Sicko



Sicko é o mais novo documentário de Michael Moore, polêmico e extrovertido, Moore desta vez critica com o rigor necessário, o sistema de saúde dos Estados Unidos, mostrando para o mundo as mazelas decorrentes deste, e como empresários favorecidos por políticos, criaram necessidades que obrigaram cidadãos norte-americanos a pagarem planos de saúde particular. E finaliza, dando conhecimento de como procedem à França, Inglaterra, Canadá e Cuba, que contam com serviços gratuitos, e pergunta: Por que não podemos fazer o mesmo?

O documentário inicia-se com um pronunciamento do Presidente Bush afirmando que "os médicos deste país estão ficando sem trabalho...", para fazer crer que a saúde do cidadão norte americano vai tão bem, que os médicos estão ociosos. Logo depois, Moore nos dá conta de que 50 milhões de pessoas que moram nos EUA não tem acesso a qualquer sistema de saúde e muitos estão morrendo sem assistência médica e sem condições para adquirir remédios, vendidos a preços exorbitantes.

Para exemplificar esta situação, mostra o Sr. Adam, costurando a própria perna, o Sr. Rick, que perdeu as pontas dos dois dedos, mas só conseguiu pagar para implantar uma delas e a outra parte foi descartada, para que fique bem claro qual o valor que é dado à vida de um cidadão norte-americano, cujas partes do corpo são tabeladas, quando se torna necessário um procedimento médico.

O casal Larry e Donna, tinha uma vida "normal", para os que vivem o "sonho Americano", hoje, em torno de 250 milhões de pessoas, mas Larry teve três infartos e Donna foi acometida com um câncer, ambos necessitavam de tratamento e remédios caros, então o seguro saúde os abandonou. Pasmos com a nova situação, foram parar na casa de uma filha. O sistema os legou à própria sorte.

Mais casos sucede-se no documentário, um velhinho de 79 anos, ainda trabalhando duro, num trabalho insalubre, para garantir a compra dos medicamentos que ele e a sua esposa precisam para sobreviverem. Depois, uma vítima de acidente que tinha uma conta alta para pagar, da ambulância que a levou para o hospital para ser atendida! Será que a deixariam na rua se pudesse declarar que não tinha condições para pagar?

Nos Estados Unidos pessoas com baixa estatura são rejeitadas como novos beneficiários dos planos de saúde, e o pior, as vidas dos cidadãos são vasculhadas nos cinco anos que antecedema solicitação de inclusão neste sistema, se tiver sido acometido por alguma doença grave, mesmo estando curado, pode ser-lhesnegada a assistência privada.

Vamos buscar na história como tudo isso começou. Aquele mesmo cidadão, que promoveu um dos maiores escândalos dos EUA, o Watergate, o Senhor Richard Nixon, ex-presidente americano, foi quem levou o sistema de saúde americano ao caos mais absoluto, para dar lugar à assistência particular. Quando a Hilary Clinton, então Primeira Dama, propôs um sistema gratuito, a indústria da saúde alardeou para todo país que se tratava de um meio para levar o país a adotar uma prática socialista que restringiria liberdades, então foram gastos em torno de cem milhões de dólares, para "incentivar"congressistas" a "conscientizarem" o povo que não era disso que eles precisavam e que estavam correndo perigo ao aderir a "coisas" de países socialistas!

Então Moore, vai aos países democratas para mostrar que o problema é outro, que se trata de um completo desrespeito aos direitos humanos por parte de todo Congresso Americano, do seu Presidente, e dos que ainda pensam viver o tão famoso "sonho americano" e que pouco se importam se alguém está morrendo sem assistência médica no seu país, ou mesmo ao lado da sua casa.

Vai à França, mostrar o sistema de saúde universal – gratuito, e de qualidade: vai à Inglaterra, e o que se vê são hospitais de qualidade, funcionando, médicos satisfeitos com seus salários e vivendo confortavelmente, e cidadãos que sequer entendem o porquê dos EUA não oferecer o mesmo, sorriem quando perguntados sobre a conta, depois de terem sido atendidos. No Canadá, do mesmo jeito. Cidadãos americanos atravessam a fronteira para terem atendimento digno.

Por último, ele leva alguns heróis do 11 de setembro, acometidos de doenças graves, seqüelas daqueles dias horríveis, e que foram desprezados pelos EUA quando lhes negaram tratamento gratuito, para Cuba, a pequena Cuba, que com tão poucos recursos, prioriza a educação e a saúde, num paradoxo sem precedentes, porque Cuba nem é uma democracia! (?)

O mais interessante é que são tratados como seres humanos que são, percebe-se o respeito à dignidade da pessoa, aos seus atos, a sua história de vida: São heróis! Foram homenageados e tratados com decência, tudo que lhes fora negado no seu país, inclusive tratamento médico, diagnóstico correto, remédios e um planejamento.

Na França, o povo declara que o governo os teme, os descendentes dos revolucionários franceses são destemidos, não abrem mão dos seus direitos sociais. Será que é isso que falta para os desassistidos americanos? Mostrar ao mundo a sua cara? Ou será preciso várias gerações de "Michael Moores", corajosos e intrépidos, para alardear tantas mazelas? E os organismos internacionais, (ONU, OEA, OMS), terão coragem um dia para enfrentar o poderio das classes dominantes dos EUA e mostrarem suas falhas?

Não só as falhas no sistema de saúde dos Estados Unidos, que como uma potência econômica mundial deveria ser referência no que concerne ao respeito aos direitos sociais, ao direito à saúde em específico, mas também com relação ao mundo para que cumpram suas legislações e que não sirvam tão somente para "enfeitar" suas constituições.

Será que um dia estas grandes potências vão reunir-se para ajudar a África, num esforço conjunto e efetivo para combater a epidemia de AIDS que tem ceifado tantas vidas? Muito difícil ocorrer tal fato, se não cuidam da sua "própria casa", dos "seus filhos", não honram suas próprias leis.

Ou a Índia vai compor um sistema justo de distribuição de renda e vai cuidar do seu povo de castas ditas "inferiores", de aspecto feio e desdentado, resultado do descaso na saúde?

No Brasil, as crianças indígenas vão continuar morrendo de diarréia? E no Norte do país vão investir mais para combater de forma eficaz a malária?

O mundo padece, não por falta de uma legislação adequada, se assim fosse, no Brasil não seria necessário ninguém ter plano particular de saúde. No resto do mundo, independente das suas constituições, a Declaração dos Direitos Humanos, assinada por tantos países, já seria a referência legal para o respeito ao direito àsaúde.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 25°

Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

Constituição da República Federativa do Brasil

Artigo 196

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Quando estes direitos serão respeitados pelos Estados Unidos da América, pelo Brasil e por todos os países do mundo?

A conclusão que chegamos até bem pouco tempo não nos parecia óbvia. Mas entendemos agora, que não basta ser uma democracia para que se espere que os princípios universais sejam contemplados, que os direitos humanos sejam respeitados, é preciso que haja algo mais importante. É preciso um comprometimento de toda uma sociedade, e mais que isso: é preciso vontade política para mudar.

Rosany Mary Souza

SICKO, documentário, país EUA, distribuidora: Lusomundo, realização: Michael Moore, interprétes: Michael Moore,George Bush e Reggie Cervantes, ano: 2007.


Autor: Rosany Mary Souza


Artigos Relacionados


Direito Ambiental - Meio Ambiente

Blindness

Soneto Ii

Resumo Histórico Sobre Os Médicos Sem Fronteiras

Eu Jamais Entenderei

Locação De Imóveis E O Direito Constitucional

Estabilidade Do Servidor Público