20 ANOS DE DENGUE



MAIS DE 20 ANOS DE DENGUE... *Bia Lopes



Os primeiros relatos, ocorridos em 1980 aqui no Brasil, estão citados em meus artigos e matérias de pesquisa. Já nesta época houveram importantes surtos epidêmicos. Recordemos que em 1980 houve inclusive campanha de vacinação em massa contra a Febre Amarela, é o mesmo mosquito vetor, mesmo vírus e sintomas agravados, iguaizinhos aos que o paciente apresenta numa dengue hemorrágica-FHD ou no caso da síndrome de choque por dengue-SCD... (ou qualquer nome que a patologia receba, pois sempre inventam novos nomes), o que prova que antes os casos ficavam ocultos e não divulgados, e ainda hoje a subnotificação persiste!
Casos de dengue explodem em todos os estados brasileiros, sempre com percentuais assustadores e alarmantes. De acordo com o ESTADÃO, (09 de março de 2007 )só nos meses de janeiro e fevereiro o aumento foi de 25,64%, o que nos faz recordar os R$ 772,8 milhões repassados pelo Ministério da Saúde aos Estados e municípios em 2006 para prevenção da doença.
Não basta repassar a verba, precisa fiscalizar a efetiva utilização da mesma e exigir a correta aplicação do fumacê, cobrar onde estão os carros entregues pelo governo para este fim!
A população é refém do descaso, da incompetência de que está a frente do monitoramento das epidemias em nosso País!
Em São Paulo (Ilha Solteira) por exemplo, o número de doentes “saltou” de 251 para 1.218 em apenas 06 dias! Em Birigui, o número de casos era de 239 e aumentos para 521 e há duas mortes suspeitas de terem sido por dengue. 70% dos pacientes que chegam ao hospital local têm sintomas da doença.
Já em Campinas o número de casos dos dois primeiros meses do ano aumentou 733,33% em comparação com 2006.
Em edição do dia 02 de abril o comentário aponta com precisão o que ocorre em nosso País : “Apesar de conviver há mais de duas décadas com a dengue, em grandes epidemias ou surtos menos expressivos, o Brasil apresenta frágil estrutura para lidar com a forma grave da doença. A falha se reflete nos altos índices de mortalidade. Neste ano, até 19 de março, tinham sido notificados 75 casos de dengue hemorrágica, com 10 mortes - taxa de mortalidade de 13,3%. O porcentual está muito acima do preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - 3%. Em 2006, o índice no País foi semelhante: 11% dos pacientes com a forma grave da doença morreram.” Ao longo deste anos não só venho alertando sobre isto, como passei a me dedicar ao estudo do vetor, que é importante conhecer, desde seus hábitos, desenvolvimento e comportamento, como também passei a pesquisar o vírus envolvido na patologia, as ocorrências de epidemias, as seqüências e quase fui exonerada de meu serviço! Afastada fui sim, do setor da DENGUE, e por pouco não perco o emprego! Este é um dos mistérios que envolvem a DENGUE: Parece haver um grupo com interesse na permanência da doença e do vetor...será por interesses financeiros? E por que a OMS (Organização Mundial de Saúde) não “acorda” e age?
"A dengue no Brasil ainda é considerada surpresa. E a morte em conseqüência da infecção, fatalidade. Está errado. A morte é perfeitamente evitável", diz o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e integrante do comitê assessor do Ministério da Saúde para dengue Rivaldo Venâncio da Cunha.
A Organização Pan-Americana de Saúde-OPAS vem alertando sobre a necessidade de uma melhor estrutura para tratar o paciente com dengue. Sim, isto é importante. Mas ainda mais importante é acabar com o vetor! E é fácil, basta querer...Acompanhamos declarações sem fundamento de Ministros da Saúde (que, diga-se de passagem: quando aprendemos o nome do ministro, já foi trocado...), sua declarações sobre o assunto demonstram seu desconhecimento ou o entendimento errado sobre a patologia, sobre o inseto vetor e sobre o vírus envolvido! Vou repetir até a exaustão: o mosquito carrega e transmite o mesmo vírus, seja ele identificado em sorologias, mais precisamente no exame de isolamento viral, como Sorotipo 1, Sorotipo 2, Sorotipo 3 ou Sorotipo 4. A alta virulência está tão presente na 1ª dengue como na 2ª, 3ª ou 4ª! A diferença está nas reações do sistema imunológico, mais ou menos exacerbadas devido a alguns fatores interligados: Se o indivíduo ao ser infectado estiver fazendo uso de medicamentos que contenham o princípio ativo Acido Acetil Salicílico certamente irão sofrer princípios hemorrágicos de maior ou menor gravidade e, no caso de estar sofrendo uma segunda infecção por dengue as reações serão importantes pois o sistema imunitário reagindo contra o antígeno invasor irá encontrar registro de infecção anterior e se voltará contra estas células, destruindo-as.
“Todavia parece bastante coerente o conceito de que uma infecção prévia que induza uma resposta imunológica com anticorpos neutralizantes apenas para um certo sorotipo, mas que um segundo sorotipo seria reconhecido antigenicamente produzindo uma resposta cruzada imunológica e inflamatória mais intensa, mas não neutralizante” cita drª Claire Kubelka, do deptº.de Virologia da FIOCRUZ-RJ. Este parágrafo de drª Claire confirma o que venho afirmando sobre o vírus e as seqüênciais infecções.
MINISTROS, SECRETÁRIOS E COORDENADORES DA SAÚDE PÚBLICA
Não basta assumir a função de ministro, secretário, virar “chefe”, deve mostrar efetivo interesse, buscar o conhecimento correto e executar as ações básicas para eliminar o inseto adulto, abandonadas há muitos anos, durante estes últimos vinte anos, milhares de pessoas foram à obito, outros se recuperaram mas as sequelas são para a vida toda! Grande parte da população brasileira, basta olhar os quadros das epidemias ocorridas, passou a ter sequelas após uma 1ª, 2ª ou 3ª dengue, em função das agressões produzidas pelo vírus no organismo e, também, pelo uso indiscriminado do paracetamol que atinge o fígado e o sistema renal de forma grave, para não citar outros órgãos. (dr.Anthony Wong-CEATOX).
Com relação ao Ministério da Saúde, a OPAS-Organização Pan-Americana de Saúde, a OMS-Organização Mundial de Saúde orgãos fundamentais responsáveis pela saúde da população precisam urgentemente de reavaliar os erros cometidos ao longo destes anos, a urgência é eliminar o inseto adulto! Formulas mágicas inventadas, que envolvem borra de café, plantas repelentes e outras sugestões absurdas publicadas é a mesma situação de colocar soldados para combater na guerra fazendo uso de um “estilingue”!
Assim, dispomos de uma Saúde Pública sucateada, com postos de atendimento superlotados, incapacitada para resolver os problemas de uma população com a saúde fragilizada, médicos exaustos que precisam de atender 10 pessoas no tempo que seria necessário para atender 01 paciente lembrando ainda que, normalmente, o material básico necessário para tal atendimento é escasso ou inexistente...

BEATRIZ ANTONIETA LOPES
BIÓLOGA com especialização em ENTOMOLOGIA MÉDICA
2007/07
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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