Excelência é pouco



Dia desses, um ano após ter sido tirado do ar, matei a saudade de falar numa emissora de rádio. Duas previsibilidades: uma, pratiquei o misto de sensatez e estupidez ao não especular como tentar uma oportunidade de fazer um programa passível de gerar audiência, com utilidade real para o ouvinte; outra, pessoas telefonaram fazendo perguntas e comentários procedentes, justificáveis, mas, de tão parciais ou superados, prejudiciais, dado mostrarem que pautam e estorvam o pensar e agir dos questionadores.

Além do meu site, informativo impresso, apostilas e palestras, divulgo idéias e ações noutros sites, informativos ou jornais, convidado, após ter escritos, falas e serviços avaliados favoravelmente. Geralmente, encontro elogios e concordância; inúmeras vezes tive idéias, textos e ações pirateadas. Entretanto, a adesão concreta é menor; bem menor. A mais triste das reticências é a oriunda dos que mais poderiam se beneficiar das dicas: desempregados, estudantes e empregados insatisfeitos, com até ensino médio ou graduados com pouca experiência. Fora da 'grande' mídia e sem fama, gente como eu, em geral, tem credibilidade perante alguns dentre os que menos precisam da ajuda oferecida; e nem popularidade consegue entre a maioria dos que mais poderiam valer-se dela.

Falo da multidão que, embora honesta, precisando e querendo trabalhar (há os que nem isso querem), tem qualificações consideráveis mas atrapalhadas por equívocos embutidos no seu pensar e agir. Equívocos pequenos, tolos, fáceis de eliminar, fatais enquanto prevaleçam, entendidos como acertos pelos seus praticantes.

Sete indagações. A franqueza e coerência das respostas o situará em uma das duas multidões acima aludidas; numa delas, estão aqueles ouvintes, aos quais respondi com solicitude, não tendo sido mais sincero para não suscitar polêmica desnecessária, na hora e lugar errados.

1. Qualificação e adequação são sinônimos?

2. Você crê bastar se dizer e achar qualificado para algum selecionador ou empregador acreditar nisso?

3. Nos jornais, editais, telefonemas e recepções, mais se interessa por relações de vagas, e, não satisfeitas suas vontades, toda vez que ouve um não, fica revoltado, na certeza de que foi vítima de injustiça ou imperícia alheia?

4. Diz, no currículo e entrevistas, que tem iniciativa, ótimo relacionamento interpessoal e é honesto?

5. Fica inconformado quando não é entrevistado de pronto, na sua hora e do seu jeito?

6. Acredita que aqueles cursos que concluiu deveriam garantir seu emprego ou promoção?

7. Tem preguiça e arranja desculpas para não comparecer à agências, empresas e entrevistas nos dias frios, chuvosos, sextas-feiras, entre um feriado e o final de semana?

Sete, nos tempos de Cristo, significava infinitamente...

Excelência é pouco. O mundo está repleto de medíocres no todo e com um única habilidade, que ficaram famosos, ricos ou donos de considerável saldo na conta bancária. Contestar-lhes o êxito? Como? Tiveram seu mérito. Excelência é fundamental, tanto quanto o é a sorte; e perseverança para prosseguir ou recomeçar, na falta dela. E mais sorte tende a ter tem que se prepara e empenha mais.

Sou um radialista frustrado, quase sempre fora do ar? Pode ser. Quem realmente me conhece se espanta: "Como é possível tanta gente fraca ao microfone e você de fora?" Digo que há vários excelentes radialistas; que pela ótica do diretor ou dono da emissora não fui ou deixei de ser adequado, por mais qualificado que supostamente seja; e que meu maior erro é esperar um convite, não ir atrás, não me divulgar, sem ser chato mas sendo persistente e coerente. Num meio cuja viabilidade financeira é difícil e no qual a vaidade extrapola, só fiz garantir distância do microfone.

Ora, bolas, acontece que mesmo sem aderir à politicagem partidária/religiosa/financeira, posso corrigir-me. De antemão, nem sei se alcançaria o propósito, como, até quando e sob que intensidade. Importa saber que posso (re)começar; e que meta mãos à obra.

Então, você também pode. Às sete indagações feitas, quanto mais respondeu 'não', maior a possibilidade de que esteja rindo da singeleza e inutilidade deste texto. Por outro lado, quanto maior a incidência do 'sim', mais clarificado está que, no limiar da pós modernidade, você, talvez, ainda queira vencer com conceitos e atos típicos de anos ou décadas atrás. Pode ser que consiga mas é improvável: ache o texto singelo mas não cometa a imprudência de achá-lo inútil.
Autor: José Carlos de Oliveira


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