no chão, mesmo que ninguém esteja vendo; ou, separar o lixo, mesmo que alguém veja, faça graça e até implique, tem maior probabilidade de justificar seu currículo e discurso, quando afirmar ser disciplinado, higiênico, ético e capaz de utilizar e preservar o patrimônio do seu eventual futuro patrão. Conhece algum patrão que valha a pena e não queira empregado assim?

Por isso, serão mais cristãos quando separarem o lixo; melhores gestores de empresas se pararem de fumar ou de fazê-lo escondido e jogando bitucas no chão; e candidatos a emprego realmente dignos dos dizeres de seus currículos, se capazes de não poluir o chão das ruas e recepções de agências e empresas. E, por serem minoria, tornar-se-ão favoritos às boas oportunidades - também por isso, sempre digo: a concorrência real é bem menor!
Autor: José Carlos de Oliveira


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