O BRASIL DAS MEDALHAS (Jogos Pan-americanos)



Desde os primórdios da evolução social, a política do Pão e Circo tem surtido efeito nas mais variadas sociedades. No Brasil, a idealização do imperador romano ganhou uma nova ramificação, talvez inspirada pelos pensadores pós-modernos; ou então porque a outra parte que complementa essa alegria outorgada não possa ser distribuída entre a população. Não há pão, mas há circo. Uma apresentação circense com as mais variadas estrelas nacionais e americanas. Um palco de três bilhões de reais foi erguido em meio ao caos gerado pela violência. E no alto do corcovado está o cristo, de braços abertos, acolhendo todas as nações pan-americanas em seu peito.
Partindo do pressuposto de que a miséria é o laboratório da esperança, e que a competição é de caráter elitista, a televisão se aproveita dos desígnios dos jogos para lucrar com as transmissões ao vivo e boletins diários. É engraçado o poder da mídia na vida cotidiana, pois - por constatação própria - ninguém mais fala do acidente da TAM, e muito menos dos assuntos costumeiros sobre balas perdidas e seqüestros. Ta todo mundo hipnotizado e com a idéia fixa de obter medalhas e assumir o segundo lugar que atualmente é ocupado por Cuba. O que ninguém percebe é que a ilha governada por Fidel é referência mundial em educação e saúde, por isso acredito que seria mais válido torcer para que o Brasil percorresse as veredas do crescimento e ao menos se equiparasse a eles nestes termos. Enquanto os norte-americanos “roubam” nossas medalhas, seu país cada vez mais se inclina para o progresso.
Onde estão as favelas, cartão-postal do Rio de Janeiro? O estado, desde sua estimativa, execução e conclusão dos jogos, vem a todo custo empurrando a sujeira pra debaixo do tapete. O mais curioso é o número de voluntários que se ofereceram para ajudar na realização dos jogos, ao todo quinze mil (oito mil a mais que na edição anterior, realizada em Santo Domingo, República Dominicana). Resta a pergunta: porque não assumir então uma responsabilidade social - enquanto componentes de uma sociedade que vem ruindo aos poucos – e, a partir disso, se interar acerca dos problemas da nação e fazer reparos (por menores que sejam) nos ambientes em que são atuantes? Poucos seriam os que se destinariam para isso. Aí reside a diferença entre o certo e o divertido. É melhor participar do circo, do carnaval, e esquecer os problemas que pululam num universo paralelo ao qual você vive.
Investiu-se tanto no processo de massificação dos jogos para que, após o dia 29, voltemos a acordar todas as manhãs pensando se voltaremos pra casa, vivos ou não.
Três bilhões de reais, dinheiro este advindo dos cofres públicos, que poderiam muito bem ser direcionados para as mazelas que enfraquecem o Brasil.
Paradoxalmente, não fomos ouro em nenhuma categoria de tiro esportivo. Os exemplos da guerra urbana entre policiais cariocas e traficantes não surtiram efeito. Continuamos muito aquém das nações mais poderosas, envoltos de paradigmas que se perpetuam ano após ano, e ainda assim não conseguimos nos destacar na categoria que melhor ilustra nossa realidade (embora ela não seja esportiva, é claro!).
Resta esperar e torcer pra que tanto investimento traga bons frutos futuramente para o país, seja na geração de empregos, ou até mesmo no aproveitamento das construções. Que o esporte cresça, mas sem esquecer de que - a exemplo de Cuba e Estados Unidos - todo atleta vencedor teve como sustentáculo de sua trajetória vitoriosa a educação. Que sejamos ouro na educação, no esporte e na cidadania.
Autor: F. M. Kalyma


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