Prêmio para Professores: uma incógnita



O prêmio é uma forma de mobilizar energias criativas estagnadas. Entretanto, premiar financeiramente aqueles professores que faltarem pouco ao trabalho e melhorarem o ensino-aprendizagem de seus alunos pode ser apenas um paliativo superficial, haja vista que recompensas financeiras têm um poder muito limitado para obter melhoria da qualidade da Educação. Toda premiação é sempre bem vinda para qualquer profissional; porém, no caso dos educadores, é necessária uma observação cuidadosa de como eles serão avaliados.

Premiações sem um salário digno e melhores condições de trabalho, uma carga horária menor que dê condições ao professor de se preparar para as aulas, de se beneficiar de uma boa formação continuada, que lhe dê uma oportunidade concreta de se aperfeiçoar na carreira. A culpa pelo caos em que se encontra a Educação em nosso país passa também pelos professores, uma classe desunida, mas não se pode atribuir somente a eles a responsabilidade pela descontinuidade administrativa, pela péssima administração que ocupa altos cargos no Ministério da Educação e nas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Olhando pelo lado do atacado e não do varejo, é um risco afirmar que haja qualquer relação entre a entrega de prêmios para os professores e a melhoria da Educação.

Se fizermos uma pesquisa, veremos que a maioria dos professores gostaria mesmo é de uma estrutura material e humana melhor, de um salário digno, de uma carga horária reduzida, e não de premiações por bom desempenho. Veremos também que os professores das escolas públicas precisam, antes de tudo, de serem valorizados, respeitados como profissionais, sem salas de aula lotadas, não trabalhar sob pressão, mas com segurança e sem ser preciso se preocupar com a violência social que atinge a escola e a sala de aula devido à falta de valores e à desestruturação familiar, sem ameaças nem da parte dos alunos nem da parte administrativa. Para muitos, talvez, esse tipo de premiação seria como “andar de pires na mão”. Para outros, essa atitude visaria apenas maquiar e não mudar o que realmente necessita ser modificado. E ainda, para outros tantos, seria uma idéia ridícula, típica de Secretários de Educação sem compromisso efetivo com a Educação, uma vez que a profissão de professor não é uma modalidade de esporte olímpico, e não leciona para disputar medalhas. Para uma minoria, talvez, mais preocupada com o emprego e com o salário no final do mês do que com a sua profissão em si e com a Educação, uma das formas de reconhecimento profissional. O melhor, para alguns, seria se a premiação fosse destinada ao conjunto da escola e não aos professores individualmente. Por fim, uma esmola de administradores incompetentes.

A Educação, como não é um produto, e sim um processo, não deve ter seus profissionais tratados como funcionários de empresas, que premiam por bom desempenho. A Educação deve ser agregada à sociedade como um valor, uma prioridade, e não como motivo de premiações. Os problemas da Educação não se resolvem com prêmios. O resgate da imagem da Educação brasileira e o valor dos professores precisam ser levados em consideração. Corre-se o risco de, com uma medida como essa, manter o professor à deriva, desmotivado, abandonado, desiludido e solitário na sua árdua função. O estado em que se encontra a Educação brasileira deve-se a uma série de variáveis que, por mais que os nossos professores que desempenham o magistério por vocação, e não por falta de opção, se esforcem, contribui e muito para o insucesso da prática escolar.

*Prof. Maurício Apolinário
é autor do livro “A arte da guerra para professores”
www.mauricioapolinario.recantodasletras.com.br
Autor: Prof. Maurício Apolinário


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