Botox, Peixe e Neve Rosa?
A solução está na busca de um profissional que tenha como expertise, a paralisação do soluço, o estancamento das lágrimas e o retorno do sorriso, assentado no lucro.
Rosa, estava perdendo muitos negócios em sua loja de acessórios para automóveis. Curvando-se às dicas de uma amiga, tentou solucionar o problema, optando por fazer aplicações de Botox, em seu bonito, mas envelhecido rosto. Com um visual mais jovem, talvez imprimisse à sua imagem, um vigor que ajudasse na manutenção dos clientes atuais e na conquista de novos.
O atendimento mal-humorado, piorou ainda mais a situação, depois que desamassou a face. Agora com aparência de loba, revestiu-se de insuportável soberba, disparando projéteis de arrogância sobre os clientes, evadindo metade deles.
Enquanto cortava meu cabelo, Kênia, discordou de mim, quando de brincadeira disse:
-- Se eu fosse uma mulher, antes de casar, conversaria com a futura sogra, sobre os hábitos alimentares do pretendido esposo para tentar cozinhar igual à sua mãe, com perspectiva de ultrapassá-la. – e prossegui:
-- Garanto que a própria mesa, me daria uma dianteira de 10 pontos percentuais de vantagem para usar quando surgisse algum eventual problema doméstico. Antes de qualquer indício de briga, o crédito camaradagem, jogaria por terra uma incompreensão.- -- falei triunfante!
-- Gil, cuidado com as regras, elas às vezes falham. Eu sou essa mulher que você imaginou. Sempre cozinhei muito bem. Para atender meu amor, descobri tudo o que ele gostava. Durante 18 anos nos amamos, ardentemente. A felicidade da manhã só perdia para a da tarde, porque esta última, sem que notássemos fundia-se com a noite, esperando novas manhãs, ainda melhores. Nossos dias passavam docemente. A gente era como um casal de foca deitando e rolando em neve rosa, de tão grande que era a paz..Eu era feliz e sabia!
-- Qualquer comida que eu fazia, meu marido achava um espetáculo. Ele falava pra todo o mundo que tinha a melhor “personal cook” (cozinheira particular). Poderia até montar um restaurante.
Kênia gostava demais de peixe e seu marido odiava. Duas vezes por mês, sua irmã a visitava, aproveitando a oportunidade para fritar badejo e as duas saborearem juntas. Depois de se divertirem muito, riam de nada e com a conversa posta em dia, aguardavam a ansiosa próxima vez. Quando o esposo chegava, o cheiro da comida servia de motivação para um turbulento arranca-escama entre o casal.
Passando na Neve Rosa, loja de acessório para carro, notou que a “monstra de cara lisa” estava linda, risonha simpática e agradável. Sentiu até vontade de cumprimentá-la. Deu tratos à bola, por ver sua vizinha tão inesperadamente feliz. O segredo logo foi exposto: seu esposo se deixou fascinar pelo Botox da peçonhenta, transformando-se em seu Belo da Tarde.
Decidiu separar-se de Felipe, quando um dia tocou a campainha da Peçonhenta e viu seu marido cozinhando peixe para a amante. Como era cínico! Detestava animal aquático, brigava e até xingava só de sentir o cheiro e agora o preparava "descaradamente" para uma bruxa de fuça esticada.
A Neve Rosa, vive cheia de clientes, não só por causa do Botox. Ele sozinho não resolve nada. A boa vontade, o prazer com que atende, atrai cada vez mais compradores. Rosa aprendeu com o consultor Aquipo, a sorrir, ser gentil com as pessoas e interessar-se por elas. O bem elaborado e executado, Plano de Negócios, lançou luz sobre a empresa, alcançando resultados surpreendentes. Agora a loja ta "bombando".
Enquanto pagava o corte de cabelo, um homem aparentando seus 45 anos, entrava no salão e, com voz de Wília Boina, do Jornal Racional, perguntava:
-- dona Kênia está?
O dinheiro caiu das mãos da Kênia. Seu marido estava de volta.
-- Será que largou a Peçonhenta? – pensei.
Mês seguinte fui cortar o cabelo e lá estava Kênia. Cantando Neve Rosa, o último sucesso de “Arrozão e Feijãozinho”. Para evitar constrangimento, evitei perguntar pelo marido. E ela agradecendo a discrição começou:
-- Gilberto. Apaga tudo o que eu te contei. A pessoa que eu vi com a Rosa é Aquipo, um grande consultor de marketing, parecidíssimo com o meu marido. Eles se casam amanhã.
Entrei na rua Paissandú, Flamengo, Rio de Janeiro. Ainda levemente chocado, parei para observar um casarão. O ipê-rosa, sorria com o afago do vento. Os galhos sentindo cócegas permitiam que suas flores abraçassem a brisa e suavemente voassem juntas. Agradecida, a árvore olhava para baixo. Sem perceber, havia liberado material para tecer o mais bonito dos tapetes que já vi.
Todo o chão estava coberto de flores. Vestido por elas e indiferente ao cenário, uma cachorra rottweiler, "deitadinha", assistia a tudo, parecendo uma gorda foca na neve rosa.
Com os olhos umedecidos, comecei a escrever essa história. Se alcançar êxito, cortarei o cabelo com mais freqüência. Quem sabe a Kênia poderá me suprir com outras? Alguém já ouviu falar ao mesmo tempo de:
Botox, Peixe e Neve Rosa?
Autor: Gilberto Landim
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