INFÂNCIA



INFÂNCIA

Por Sonia das Graças Oliveira Silva


Quando se fala em educação infantil, obrigatoriamente pensa-se em infância. Época de muitos momentos que passam, uns bons, outros ruins; alguns muito marcantes, talvez por terem causado algum trauma e tem também aqueles momentos que foram totalmente esquecidos, perdidos na memória. Muitos fatos destes esquecidos referem-se a coisas negativas que aconteceram na escola e que fizeram as crianças esquecerem parte de seu aprendizado. Mas muitas coisas boas da infância na escola são sempre lembradas, por mais que passe o tempo. Geralmente os amigos, a hora gostosa do recreio, as brincadeiras, as cantigas, aquela professora carinhosa...
Para que a infância fosse um tempo de eternas e maravilhosas lembranças, principalmente da escola, esta deveria ser encarada como um lugar onde a aprendizagem e as respostas a questões aconteceriam para que o homem crescesse e modificasse o mundo para o prazer, tudo fazendo para alcançar a felicidade. No entanto, não é o que acontece na maioria das vezes. As crianças vão à escola por imposição dos pais, da sociedade, porque têm que se tornar alguém, ganhar muito dinheiro. Tem também os que vão à escola porque lá podem se alimentar. Raramente vão à escola pelo motivo mais importante: o de crescerem como indivíduos.
Sabe-se que a infância é algo em permanente construção. A concepção que nossos pais tinham quando éramos crianças é muito diferente da concepção que nós, hoje, temos de nossos filhos. Há que se considerar também que a infância rural é muito diferente da infância urbana. No mundo rural, sítios ou fazendas, longe das cidades, o tempo da infância é muito curto, a criança entra rapidamente para o mundo do adulto, pois começa a trabalhar cedo. Logo que a criança começa a entender mais, já pode ir ajudando seus pais. Leva alguma ferramenta para a roça, leva o almoço para o pai ou para os irmãos mais velhos, toma conta do irmão caçula, etc. Acontece exatamente o contrário na cidade. O tempo da infância se prolonga, visto que os pais não levam as crianças para o trabalho. Deixam-nas em escolas ou creches. O trabalho dos pais fica cada vez mais distante do ambiente da família. E, quando ainda sobra um pouco do tempo das crianças, mas não podem ficar sozinhas em casa, na maioria das vezes, os pais, de melhor poder aquisitivo, as colocam em aulas especiais como balé, música, violão, línguas estrangeiras e outras coisas. A criança passa a ter uma vida como de um “executivo”, têm todo o tempo ocupado.
Quantas crianças de hoje, não sabem o que é jogar bolinhas de gude, bolinhas nas tocas, passar anel, jogar betis, pular corda, etc. elas sabem muito é de computador, televisão, vídeo games, filmes, desenhos animados, e outros.
Aí entra a pré-escolaridade das crianças. Essa concepção de submeter às crianças o mais cedo possível à escola, está dominando a sociedade. Muitas crianças não estão vivendo a infância em função de uma pré-escolarização precoce.
Muitas escolas trabalham pensando em preparar as crianças para o futuro, alfabetiza-las muito cedo, visando ser alguém melhor. Aí está o problema, não podemos aceitar uma escola para um dia ser, queremos uma escola onde, na infância, a cidadania já seja uma realidade. Pensando em um dia ser, não deixamos nossas crianças serem no presente. Não vamos preparar a criança para ser cidadã, ela já é cidadã.
As crianças têm direito de vivenciar a sua infância e não deixa-la passar rapidamente sem as cantigas de roda, sem os jogos e brincadeiras, sem as histórias de fadas, príncipes e bruxas. É preciso lembrar também que a globalização trouxe mudanças à identidade da infância. Essa identidade é hoje resultante de vários processos políticos, econômicos, culturais e sociais.
Durante anos a escola foi responsável em construir a identidade da infância e hoje essa escola tem diante de si uma infância oriunda de camadas sociais heterogêneas, onde imperam a indisciplina, o medo, a violência, a criminalidade... Muitos pais saem de casa deixando a criança, quer sejam de camadas mais favorecidas, quer sejam de camadas menos favorecidas, distantes do espaço doméstico, gerando assim, novas desigualdades.
A partir daí, torna-se mais forte a necessidade de aperfeiçoamento constante, permanente, dos profissionais da educação infantil. Para que se possam enfrentar os desafios dessa sociedade globalizada, não podemos abrir mão de valores de solidariedade e construção coletiva. É preciso lutar contra os erros e a exclusão, com intuito de juntos construirmos um novo futuro. Há necessidade de se vencer a distância entre a realidade da escola e o contexto social.
Para valorizar os conhecimentos que as crianças possuem e garantir a aquisição de novos conhecimentos, é necessário que o profissional reconheça as características da infância. É preciso salientar a dimensão cultural da vida das crianças e adultos, de maneira que as crianças aprendam com a história vivida pelos mais velhos e estes vejam a criança como sujeito histórico, social e cultural.
Uma boa proposta de educação é uma escola que permita vivências de todas as dimensões da pessoa no presente, uma escola onde, na infância, a cidadania já seja uma realidade. Que a escola infantil dê condições materiais, pedagógicas, culturais, sociais, humanas, alimentares; onde a criança seja sujeito de direitos e experimente esses direitos. Para que a escola seja possível é necessário que não nos preocupemos apenas com as habilidades e conhecimentos que a criança irá adquirir com os conteúdos preparando-a para a fase adulta, mas com a vivência da criança, no hoje, no agora.


A grande preocupação de quem educa deve ser o aluno, não a disciplina. E ele deve estar atento não às palavras, mas ao movimento do pensamento da criança. (Rubem Alves)



*Sonia das Graças Oliveira Silva, graduada em Ciências na Unifeg, Universidade da Fundação Educacional de Guaxupé, e Pós-graduada em “Educação Infantil”, pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Também Pós-graduada pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora em “Mídia e Deficiência”.
Autor: SONIA DAS GRAÇAS OLIVEIRA SILVA


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