Professora “tia”: um ato falho na escola
As professoras e professores em geral não têm nenhuma relação de parentesco com seus alunos, pois a sua tarefa na sala de aula é o ensino-aprendizagem. Professora não é parente de aluno, ainda que, em certas situações, o seja por consangüinidade. Dizer que acha importante este singelo nome como forma de aproximação com o aluno é uma mera ilusão. A aproximação entre professor e aluno é conquistada por meio do diálogo na sala de aula, do respeito um com o outro, do chamar pelo nome. Esse negócio de “tia” tem muito a ver com essa psicologia barata de ratos de laboratório que nada entende de Educação e vive se intrometendo na vida da escola. Não me refiro aqui aos psicólogos que atendem em seus consultórios e muito menos àqueles que trabalham como psicopedagogos nas escolas. Refiro-me, isto sim, aos teóricos que geralmente nunca pisaram em uma sala de aula e acreditam que entendem e palpitam sobre o relacionamento entre professores e alunos.
Para Paulo Freire (1997), identificar professora com tia “foi e vem sendo ainda enfatizado, sobretudo na rede privada em todo o país, quase como proclamar que professoras, como boas tias, não devem brigar, não devem rebelar-se, não devem fazer greve”. Para completar, muitos pais possuem a mentalidade de que a escola é a responsável pela formação de seus filhos. É o velho ditado: “Sou eu quem paga o seu salário”. Segunda uma professora, respondendo a entrevista de uma pesquisa, “o aluno não é cliente, ele é a essência da escola, é humano e tem cidadania”.
Segundo o educador francês Bernard Charlot (2003), “no Brasil, o saber deve ter efeitos emocionais para ter valor. O lado afetivo do saber é muito valorizado, por isso algumas professoras têm grande dificuldade em deixar de ser "tias". Na França, a escola é mais uma instituição. Lá a professora não é "tia". A escola realmente é uma instituição, e deveria ser encarada como tal em nosso país. Caso contrário, se os pais repassarem à escola a responsabilidade de educar seus filhos, substituindo sua tarefa diária em casa, os professores deixam de ser professores, conforme o desabafo de uma professora da rede estadual paulista, falando sobre o papel dos professores: “Não são formadores de opinião. São babás” (Revista Educação, 2007: 54).
Professora “tia” é, portanto, um ato falho na escola. Nossos profissionais da Educação necessitam se posicionarem mais firmemente e se valorizarem diante dos governantes, da sociedade, dos alunos e até diante de si mesmos. Desde que sejam realmente professores.
Referências Bibliográficas:
CHARLOT, Bernard. “Saber + prazer + tensão = escola”. São Paulo: Revista EducaRede, 2003. Disponível em: < http://www.educarede.org.br/educa/revista_educarede/especiais.cfm?id_especial=37>. Acesso em: 14 jun 2007.
REVISTA EDUCAÇÃO. “Carta além dos muros”. São Paulo: Editora Segmento, 2007, nº 122.
FREIRE, Paulo. “Professora sim, tia não”. São Paulo: Olho d’Água, 1997.
SILVA, Messias Antônio da. “A ESCOLA SAGARANA: uma ruptura com a concepção da Qualidade Total, anteriormente implantada na Escola Estadual Padre Eustáquio?” Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do Título de MESTRE EM EDUCAÇÃO à Comissão Julgadora do MESTRADO EM EDUCAÇÃO, da PUC-Minas. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2002.
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Autor: Prof. Maurício Apolinário
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