Prudência, canja de galinha e a crise financeira



Segundo Larry Kahaner, Inteligência Competitiva é um programa sistemático e ético de coletar e analisar informações sobre as atividades dos concorrentes e as tendências gerais de negócios para atingir os objetivos corporativos de uma empresa.

E olhar tendências para os negócios, passa não só pelas “oportunidades”, mas também pelas “ameaças”.

Neste agosto de 2007, passamos por uma crise financeira internacional, onde especialistas ainda explicam seus efeitos para a economia e os negócios brasileiros.

Em matéria especial, a revista Exame, 29 de agosto de 2007, resume que é “o fim do dinheiro fácil”, ou seja, esse é o efeito real e imediato da mais séria crise financeira dos últimos anos, e isso não é necessariamente ruim.

E dentro deste contexto, afinal o que aconteceu é bom ou ruim?
A revista The Economist (Valor 27 de agosto de 2007), pergunta: “Será que uma recessão não faria bem aos EUA”.

A matéria começa citando Rudi Dornbusch, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT que disse “nenhum dos períodos de crescimento no pós-guerra morreu de velhice. Foram, todos, assassinados pelo Fed”.

A discussão passa pela missão do Fed, que não é evitar que as recessões aconteçam.

Os maiores bancos centrais do mundo, utilizam seus recursos para prestar socorro aos mercados financeiros. Em seis ocasiões, entre os anos 90 e 2000, muitos bilhões de dólares, foram gastos para estancar as crises.

Com o a crise mexicana de 1994, 47 bilhões. Em 2007, a chamada crise do subprime, ou seja, a crise no setor imobiliário americano colocou os mercados em pânico. Com isso, os bancos centrais dos Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália entraram em ação, com 420 bilhões, até 21 de agosto, segundo o Fundo Monetário Internacional.

A importância da informação

Na revista Exame acima citada, o octogenário Peter Bernstein, maior filósofo mundial do risco, é entrevistado.

Sobre as lições que esta crise nos oferece, ressalta “a maioria das crises financeiras – ou talvez todas elas – desenvolveu-se a partir de uma situação em que 99% das pessoas não tinham informação. É aí que fica perigoso – quando ninguém desconfia de que algo pode estar errado. Precisamos prestar atenção nos sinais da economia e julgar isso. Na crise atual, correr grandes riscos virou quase motivo de orgulho. Investir em empréstimos subprime não é diversificar riscos. É ter milhares de créditos podres. Mas havia a sensação de que as inovações do sistema financeiro resolveriam todos os problemas. Não vamos ter outra crise dessas por algum tempo, porque a lição será aprendida. Mas pode levar tempo para o sistema se regenerar.”

As inovações do sistema financeiro, foi destaque no Valor - 28 de agosto de 2007, na análise do ex-secretário da Fazenda, professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas – FGV/EESP, Yoshiaki Nakano.

Prof. Nakano afirma que nos últimos vinte anos, o setor financeiro foi certamente o que teve maior avanço: multiplicação de inovações, grande desenvolvimento do tamanho do seu mercado, avanço tecnológico e integração global.

Por sua vez, comenta que da mesma forma, nunca na história tivemos uma sucessão tão grande de crises financeiras como neste período. A cada três anos elas vêm ocorrendo.

Sua avaliação é que ainda não podemos prever a intensidade e duração da atual crise.

Para a economista Maria da Conceição Tavares, Valor - 29 de agosto de 2007, “o Brasil está protegido contra uma turbulência forte e mesmo uma recessão dos Estados Unidos, devido ao que denominou – lado bom do conservadorismo do Banco Central.

Outros analistas são unânimes em afirmar que a crise de crédito imobiliário de alto risco (subprime) nos Estados Unidos está longe do fim, (DCI 25, 26 e 27 de agosto de 2007), ainda que, concordem que o problema permanece localizado no mercado financeiro.

O professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura, Planejamento e deputado federal, Antonio Delfim Netto, escreve no Valor, 28 de agosto de 2007, que a crise dos subprimes é um fenômeno largamente conhecido, que se repete irregularmente.

O professor Delfim Netto, lembra que a expectativa de altos ganhos para os agentes e de polpudos lucros para os intermediários financeiros reforçam-se mutuamente. Todos vão à felicidade geral. Enriquecem uns e outros, apenas porque têm a expectativa de que vão enriquecer.

Ainda lembra professor Delfim, que a crise atual é apenas mais uma repetição da “irracionalidade imanente” dos mercados não regulados que lotam o cemitério da história econômica desde o século XVII, quando se registrou a famosa bolha denominada “febre das tulipas”, ou do século XX com a “nova economia”.

Que ninguém se iluda, os subprimes são apenas um dos problemas do mundo imobiliário americano, afirma Delfim Netto. Os bancos vão salvar-se, mas seus administradores não. Os bônus distribuídos e embolsados pelos fundos estão seguros e não serão devolvidos. Quem vai perder, na opinião de Delfim Netto, são os aplicadores nos fundos.

Ou seja, daqui para a frente, os riscos serão melhor avaliados e o crédito mais cuidadoso.

Mas, os grandes bancos dizem que é cedo para saber se países escaparão ilesos (Valor 28 de agosto de 2007).

Os países emergentes estão em posição muito melhor do que no passado para enfrentar este teste, disse Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais – IIF.

Então, enquanto analistas discutem a profundidade da crise, a vida nas empresas precisa continuar.

Talvez seja melhor escutar com atenção o primeiro trecho da música Engenho de Dentro de Jorge Bem Jor:

“Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém.
Cuidado pra não cair da bicicleta, cuidado pra não esquecer o guarda chuva”.
Autor: Alfredo Passos


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